Leia MaisA família nos planos de DeusMetaverso: será possível distinguir ficção de realidade?Cringes com orgulhoNós estamos muito próximos de celebrar o aniversário de Jesus e, certamente, este Natal de 2021 será um marco para muitas famílias que voltarão a se reunir neste período, após um conturbado tempo de isolamento social, em razão da pandemia da COVID-19. No entanto, depois de tanto tempo separados, estaremos mais unidos ou distantes uns dos outros? Para muitos a resposta é óbvia, a saudade do contato físico e do carinho daqueles que amamos é motivo suficiente para fortalecermos nossa união. No entanto, há muitos outros aspectos a considerar.
Os anos de 2020 e 2021 foram marcados pelo aumento intenso do uso de celulares, computadores e tablets. Várias pessoas que usavam tais dispositivos apenas para entretenimento, com a necessidade de isolamento, passaram a usá-los para o trabalho, formação escolar e muito mais. Com isso, muitos acabaram permanecendo mais tempo também nas redes sociais e videogames, por exemplo. Mas, mesmo num cenário pré-pandemia, o mundo já apresentava uma situação preocupante quanto ao uso exagerado dos aparelhos eletrônicos, especialmente em relação às crianças e aos jovens.
Com olhos vidrados nas telas de dispositivos eletrônicos, diversos usuários foram diminuindo o contato presencial, seja para brincadeiras, encontro com amigos ou outra atividade qualquer que exija um tempo fora do ambiente virtual. Até mesmo os encontros presenciais, quando acontecem, foram afetados, já que muitos passaram a se reunir para um contato mais próximo, porém permaneceram conectados em suas telas. Afinal, a postagem da foto no bar ou restaurante tornou-se mais importante que o próprio momento registrado.
Assim, os tradicionais encontros natalinos também mudaram. A ceia de natal ganhou mais luz, mas não de forma positiva, já que passou a ser iluminada pelos aparelhos eletrônicos, cujos donos estão mais ansiosos por registrar o momento do que confraternizar com o próximo. As conversas se tornaram mais formais e monossilábicas diante das inúmeras opções digitais presentes nas telas. Inclusive, o meio digital se tornou um suporte de alívio para evitar assunto (ou a falta dele) com aqueles parentes de quem não somos muito próximos.
E agora? Neste momento pós-pandemia? Nós estaremos mais desejosos do contato físico ou sentiremos dificuldades de nos desprender de nossas bolhas individualistas da tecnologia? De acordo com cálculos da Organização Mundial da Saúde (OMS), 468 milhões de pessoas no mundo sofrem de dependência tecnológica, problema que a OMS já considera um transtorno. É considerável que a pandemia da COVID-19 contribuiu para esse aumento, mas há tempos nossa rotina é alterada pelos aparatos tecnológicos.
Há anos, por exemplo, que nossa forma de consumir cultura mudou. Nós trocamos, muitas vezes, os encontros com amigos e familiares, para ir a um cinema ou teatro, pelas inúmeras opções de filmes e séries presentes nas plataformas de streaming. Além disso, as próprias plataformas são configuradas para oferecer a cada usuário sugestões de entretenimento de acordo com suas escolhas, como já ocorre nas redes sociais. Uma experiência mais individualista e agradável para muitos. Óbvio que os meios culturais tradicionais como cinema, teatro e museus continuam atraindo público, mas numa frequência menor. Consideremos também os custos mais elevados para essas opções em comparação com as plataformas de streaming e a otimização do tempo que elas nos proporcionam.
Agora, neste período pós-isolamento, muitos indivíduos que trocaram os escritórios e salas de aula pelos espaços digitais, assim permanecerão, pois se sentiram mais produtivos por estarem em seu ambiente domiciliar, livres do estresse ocasionado pelo trânsito do deslocamento até o trabalho ou curso, sem contar, muitas vezes, os conflitos com chefe, colegas de trabalho e/ou estudo.
Antônio Egídio Nardi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista para a revista Viva Saúde ressaltou o seguinte: “Dizem que a internet é a nova cocaína. Prefiro dizer que é uma nova forma de prazer artificial”. Prazer que pode contribuir para a dependência tecnológica. O problema não é utilizar a tecnologia para momentos de estudo, trabalho e lazer, mas usá-la de tal forma que se torne substituta de encontros e atividades presenciais. Assim, voltamos para a questão: será mesmo que este Natal será marcado pela intensidade dos abraços e beijos ou apenas cumprimentos formais apressados para voltarmos às nossas bolhas tecnológicas?
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