Como costuma fazer nas viagens apostólicas, o Papa Francisco falou com jornalistas no voo de retorno a Roma, após visitar a Bulgária e a Macedônia do Norte. O Vatican News publicou algumas perguntas feitas ao Santo Padre neste retorno.
Confira a íntegra abaixo:
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Leia MaisPapa explica quais as três dimensões do ecumenismo Seis vezes em que o Papa critica o ódio São duas nações totalmente diferentes. A Bulgária é uma nação com uma tradição de séculos. A Macedônia também tem uma tradição de séculos, mas não como país, como um povo. Ela conseguiu, recentemente, constituir-se como nação, uma boa luta.
Para nós cristãos, a Macedônia é um símbolo da entrada do cristianismo no Ocidente. O cristianismo entrou no Ocidente através de vocês; um macedônio chamou Paulo que, em vez disso, queria ir para a Ásia. O povo macedônio não perde a oportunidade de nos recordar que o cristianismo entrou pela porta de vocês, porque Paulo foi chamado por um macedônio.
A Bulgária teve que lutar tanto como nação! Em 1877, morreram 200 mil soldados russos, para reconquistar a independência da mão dos otomanos. Tantas lutas pela independência, tanto sangue, tanta mística para consolidar a identidade! Nos dois países existem comunidades cristãs ortodoxas, católicas e também muçulmanas. A porcentagem ortodoxa é muito forte em ambos. A muçulmana é menor. Os católicos são o mínimo (na Bulgária mais que na Macedônia).
Mas uma coisa eu vi em ambas as nações: há boas relações entre os diferentes credos. Na Bulgária nós vimos isso com a oração pela paz. Isso é normal para búlgaros: cada um tem o direito de expressar a própria religião e tem o direito de ser respeitado; isso me tocou muito. Depois, o colóquio com o patriarca Neofit me edificou tanto, é um homem de Deus! Na Macedônia, me tocou uma frase do presidente, que me chamou a atenção: "Aqui não há tolerância religiosa, há respeito". Respeita-se. E isso hoje, em um mundo em que falta respeito pelos direitos humanos, pelas crianças, pelos idosos, que a mística de um país seja o respeito, me fez bem.
Antes de tudo de tudo, gostaria de dizer a você que não vou a nenhuma feiticeira. Não sei, realmente. É um dom do Senhor. Quando estou em um país, esqueço de tudo, mas não porque eu queira. Vem-me de esquecer de mim e somente sei que estou ali. E depois, isso me dá perseverança. Eu, nas viagens, não me canso. Depois fico cansado, mas depois. Acredito que o Senhor me dá força. Peço ao Senhor para ser fiel, para servi-Lo, e que essas viagens não sejam para fazer turismo. E depois ... eu não trabalho muito!
No geral as relações são boas e há boa vontade. Eu posso, sinceramente, dizer a vocês que eu encontrei entre os patriarcas, homens de Deus. Neofit é um homem de Deus. E depois Elias II, eu o trago no coração, eu tenho uma preferência pelo patriarca da Geórgia; é um homem de Deus, que me faz muito bem. Bartolomeu é um homem de Deus, Kirill é um homem de Deus... Você poderia me dizer: esse tem esse defeito, aquele é muito político... Mas todos nós temos defeitos, também eu os tenho. Todos são homens de Deus.
Depois, há questões históricas de nossas Igrejas, algumas antigas: o presidente hoje me falava do cisma do Oriente, que começou aqui na Macedônia. Agora vem o Papa para consertar o cisma? Eu não sei. Somos irmãos, não podemos adorar a Santíssima Trindade sem as mãos unidas dos irmãos. Sobre a canonização de Stepinac: ele era um homem virtuoso, e é por isso que a Igreja o declarou Beato. Mas, em determinado momento do processo, houve pontos obscuros e eu, que tenho de assinar a canonização, rezando, refletindo e pedindo conselhos, vi que devia pedir ajuda ao patriarca sérvio Irinej e ele me ajudou. Fizemos uma comissão histórica juntos: tanto ele quanto a mim, a única coisa que importa é não cometer erros. Estamos interessados na verdade. Agora estão sendo estudados outros pontos, para que a verdade seja clara. Eu não tenho medo da verdade. Tenho medo somente do juízo de Deus.
