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Igreja alerta sobre perigos dos jogos de azar

A CNBB reitera sua posição contra a legalização dos jogos de azar, destacando o risco à moral, à família e a ligação com crimes financeiros

Escrito por Redação A12

16 SET 2024 - 12H05 (Atualizada em 16 SET 2024 - 15H03)

Shutterstock / New Africa

Os jogos de azar voltam a ser discutidos na sociedade com a possibilidade de o Projeto de Lei 442/1991 ser votado no Senado Federal. Esse projeto prevê a legalização de cassinos, bingos, jogo do bicho e apostas esportivas, o que preocupa a Igreja Católica, que há mais de 40 anos alerta sobre os riscos morais, sociais e familiares dessa prática, além do perigo de ligação com a lavagem de dinheiro e o crime organizado.

Dados divulgados pela CNBB mostram como os jogos de azar e as apostas on-line já afetam a sociedade brasileira. Segundo o Departamento de Psiquiatria da USP, cerca de 2 milhões de brasileiros são viciados em jogos de azar. Em 2023, o Banco Central registrou que R$ 54 bilhões foram gastos em apostas on-line. Além disso, uma pesquisa do Instituto Locomotiva revelou que 86% dos apostadores têm dívidas.

O vício em jogos de azar pode se transformar em uma doença chamada jogo compulsivo, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde. Um exemplo é o caso de Janete Gonçalves Mendes, que perdeu tudo devido ao vício, mas conseguiu reconstruir sua vida com a ajuda da Fazenda da Esperança.

O jogo vicia muito mais rápido do que qualquer droga química. Eu me viciei em cassino clandestino, é um vício silencioso que te leva exatamente tudo. Eu perdi tudo, saí sem nada, com dívidas enormes, mais de R$300 mil, sem ter esse dinheiro” Janete Gonçalves Mendes

Diante disso, a Pastoral da Sobriedade oferece o Programa de Vida Nova: “Nós da Pastoral da Sobriedade estendemos as nossas mãos, abrimos os nossos braços para acolher aqueles que querem uma vida nova, uma transformação em sua vida”.

Edson Ribeiro, que atua como agente da Pastoral da Sobriedade, destacou que a compulsão por jogos é "um problema muito sério para muitas famílias, já que pode criar uma dependência tão forte que as pessoas acabam acreditando que só podem ser felizes jogando.

“Pessoas que criam a dependência nos jogos acabam por prejudicar não somente a sua vida, como também a vida de seus familiares. Deixam de levar o sustento para casa, gastando todo o seu dinheiro com os jogos; ficam se endividando, trazendo risco para sua vida e para a vida dos seusEdson Ribeiro

Ao longo da história, a Igreja sempre se posicionou contra os jogos de azar. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) defende essa posição com base no Catecismo da Igreja Católica, que ensina que os jogos de azar são errados quando causam dependência ou tiram de alguém o sustento necessário para sua família. Por isso, a CNBB tem alertado para os prejuízos morais, sociais e familiares que essa prática traz.

Já se passaram mais de 40 anos desde que a CNBB começou a se manifestar sobre o assunto, mas suas preocupações continuam muito atuais. Em 1981, Dom Ivo Lorsheider, que era o secretário-geral da CNBB na época, levou ao Ministério da Justiça a necessidade de agir para “moralizar” os jogos e evitar medidas que incentivassem a prática no Brasil.

Shutterstock / Andrew Angelov
Shutterstock / Andrew Angelov

Dez anos depois, quando o Congresso Nacional começou a debater a reabertura dos cassinos, Dom Antonio de Miranda, bispo de Taubaté (SP), escreveu um artigo demonstrando sua tristeza com o “estado de decadência moral” do país. Ele disse que acreditar que os jogos de azar poderiam tirar o Brasil da crise econômica era um grande erro, pois o que o povo brasileiro realmente precisa é de estímulo para o trabalho produtivo, e não para a jogatina.

Em 1994, Dom Luciano Mendes de Almeida, então presidente da CNBB, participou de um importante simpósio sobre os jogos no Brasil. Lá, ele reforçou o porquê de a Igreja ser contra os cassinos. Ao ser questionado sobre a criação de empregos por meio dessa indústria, ele respondeu que não basta criar oportunidades de trabalho; é preciso garantir que esses empregos não tragam riscos morais para a sociedade.

Os jogos de azar apresentam a ilusão de um ganho fácil, desfazendo o apreço ao trabalho honesto e sério. Resulta daí uma confusão na ordem de valores, lesando o horizonte de ideais da juventude e acarretando a ambição e a vontade de acumular riquezas em benefício próprio e exclusivo. Cresce, aos poucos, a atração descontrolada pelo lucro exorbitante, a vida fácil e até a corrupçãoDom Luciano

Numa nota da Presidência e da Comissão Episcopal de Pastoral de 30 de maio de 1996, a CNBB reafirmou valores morais e destacou os males dos jogos de azar:

– o ambiente envenenado dos cassinos, marcado pela bebida, a prostituição, o uso e o tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro;

– a busca do ganho fácil, em lugar do trabalho honesto, como ideal de adultos e jovens;

– o desespero que toma conta de jogadores arruinados, com a consequência de distúrbios psiquícos e tentativas de suicídios;

– a dependência, verdadeira escravidão, do vício do jogo, não diferente de todos os outros vícios;

– a tentativa de ganhar hoje o que se perdeu ontem, no jogo, com o possível perigo de perder ainda mais;

– a ruptura da harmonia familiar, o medo e a insegurança que se instalam nos lares;

– a deseducação dos filhos por causa da ausência dos pais jogadores.

Naquela época, os bispos pediram que o governo concentrasse seus esforços em áreas como educação, saúde, moradia, trabalho com salários justos e segurança pública, em vez de liberar os jogos de azar. Eles acreditavam que esses são os verdadeiros pilares de uma cidadania digna.

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Em 2009, a CNBB se manifestou sobre os bingos eletrônicos, alertando que legalizar essa prática traria de volta problemas que já haviam sido superados. Para eles, isso colocaria em risco a segurança e o bem-estar das famílias, além de explorar e viciar muitas pessoas. 

Em 2022, quando o Projeto de Lei 442/91 começou a tramitar com urgência no Congresso, a CNBB publicou uma nota criticando essa decisão. Eles alertaram que os jogos de azar podem estar ligados à lavagem de dinheiro e ao crime organizado. A nota também lembrava que o jogo de azar causa grandes prejuízos morais, sociais e, especialmente, familiares.

Para os parlamentares, a CNBB deixou claro que votar a favor dos jogos de azar seria, na prática, um desprezo pela vida, pela família e pelos valores fundamentais que a sustentam.

A CNBB tem destacado dois pontos importantes em suas reflexões sobre os jogos de azar. O primeiro é sobre a ideia errada de que legalizar os jogos aumentaria a arrecadação de impostos, criaria empregos e ajudaria o Brasil a sair da crise econômica – um argumento que já foi levantado há 40 anos. Para a Igreja, essa justificativa ignora o risco de os jogos estarem ligados à lavagem de dinheiro e ao crime organizado, além de seguir a lógica de que “os fins justificam os meios”, algo que a Igreja rejeita.

O segundo ponto envolve os danos morais, sociais e familiares causados pelos jogos de azar, que podem se tornar uma compulsão, reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde. A CNBB alerta que o sistema dos jogos de azar, que gera muito lucro, acaba sendo mais cruel justamente para as pessoas que sofrem com esse vício.

Fonte: CNBB

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