Rodas de conversa em lugares públicos, brincadeiras na rua, passeios no parque, visita a bibliotecas... essas e outras atividades vêm, cada vez mais, sendo substituídas por infinitas horas de navegação na internet. A troca de espaços concretos pelo virtual é um hábito adotado, especialmente, pelos mais jovens.
É óbvio que a tecnologia trouxe uma série de benefícios incomensuráveis para a população, mas é preciso ter cautela quanto ao seu uso, para que ele não se torne viciante.
Segundo a pesquisa Juventudes e Conexões, da Fundação Telefônica Vivo, que ouviu 1400 jovens brasileiros, entre 15 e 29 anos, 55% dos entrevistados consideram a internet um auxílio para os estudos e 49% acreditam que ela possibilita um aprendizado exclusivo.
Além disso, 70% responderam que ela estimula a colaboração entre empreendedores e 43% disseram que ela amplia a possibilidade de negócios. Ou seja, são números que trazem uma perspectiva positiva sobre os benefícios da tecnologia, na visão dos entrevistados.
Todavia, eles também apontaram alguns aspectos preocupantes, especialmente em relação ao comportamento. Para a maioria (60%), a rede virtual é responsável por ampliar o isolamento e 54% dizem se sentir inseguros com ela.
É fato que a popularização dos smartphones aumentou, consideravelmente, o tempo que permanecemos conectados e, com isso, é quase uma tarefa impossível andar pelas ruas e não encontrar alguém deslizando o dedo pela tela do celular.
A questão é que esse uso incessante vem substituindo as conversas presenciais pelas virtuais de uma forma completamente distinta, já que a infinidade de contatos em nossas redes sociais impossibilita um diálogo profundo com cada um dos nossos “amigos” virtuais.
Leia MaisO viciante mundo das 'selfies'Por isso, a ampliação dos contatos virtuais ocorre proporcionalmente ao aumento da superficialidade das conversas, o que pode gerar bolhas de isolamento, já que, no meio digital, não expomos nosso verdadeiro “eu”.
Um bombardeamento imagético de pessoas felizes e bem-sucedidas domina as redes sociais, fomentando o culto a uma felicidade construída que vicia internautas a postarem cada vez mais, num desejo incessante de curtidas e comentários, mesclado a um sentimento de solidão.
O recurso de rolagem infinita inventado pelo programador norte-americano Aza Raskin, que trata do conteúdo infinito a que temos acesso conforme descemos a tela do celular, é um dos responsáveis por viciar internautas afinal, somos seres imagéticos e necessitamos consumir imagens 24 horas por dia.
Mas há outros recursos e estratégias usadas pelas gigantes de tecnologia para tal envolvimento, como a explosão instantânea de conteúdo, que impede o processamento de tantas informações pelo cérebro, e as notificações sonoras, que, muitas vezes, não trazem nada de significativo, mas geram ansiedade somente pelo fato de alertar sobre algo novo, entre muitos outros.
Em meio a tudo isso, as gerações mais novas acabam sendo as mais afetadas pelos efeitos negativos deste uso frenético das tecnologias, pois, a instantaneidade das respostas geradas nas redes sociais dificulta os mais jovens a lidarem com as frustrações da vida, uma vez que o ambiente digital lhes proporciona a falsa sensação de alcançarem o que desejam com base nas próprias escolhas das opções apresentadas – esquecendo-se que estas já foram pré-definidas – algo que acaba por distanciar essa geração do mundo real.
E basta um clique para que forneçam todas as suas informações pessoais necessárias para que as empresas lhes apresentem aquilo que desejam, dando-lhes a ilusão de que são realmente compreendidos por elas.
Isolados em bolhas digitais, muitos são acometidos pela solidão da qual não conseguem mais se livrar, por estarem viciados nas redes e na sua construção imagética, pois tudo gira em torno desta, como afirmou ao Portal UOL, Milene Soares Cara, coordenadora da Pós-Graduação em Arquitetura Comercial do Senac São Paulo:
"A imagem digital pauta o espaço físico. É uma geração que se relaciona muito pelo que é percebido do ponto de vista da imagem".
Segundo dados da empresa sueca Ericsson, atualmente, quatro bilhões de pessoas no mundo possuem um smartphone e, de acordo com outra pesquisa da consultoria inglesa Tecmark, 221 é o número de vezes que as pessoas mexem no celular por dia.
Achou muito? Que tal, então, começarmos a repensar nossos hábitos e de nossos familiares, a fim de rompermos as bolhas digitais e vivenciarmos mais encontros presenciais que nos proporcionem uma felicidade verdadeira? Pense a respeito!
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