Opinião

Ativismo ou vandalismo? A manifestação e os gestos de jesus

Fr. Rafael Peres Nunes de Lima C.Ss.R.

Escrito por Fr. Rafael Peres Nunes de Lima, C.Ss.R.

15 JAN 2025 - 10H21 (Atualizada em 15 JAN 2025 - 12H08)

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Qual é o sentido do conceito de ativismo? Segundo a filosofia, o ativismo é uma doutrina argumentativa que busca mudar uma determinada realidade. A partir deste sentido, vemos diversos movimentos ativistas que lutam pelas causas ambientais, culturais, sociais, políticas, etc.

Já o vandalismo é a ação de “vândalos”, que depredam, causam a ruína, devastação e destruição de um determinado local, cidade, civilização, como, por exemplo, o vandalismo que foi uma das causas da queda do Império Romano Ocidental em 476 d.C.

Mas o que ambos os conceitos têm a ver hoje? Se formos olhar de modo superficial, nada. Mas, de modo aprofundado, perceberemos nos noticiários que as ações de ativistas em geral não são para mudar a sociedade ou a realidade, mas um vandalismo que depreda o patrimônio cultural.

A linha tênue que há entre manifestação e depredação está no fato de que aqueles que se manifestam e buscam realmente uma mudança na realidade social conhecem a história (em partes), sabem do valor cultural dos bens que existem (obras de arte, estátuas, túmulos, monumentos, etc.) e não destroem, mas buscam manifestar-se e mostrar à sociedade suas causas. Ao contrário do que vemos hoje com os ditos “ativistas”.

clicksdemexico/ shutterstock.
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O próprio Jesus, nos Evangelhos, em muitos momentos nós o vimos manifestando-se contra a realidade, tanto religiosa quanto política que excluía os pobres da terra, os anawim, em hebraico.

Claro que não podemos igualar Jesus com os manifestantes de hoje, mas olhando o exemplo de Jesus, que buscou por meio do apontamento das irregularidades, das exclusões, dos abusos feitos pelos líderes do povo, sem utilização da violência, mostra-nos um caminho de manifestação sem o uso violento da força.

Interromper a fala de uma autoridade, pichar o túmulo de grandes nomes das ciências, jogar tinta ou alimentos podres em grandes obras de arte, depredar o patrimônio público, querer usurpar imagens religiosas, tudo isso em nome de um suposto desejo de mudança da realidade, na verdade, retrata a decadência da moralidade e o retorno de certas pessoas à barbaridade dos primeiros séculos. Não há real desejo de mudança, mas um desprezável desejo de chamar a atenção para si mesmo, com a máscara de ativismo.

Manifestar-se é um direito do ser humano, garantido por lei e pelos direitos humanos. A própria manifestação foi um gesto de Jesus. Mas, a partir do momento que a manifestação torna-se depredação e usurpação, torna-se crime, e este deve ser punido com o rigor da lei.

Creio que ser um ativista, hoje, é buscar meios cabíveis para manifestar-se e mostrar à sociedade os males causados por iniciativas humanas que vão contra a vida.

Manifestar-se é mostrar ao outro um modo de vida e um modo de mudar a realidade que não passe pela violência, mas por meio de exemplos pacíficos e contundentes. Somente assim, quando formos capazes de mudar a realidade, é que estaremos construindo o Reino de Deus.

Escrito por:
Fr. Rafael Peres Nunes de Lima C.Ss.R.
Fr. Rafael Peres Nunes de Lima, C.Ss.R.

Missionário Redentorista, Bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e estudante de Teologia no Instituto São Paulo de Estudos Superiores – ITESP.

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Por Redação A12, em Opinião

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