A passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12, 38-44) proposta pela liturgia do domingo (07), apresenta um contraste gritante: de um lado os ricos, que dão o que é supérfluo para serem vistos, e de outro uma pobre mulher que, sem aparecer, oferece todo o pouco que tem. Dois símbolos de comportamentos humanos e objetos de reflexão do Santo Padre, o Papa Francisco, na celebração do Angelus.
Leia MaisCrises conjugais não são maldição, diz Papa7 ensinamentos de Francisco sobre os pobres O Papa rememora a pobre viúva, um modelo e uma história que se passa dentro do Templo de Jerusalém. Jesus olha o que acontece neste lugar, o mais sagrado de todos, e vê como os escribas gostam de caminhar para ser notados, saudados e reverenciados e ter lugares de honra. Contemporaneamente, seus olhos vislumbram outra cena: uma pobre viúva, precisamente uma daquelas exploradas pelos poderosos, coloca no tesouro do Templo tudo o que tinha para viver:
"O verbo 'guardar' – diz Francisco – vai resumir o ensino de Jesus sobre estas duas cenas, ou seja, devemos nos guardar daqueles que vivem a fé com duplicidade, como aqueles escribas, para não nos tornarmos como eles, mas olhar para a viúva e tomá-la como modelo. Detenhamo-nos nisto: guardar-se dos hipócritas e olhar para a pobre viúva”, enfatiza.
Antes de tudo, guardar-se dos hipócritas, isto é, estar atentos para não basear a vida no culto da aparência, da exterioridade, no cuidado exagerado da própria imagem. E, sobretudo, estar atentos para não submeter a fé aos nossos interesses.
O mal do clericalismo
O Papa também explica que aqueles escribas cobriam com o nome de Deus a própria vanglória, mas, pior ainda, usavam a religião para administrar seus negócios, abusando de sua autoridade e explorando os pobres:
“Um mau comportamento que também hoje vemos em tantos cargos, em tantos lugares. O clericalismo, este estar acima dos humildes, explorá-los, pisar neles, sentir-se perfeitos. Este é o mal do clericalismo. É uma advertência para todos os tempos e para todos, Igreja e sociedade: nunca tirar proveito da própria posição para pisar sobre os outros, nunca ganhar à custa dos mais fracos! E vigiai, para não cair na vaidade, para que não aconteça de nos fixarmos nas aparências, perdendo a substância e vivendo na superficialidade”.
Hipocrisia, doença perigosa da alma
Francisco convida então a nos perguntarmos: Naquilo que dizemos e fazemos, queremos ser apreciados e gratificados ou prestar um serviço a Deus e ao próximo, especialmente aos mais fracos?
E alerta: “Vigiemos as falsidades do coração, a hipocrisia, que é uma doença perigosa da alma!" É um pensar duplo, um julgar duplo, como diz a própria palavra: julgar por baixo, aparecer de uma forma e ‘hipo’, sob, ter outro pensamento. Duplos, pessoas com almas duplas, duplicidade de alma.
Libertar o sagrado dos laços do dinheiro
E para sermos curados dessa doença, Jesus nos convida a olhar para a pobre viúva, diz o Papa.
“O Senhor denuncia a exploração desta mulher que, para fazer a oferta, deve voltar para casa privada até mesmo do pouco que tem para viver: Como é importante libertar o sagrado dos laços com o dinheiro! Jesus já havia dito, em outro lugar: não se pode servir a dois senhores. Ou serves a Deus - e nós pensamos que diga ou o diabo, não - ou Deus ou o dinheiro. É um senhor”.
Mas, ao mesmo tempo – acrescenta o Pontífice - Jesus elogia o fato de que essa viúva coloca tudo o que tem no tesouro:
- Ela fica sem nada, mas em Deus encontra o seu tudo.
- Ela não teme perder o pouco que tem, porque tem confiança no muito de Deus, e este muito de Deus multiplica a alegria de quem dá.
- Remete a outra viúva, àquela do Profeta Elias, que estava para preparar uma focaccia com o que lhe restava de óleo e farinha. Mesmo assim deu de comer a Elias, e a farinha nunca irá diminuir. “Um milagre!" - exclamou Francisco. "O Senhor sempre, diante da generosidade das pessoas, vai além, é mais generoso. Mas é Ele, não a nossa avareza”.
Fonte: Vatican News
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