Foto de: reprodução
Em breve, o Papa João XXIII será canonizado pelo Papa Francisco. Os gestos de Francisco de alguma forma me fazem lembrar de João XXIII.
Uma das principais características era a sua bondade, que o fez merecer o tratamento carinhoso de “Papa Bom”.
Bondade e santidade estão estreitamente unidas. João XXIII seguiu em sua vida aquele chamado de Jesus: “aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. Ele prometeu aos mansos, os bons de coração, o Reino dos céus no seu discurso das Bem aventuranças (Cf. Mt 5, 1-12).
Sua bondade e fama de santidade eram tão grandes, que vários bispos do Concílio já haviam pedido imediatamente a sua canonização.
Portanto, João XXIII merece entrar para o rol dos santos. Sua bondade e fama de santidade eram tão grandes, que vários bispos do Concílio já haviam pedido imediatamente a sua canonização; e também é o motivo pelo qual o Papa Francisco tenha aprovado a sua canonização sem a necessidade de um milagre atribuído a ele, requisito comumente requerido neste processo, mas que o Papa tem a potestade de dispensar.
Gostaria de, junto com vocês, conhecer um pouco mais esse grande coração, a bondade do Papa João XXIII, para tentarmos entender porque o chamavam de “Papa Bom”.
Uma das primeiras coisas a termos em conta é o ambiente em que ele foi criado, onde essa bondade foi sendo forjada numa vida simples do campo. Ele era de uma família de camponeses, profundamente católica, humilde e muito numerosa: eram treze filhos. Era muito bom com seus irmãos, sendo como um pai para eles.
Desde novo tinha em seu coração um desejo: seguir de perto o Bom Pastor. Esse desejo amadureceu tão rápido que entrou aos 11 anos no Seminário de Bérgamo, bem antes de completar os 14 anos requeridos.
O que será que os responsáveis do seminário viram no pequeno Angelo que os fizeram abrir uma exceção? Certamente encontraram um menino muito bom, com um grande coração, e que, provavelmente, seria um grande homem. Só não sei se imaginavam quão longe esse menino poderia chegar...
E o que falar de sua bondade para com os nossos irmãos que sofrem? Conta-se que ele frequentemente, sem ser percebido, deixava o palácio do Vaticano para visitar os pobres de Roma. Com sua bondade e esperteza também conseguiu, na época em que era Delegado Apostólico na Turquia e Grécia, salvar muitos judeus de serem deportados pelos nazistas, com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Contribuiu também para que os prisioneiros de guerra tivessem um tratamento digno e respeitoso, na época em que foi Núncio Apostólico em Paris.
Era cordial, modesto e caridoso com todos, sem discriminação.
Sua bondade também era evidente no trato com as pessoas, desde as mais altas autoridades até os mais simples. Era cordial, modesto e caridoso com todos, sem discriminação. Lembremos que ele viveu em lugares onde davam muita importância à pompa, à etiqueta. Ele não dava importância a isso. Mas, astutamente, aproveitava os ambientes em que tinha acesso para conseguir ajuda para o máximo de pessoas que podia.
Sua simplicidade e bondade abriram caminhos antes inesperados. Um dos frutos importantes foi a aproximação da Santa Sé com a Igreja Oriental, boa parte graças aos inúmeros laços que criou com membros das Igrejas orientais. Também merece destaque seu contato com o grande rabino da Palestina, facilitando a comunicação com o Vaticano.
Como Núncio em Paris, conseguiu conquistar o coração dos franceses com sua bondade e amizade. Ajudou também a curar muitas feridas que foram abertas pela Segunda Guerra no povo francês com seu coração de pai e pastor.
Em Veneza, como patriarca, vivia uma vida modesta e recebia a todos. Costumava passear com seu secretario pelos canais de gôndola, típica barca veneziana, para conhecer a cidade, fazer amizade com os gondoleiros ou conversar com pessoas que encontrava nas ruas.
Nesta cidade, que durante séculos foi porta do Oriente, dedicava-se ao ecumenismo, especialmente com os irmãos ortodoxos, repetindo que "o caminho para a unidade das várias confissões cristãs é a caridade tão pouco observada de uma ou outra parte". Essa seria uma das principais marcas do seu pontificado: a unidade. Unidade que foi conquistada pela sua caridade, pela sua bondade com todos.
Conquistou a todos com sua mansidão, atenção, simplicidade e cordialidade. Um coração bom, como o do Bom Pastor.
Durante o seu Pontificado, que durou menos de cinco anos, poderíamos dizer que levou essa bondade à plenitude. Conquistou a todos com sua mansidão, atenção, simplicidade e cordialidade. Um coração bom, como o do Bom Pastor. Visitou os encarcerados e os doentes, recebeu homens de todas as nações e crenças e cultivou um extraordinário sentimento de paternidade para com todos.
O Beato João Paulo II, que providencialmente será canonizado com ele, falou sobre a sua bondade no dia de sua beatificação:
“Papa que conquistou o mundo pela afabilidade dos seus modos, dos quais transparecia a singular bondade de ânimo. [...] Do Papa João permanece na memória de todos a imagem de um rosto sorridente e de dois braços abertos num abraço ao mundo inteiro. Quantas pessoas foram conquistadas pela simplicidade do seu ânimo, conjugada com uma ampla experiência de homens e de coisas!”
Após conhecermos um pouco mais do coração desse grande pastor, onde vemos a sua bondade, podemos dizer que ele viveu em paz e a transmitia a todos os que estavam ao seu redor:
“Era um homem capaz de transmitir paz; uma paz natural, serena, cordial; uma paz que com sua eleição ao Pontificado se manifestou ao mundo inteiro e recebeu o nome da bondade. É tão belo encontrar um sacerdote, um padre bom, com bondade”, disse o Papa Francisco na Missa do 50º aniversário de falecimento do Beato João XXII, em junho de 2013. A busca pela paz seria também um dos seus principais legados.
Imitemos a sua bondade para assim vivermos em paz, buscando construir um mundo mais fraterno e reconciliado.
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