Em tempos de pandemia da COVID-19 e do consequente aumento das atividades virtuais, fruto do isolamento social, parece que nunca estivemos tão acompanhados e sozinhos simultaneamente. E mesmo no momento atual, em que nossa rotina de tarefas presenciais parece retornar de maneira gradativa, é inegável a transformação que as plataformas virtuais ocasionaram em nossas vidas ao se transformarem em nossa casa, sala de aula, escritório, espaço de lazer e muito mais. Assim, aumentamos, exponencialmente, nosso tempo de exposição nas redes sociais e nos tornamos muito mais dependentes delas.
Leia MaisConectados e solitários Se, antes da pandemia, diversos internautas já se aprisionavam em bolhas virtuais formadas, muitas vezes, por fake news, e viam apenas aquilo em que acreditavam, independentemente de ser real ou não; neste cenário atual, esse aprisionamento tende a se agravar com o aumento da presença no ambiente digital.
Se os recursos já existentes nas redes sociais, como o uso de algoritmos, rolagem infinita de postagens, personalização de anúncios e seleção de postagens no feed a partir das escolhas dos internautas já contribuem para que muitos se insiram em mundos paralelos, sem conseguir distingui-los da realidade, o que dizer então das novidades que estão por vir?
No último dia 28 de outubro, por exemplo, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, anunciou a mudança de nome da empresa para Meta. Desde então, quem acessa Facebook, Instagram e WhatsApp já visualiza o novo nome nas plataformas.
Mas, trata-se de uma alteração que vai muito além de uma simples atualização. De acordo com Zuckerberg, o objetivo da mudança é definir uma nova etapa da empresa, cujo intuito é apresentar um metaverso – termo utilizado pela primeira vez em 1992, pelo escritor norte-americano Neal Stephenson, para se referir a um espaço virtual coletivo compatível e convergente com a realidade. Para isso, seriam utilizadas tecnologias como a realidade virtual aumentada, entre outras.
Enquanto a realidade virtual é responsável pela indução de efeitos sonoros, visuais e táteis em um ambiente digital, a realidade aumentada insere elementos virtuais em um espaço real. As duas tecnologias já existem e são utilizadas em campanhas de marketing, games, reuniões de trabalho, aulas e muito mais. No entanto, seu uso ainda é restrito e o propósito de Zuckerberg é, justamente, massificá-lo, para que muito mais internautas possam vivenciar essa experiência imersiva.
Ainda não sabemos ao certo como isso acontecerá, mas a questão é como essa nova imersão tecnológica poderá afetar a vida de muitas pessoas. Se hoje, apenas com o impacto visual proporcionado pelo excesso imagético virtual, vários usuários de redes sociais são condicionados a acreditar apenas naquilo que lhe convém – transformando mentira em realidade, muitas vezes –, o que dizer quando as redes sociais passarem a utilizar tecnologias que estimulem vários sentidos ao mesmo tempo?
Obviamente, não podemos negar os inúmeros benefícios trazidos pelos avanços tecnológicos e por experiências imersivas como essas, que podem, em diversas ocasiões, otimizar nosso tempo, aprimorar a experiência com o universo virtual ao aproximá-lo da realidade, conectar pessoas do mundo todo de maneira simultânea, entre vários outros aspectos. A questão é sobre o uso que se faz das mídias digitais, pois não basta ter um gigantesco acervo informacional digital, se não soubermos utilizá-lo. É preciso pesquisar, analisar todas as versões de uma história, ser protagonista virtual.
Muitas vezes, trata-se de tarefas desafiadoras. Em outubro deste ano de 2021, uma ex-funcionária do Facebook chamada Frances Haugen revelou em um programa jornalístico do canal CBS, que teria sido ela a responsável por vazar informações importantes sobre a empresa, as quais foram publicadas no The Wall Street Journal. As informações ressaltavam que a empresa admitia, em documentos internos, fatores como o quão tóxico o Instagram pode ser para muitos adolescentes.
Leia MaisRedes sociais: ameaça para a humanidade? A constatação faz parte de uma pesquisa realizada durante três anos pela própria empresa. Um dos relatórios verificava que 32% das garotas entrevistadas que diziam se sentir mal com seu próprio corpo, se sentiam muito pior ao acessar o Instagram, dados que foram omitidos pela Meta.
Outra questão levantada pela ex-funcionária é que o algoritmo das redes sociais acaba favorecendo postagens de ódio por serem mais atraentes e, assim, gerarem mais interação dos usuários, que permanecerão mais tempo nas redes.
Enfim, como já ressaltado, se com a indução visual já é possível transformar mentiras em realidade e criar mundos paralelos totalmente dissociados do universo real, que possamos nos preparar para o momento em que todos os nossos sentidos forem aguçados simultaneamente.
Será possível separar ficção de realidade? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
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