“Ninguém se engana, ninguém se engana. A nossa história já começou desumana”. Assim cantam em suas aldeias as comunidades indígenas, que sofrem com os ataques e invasões de homens que não respeitam suas histórias e seus espaços. Leia MaisReligiosas inauguram centro de formação para mulheres indígenas Santuário recebeu indígenas Tapuias no último domingoRelatório Anual de Violência contra os Povos Indígenas é lançado
O presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi, que trabalha em missões com os povos indígenas e faz parte do grupo de bispos e sacerdotes que reforçam o compromisso da Igreja católica de lutar por direitos dos índios, afirma que esta canção explica a realidade desses povos.
“Sim, ela começou desumana, porque aqui chegaram os invasores, ignoraram tudo aquilo que aqui havia, as línguas, os costumes, as espiritualidades e as tradições”.
Dom Roque está sempre ativo à frente da defesa dos índios e das ações de missão e vocação nessas comunidades. Em entrevista ao Portal A12, ele falou que “ficar do lado dos povos indígenas e dos pobres é questão do Evangelho, não é questão de viés ideológico. Pois ali está o Cristo sofredor que nos questiona, nos interpela”.
O Cristão deve seguir a Cristo, ser o mais próximo do que Ele foi, olhar para os irmãos de forma igual, sem diferenciar, sem se colocar acima do outro. O arcebispo convida a sociedade para conhecer mais a fundo a história do país:
“Eu convido os cristãos e pessoas de boa vontade para que possamos conhecer melhor essa história do Brasil, de um país que sempre fez de tudo para excluir os povos indígenas e os afros, que foram trazidos a ferro e fogo.
Nós somos um país do preconceito e discriminação, onde nos colocamos acima de tudo e de todos. Esquecemos que os povos indígenas, que os povos com raízes africanas foram criados também, igual a cada um de nós, como imagem e semelhança de Deus”.
Ele ainda questiona a diminuição no número de comunidades e povos indígenas, alegando que essa diminuição não é algo natural ou algo que foi feito por eles, mas sim um reflexo do nosso comportamento como sociedade e da falta de políticas que protegem e garantem direitos a esses povos.
“Por que desapareceram tantos povos indígenas do Brasil? Foi vontade deles? Ou foi nossa ambição de ocupar todas as terras, desmanchar as pontes e a beira das rodovias, deixando que eles vivessem em acampamentos desumanos, sendo atacados e agredidos como diariamente nós acompanhamos? Criamos leis, nos apoderamos de suas terras e depois impedimos que eles vivam”.
E por falar em leis, se analisarmos algumas políticas que envolvem o cuidado e a proteção dos povos e das terras indígenas, o país dá um passo à frente e volta dois. É preciso que, além de leis, existam fiscalizações e conscientização de toda a sociedade.
O Brasil está passando pelo processo de transição de governo que é quando um candidato eleito inicia o estudo e a preparação para assumir o comando no ano seguinte. Neste momento, são criados grupos que analisam cada área a ser trabalhada e emitem um relatório.
E esse é um momento onde os grupos devem buscar direitos, revisões e indicar caminhos para solucionar problemas. O grupo de trabalho para políticas voltadas aos povos originários realizou denúncias de descaso do governo com os povos e apontou áreas que podem ser demarcadas.
O grupo de trabalho da transição de governo entregou um relatório pedindo demarcação de 13 terras indígenas no país. Estas são áreas que já estão prontas para homologação.
De acordo com o advogado Luiz Eloy Terena, da Articulação dos Povos Indígenas (Apib), essas áreas ficam nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Eloy ainda afirmou que “pelo menos 63% dos procedimentos estão totalmente paralisados”.
Outro pedido realizado no documento foi o cerco ao garimpo ilegal, principalmente na Amazônia. O grupo ainda apresentou normas para serem revogadas a fim de coibir o garimpo ilegal e outras ameaças aos povos indígenas.
Vale lembrar que a decisão de atender ou não os pedidos caberá ao governo eleito, que tomará posse em 1º de janeiro.
- Aldeia Velha (pataxós), Porto Seguro (BA), com 1.997 hectares
- Kariri-Xocó, em São Brás, Porto Real do Colégio (AL), 4.694 hectares
- Potiguara de Monte-Mor (indígenas potiguaras), em Marcação, Rio Tinto (PB), com 7.530 hectares
- Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios (AL), com 7.020 hectares
- Tremembé da Barra do Mundaú (indígenas tremembés), em Itapipoca (CE), com 3.511 hectares
- Morro dos Cavalos (indígenas guaranis), em Palhoça (SC), com 1.983 hectares
- Rio dos Índios (kaingang), em Vicente Dutra (RS), com 711.701 hectares
- Toldo Imbu (kaingang), em Abelardo Luz (SC), com 1.960 hectares
- Cacique Fontoura (karajá) em Luciara, São Félix do Araguaia (MT), com 32.304 hectares
- Arara do Rio Amônia (indígenas araras), em Marechal Thaumaturgo (AC), com 20.534 hectares
- Rio Gregório (indígenas katukinas), em Tarauacá (AC), com 187.120 hectares
- Uneiuxi (indígenas makus e tukanos), em Santa Isabel do Rio Negro (AM), com 551.983 hectares
- Acapuri de Cima (indígenas kokamas), em Fonte Boa (AM), com 18.393 hectares
Total: 1.550.736 hectares
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