O aniversário de terceiro ano do Pontificado do primeiro Papa jesuíta e latino-americano da história cai nos primeiros meses do Ano Santo Extraordinário que ele mesmo quis dedicar à Misericórdia. Os últimos doze meses viram o pontífice argentino viajar por quatro continentes, publicar uma Encíclica dedicada ao “cuidado da Criação” e celebrar um Sínodo dedicado à família. Tantas foram as oportunidades e os encontros em que Francisco confirmou a sua imagem de pastor “em caminho” com o Povo de Deus. Mas diante de um ano repleto de acontecimentos marcantes, qual é a imagem mais representativa desse terceiro ano de pontificado?
Jubileu da Misericórida
Duas imagens marcaram este início do Ano Santo da Misericórdia.
A primeira, a passagem de Francisco e Bento XVI, um após o outro, pela Porta Santa na abertura do Jubileu, no Vaticano. Para o monsenhor Giuseppe Lorizio, docente de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma a imagem "é uma fotografia que nos ajuda a liberar o campo de certos estrabismos jornalísticos: como aquele de quem aplaude este Papa como se o pontificado dos outros fosse negativo. Uma imagem que nos confirma como que a Francisco, como aos seus predecessores, esteja bem presente a comunhão na diversidade. Duas pessoas assim tão diferentes que atravessam juntas aquela Porta Santa, unidas pela mesma fé e pelo ministério que compartilharam, simbolizando a variedade da Igreja mas também a sua unidade, que não é homogeneidade", disse em entrevista à Rádio Vaticano.
A respeito da imagem símbolo dos últimos doze meses de Pontificado, Marco Burini, jornalista que segue diariamente as atividades do Papa para a TV2000, o canal de TV dos católicos italianos, destaca duas referente ao Jubileu da Misericórdia. “Proponho uma imagem dupla: a Porta Santa de Bangui, na República Centro-africana, que se escancara ao leve empurrão de Francisco e aquela de São Pedro que lhe apresenta certa resistência. Nessa dupla imagem, nessa dialética, nessa contradição tão eloquente, há uma riqueza para ser apreciada, mesmo além das ansiedades do balanço e classificação de nós, jornalistas. Devemos entrar em sintonia com o estilo de Francisco que, como recordava Roberto Benigni, é o estilo do ‘caminhar pregando’, o melhor do ‘pregar caminhando’, como faz Jesus no Evangelho de Marcos”, afirmou.
O Papa parado na fronteira, mas capaz de misericórdia
Raniero La Valle, jornalista e escritor, 50 anos atrás cobrindo o Concílio Vaticano II, propõe uma outra imagem para contar o terceiro ano de Pontificado de Francisco. “Eu volto ao último dia da sua recente viagem ao México, quando o Papa foi até a fronteira com os EUA, na Ciudad Juarez, para celebrar missa. Naquela fronteira, onde um mar de pobres, refugiados, exilados violam a lei à procura de uma vida melhor, inclusive ele, de uma certa forma, parou. Em frente ao muro, ao arame farpado, às patrulhas que impedem a entrada. Uma imagem, essa de Francisco na fronteira, que se conecta à sua primeira viagem na Itália, poucos meses depois da eleição, à ilha de Lampedusa. A escolha de visitar o mundo do sofrimento, da exclusão, do descarte, como dizendo que esse povo deve ser o primeiro pela qual a Igreja se empenha. Nota-se, no entanto, como na fronteira com o Texas o Papa foi capaz inclusive de abençoar aqueles que rejeitam os migrantes. Ao mesmo tempo em que para na fronteira, também é capaz de ultrapassá-la, de oferecer esse sinal de comunhão que vai além da inimizade”, frisou.
Não é o Papa, mas o mundo que muda
La Valle conclui: “Parece uma imagem forte que nos ajuda também a terminar com a questão de que Francisco seja ou não o Papa da mudança. O Ministério petrino, de fato, continua o mesmo, mas é o mundo que muda. Nunca tinha acontecido que 50 milhões de pessoas fossem em movimento no globo ou que as águas iniciassem a submergir a terra. Então, essa é a novidade. Não é o Pontífice que é diferente, mas é o mundo ao qual é chamado a anunciar a Boa Nova que mudou, apresenta exigências, dramas, urgências diversas. A pergunta verdadeira, no entanto, não é se Francisco está mudando o Papado, mas se realmente está mudando a Igreja. Porque uma Igreja que não sente a exigência de mudar, sob o empurrão do sopro do Espírito, é uma Igreja que precisa ser levada para sala de reanimação”.
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