Foi criada a Comissão, trabalhou-se por quase dois anos. Eram todos diferentes, todos pensavam diferente, mas trabalharam juntos e se colocaram de acordo até um certo ponto. Cada um deles, depois, tem a própria visão, que não concorda com a dos outros e ali pararam como Comissão.
Sobre o diaconato feminino: há uma maneira de concebê-lo, não com a mesma visão do diaconato masculino. Por exemplo, as fórmulas de ordenação diaconal encontradas até agora, não são as mesmas para a ordenação do diácono masculino, e se assemelham ao que seria hoje a bênção abacial de uma abadessa. Este é o resultado. Outros dizem que não, esta é uma fórmula diaconal ... Havia diaconisas no começo. Mas a delas era uma ordenação sacramental ou não? Elas ajudavam. Por exemplo, na liturgia dos batismos, que eram por imersão, quando uma mulher era batizada, as diaconisas ajudavam... Mais tarde, foi encontrado um documento onde se via que as diaconisas eram chamadas pelo bispo quando havia uma disputa matrimonial pela dissolução do matrimônio. As diaconisas eram enviadas para observar as contusões do corpo da mulher espancada pelo marido. Mas não há certeza de que a delas fosse uma ordenação com a mesma forma e com a mesma finalidade que a ordenação masculina. Alguns dizem: existe a dúvida.
Vamos continuar estudando. Mas até este momento, não se chegou a uma conclusão. Depois, é curioso que, onde havia diaconisas, era quase sempre uma área geográfica, especialmente a Síria... Todas essas coisas recebi da Comissão. Foi feito um bom trabalho, e isso pode servir para ir em frente e dar uma resposta definitiva, sobre “sim” ou sobre “não”.
Agora, ninguém diz isso, mas alguns teólogos, há 30 anos, diziam que não havia diaconisas, porque as mulheres estavam em segundo plano na Igreja, e não somente na Igreja. Mas é curioso: naquela época havia tantas sacerdotisas pagãs! O sacerdócio feminino nos cultos pagãos estava na ordem do dia. Estamos neste ponto e cada um dos membros está estudando sua tese.
Então, o Papa quis acrescentar recordações sobre a viagem: Uma coisa sobre a viagem me tocou: duas experiências de limites, uma foi com os pobres hoje aqui na Macedônia, no Memorial de Madre Teresa. Havia tantos pobres, mas vi a gentileza daquelas irmãs: cuidavam dos pobres sem paternalismo, como se fossem filhos. Uma brandura e também a capacidade de acariciar os pobres.
Hoje estamos habituados a nos insultar: o político insulta o outro, um vizinho insulta o outro, até na família nos insultamos. Não ouso dizer que há uma cultura de insulto, mas é uma arma na mão, também falar dos outros, a calúnia, a difamação. Ver essas irmãs que cuidavam de cada pessoa como se fosse Jesus, tocou-me. Aproximou-se um jovem e a superiora me disse: "Este é muito bom: reze por ele, porque bebe muito!". Ela acariciou-o com a ternura de uma mãe. Isso me fez sentir a Igreja mãe. E agradeço à Macedônia por ter este tesouro.
E então, outra experiência de limite foi a Primeira Comunhão na Bulgária: eu me emocionei, porque a memória foi para a minha Primeira Comunhão, em 8 de outubro de 1944. Vi aquelas crianças que se abrem à vida com uma decisão sacramental. A Igreja cuida das crianças; elas são um limite porque ainda são pequenas, são uma promessa, devem crescer. Senti que, naquele momento, aquelas 245 crianças eram o futuro da Igreja e da Bulgária.
Vídeos trazem resumo da viagem apostólica. Confira abaixo:
A caridade se faz com doçura e não com acidez
Um minuto de imagens do Papa na Macedônia do Norte
Despedida da Bulgária
.:: Missa Papa em Sofia
Fonte: Vatican News
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