Leia MaisRepresentantes da CNBB participam de reunião da frente parlamentar de combate à fome Assista novamente ao "Desafios da Igreja - A fome dos invisíveis"A Campanha da Fraternidade traz o tema da Fome como foco em 2023, e a escolha não foi em vão. De 2020 para 2022, o número de brasileiros que convivem com a fome quase duplicou, indo de 19,1 milhões para 33,1 milhões, de acordo com pesquisa divulgada pela Rede PENSSAN.
“É vocação, graça e missão da Igreja responder ao chamado e cumprir a ordem de Jesus, afirmamos no contexto do 3º Ano Vocacional que viveremos a partir de novembro deste ano. A fome é um instinto natural de sobrevivência presente em todos os seres vivos. Contudo, na sociedade humana, a fome é uma tragédia, um escândalo, é a negação da própria existência” – CNBB ao tratar sobre a Campanha da Fraternidade 2023.
A pandemia da Covid-19 foi fator primordial para o agravamento da insegurança alimentar no Brasil. Entretanto, existem outros fatores que sempre influenciaram na escassez dietética do país, que não é recente.
Fabíola Figueiredo Nejar, doutora e mestre em Saúde Coletiva, com experiência na área de Nutrição - ênfase em Análise Nutricional de População e, atualmente, professora da Universidade de Taubaté, explica sobre os demais agentes que contribuem para a crescente no número de pessoas que enfrentam a fome no Brasil, como a má elaboração de políticas públicas.
"Um dos fatores, que a gente não pode deixar de falar, são as questões de políticas públicas que implicam diretamente no acesso ao alimento. As políticas públicas precisam ser pensadas no atendimento a essa necessidade básica, uma questão da dignidade humana, que é ter alimento na quantidade e qualidade certa para a nutrição das pessoas. Essas esferas políticas, econômicas e sociais implicam na questão biológica da escassez dietética.", esclarece a professora.
O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (Rede PENSSAN), constatou que apenas 4 entre 10 famílias tem o acesso ideal à alimentação.
A insegurança alimentar, termo citado acima, ocorre quando uma pessoa não tem acesso a alimentos em seu dia a dia e de forma permanente. Ela se classifica em 3 níveis:
Leve: quando há preocupação em relação a comida no futuro e/ou quando a alimentação tem sua qualidade comprometida.
Moderada: quando não há quantidade suficiente de alimento para sustentar uma pessoa ou o domicílio.
Grave: situação de fome e corte no consumo de alimentos.
De acordo com o Inquérito, algumas questões sociais, como raça, gênero e região contribuem para a insegurança alimentar.
Alguns exemplos são: Norte e Nordeste são as regiões que mais apresentam famílias com insegurança alimentar grave; domicílios dos agricultores rurais são um dos mais atingidos no quesito fome, bem como lares comandados por pessoas negras e/ou mulheres.
Fabíola compartilha a necessidade da população tomar atitudes perante situação, que é tão séria e anormal.
"Parece-me que falar de fome ainda é assunto proibido, um tabu. Todos nós sabemos que é inadmissível imaginar que uma pessoa não está sendo atendida nas suas questões primarias. Entendo que a sociedade pode, deve e precisa urgentemente contribuir para reverter esse quadro de insegurança tão dramático.", aborda a doutora.
O Padre Ferdinando Mancílio, C.Ss.R., Missionário Redentorista, compartilha do mesmo sentimento de necessidade de Fabíola.
“Ou o país aprende a partilhar ou não somos de verdade um país, não somos cidadãos e o bem comum da pátria não está sendo respeitado”, comenta o Padre sobre a fome estar presente em todo mundo e ser uma realidade gritante também no país.
O Missionário Redentorista também fala sobre a relevância da Campanha da Fraternidade e do olhar do cristão para tal condição.
“Como cristãos, ou aprendemos a partilhar, para sermos cristãos de verdade, ou queremos viver uma fé descomprometida com a verdade, com a realidade que está diante de nós. Portanto, Campanha da Fraternidade é profecia que vem nos incomodar e vem desacomodar também a nossa consciência. Temos de escolher entre a palavra de Jesus e nosso querer e nosso sentimento”, orienta Padre Ferdinando.
Ouça a reflexão do Pe. Ferdinando Mancílio na íntegra
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