Santo Padre

Papa sobre mulheres abusadas: "Problema quase satânico"

Francisco concedeu entrevista e falou sobre pobreza, consequências da pandemia e violência

Escrito por Redação A12

20 DEZ 2021 - 10H41

GIACOMO MORINI/ Shutterstock

Papa Francisco concedeu uma entrevista para a rede de televisão italiana “Mediaset” e falou sobre assuntos mundiais ligados à violência, à pobreza e às consequências da pandemia. Francisco conversou com quatro pessoas “invisíveis”: Giovanna, uma mãe que perdeu o seu emprego e cuja vida familiar é feita de violência; Maria, uma mulher sem casa; Maristella, uma escoteira de 18 anos a quem a pandemia tirou a alegria; Pierdonato, ex condenado à prisão perpétua e que cumpriu 25 anos de cárcere.

Leia MaisPapa: “Alegria de Jesus é o 1º ato de caridade ao próximo”Papa acolhe refugiados e recebe presente em seu aniversário15 curiosidades sobre o Papa em seu aniversário"O número de mulheres que são espancadas, abusadas em casa, também pelos seus maridos, é tão grande. Para mim, o problema é quase satânico", disse o Santo Padre após Giovanna perguntar como recuperar a dignidade. E continuou: "É humilhante, muito humilhante. É humilhante quando um pai ou uma mãe bate no rosto de uma criança, é muito humilhante e eu digo sempre, nunca bata no rosto de uma criança. Por quê? Porque a dignidade é o rosto. Esta é a palavra que eu gostaria de retomar porque por detrás dela está a sua pergunta: há dignidade em mim? Qual é a minha dignidade depois de tudo isto, qual é a dignidade das mulheres espancadas e maltratadas? Uma imagem me vem à mente ao entrar na Basílica à direita, a piedade de Nossa Senhora. Nossa Senhora humilhada diante do seu filho nu, crucificado, malfeitor aos olhos de todos, ela é a mãe que o criou, totalmente humilhada. Mas ela não perdeu a sua dignidade e olhar para esta imagem em momentos difíceis como o seu de humilhação e quando se sente perder a dignidade, olhar para aquela imagem dá-nos força. Olhe para Nossa Senhora, fique com essa imagem de coragem", disse.

Francisco continuou respondendo a sabatina de perguntas e se posicionado com a ideia de auxiliar e mostrar caminhos para os entrevistadores.

A cultura da indiferença

Maria questionou Francisco sobre o motivo pelo qual a sociedade é tão cruel com os pobres. “Esta é a bofetada mais dura da sociedade, ignorar o problema dos outros. Estamos entrando numa cultura da indiferença onde tentamos distanciar-nos dos problemas reais, da dor dos sem-teto, da falta de trabalho. Pelo contrário, com esta pandemia os problemas aumentaram porque batem à porta aqueles que oferecem dinheiro emprestado: os agiotas. Uma pessoa pobre, uma pessoa em necessidade, cai nas mãos dos agiotas e perde tudo, porque eles não perdoam. É crueldade e mais crueldade, digo isto para chamar a atenção das pessoas para não serem ingênuas; o agiota não é uma saída para o problema, o agiota traz novos problemas". O Papa perguntou então à mulher se, quando encontra uma pessoa que está em uma situação pior, vai dar-lhe uma mão. E depois da resposta afirmativa de Maria, ele acrescentou: "Quando se sofre, compreende-se a profundidade da dor. Tente sempre olhar de frente para os problemas porque haverá alguém que estará pior do que você e que precisa do seu olhar para seguir em frente.", disse Francisco.

Deus próximo dos carcerados

Pierdonato perguntou ao Papa se há esperança para quem deseja uma mudança. Francisco respondeu com a frase da Bíblia: "A esperança nunca desilude". E acrescentou: "Há uma ópera de que gosto muito, que diz o contrário: na Turandot sobre a esperança, se diz que a esperança desilude sempre. Mas eu digo a você: a esperança nunca desilude. Há Deus, não em órbita, mas Deus ao seu lado, porque o estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Deus está com cada um dos carcerados, com qualquer pessoa que passe por dificuldades. Você não diz, mas você sabe no fundo do coração que foi perdoado e que tem a esperança que não desilude. É por isso que eu posso lhe dizer uma coisa: Deus perdoa sempre, Deus perdoa sempre. A nossa força reside na esperança deste Deus que é próximo, compassivo e terno, terno como uma mãe. Ele próprio o diz, e é por isso que você tem a esperança. Obrigado pelo seu testemunho.", finalizou.

Relação com Deus colocada à prova

Mariastella perguntou então como poderia, na sua idade, ter uma relação com Deus e mantê-la. "No lockdown tudo vai à prova, também a relação com Deus, a relação com Deus não é uma coisa linear que corre sempre bem, a relação com Deus tem crises como qualquer relacionamento de amor numa família. Pegue o Evangelho, no Evangelho está a palavra de Deus que lhe ajustará mais uma vez: tenho medo dos pregadores que querem curar a vida em crise com palavras, palavras, palavras. A vida em crise é curada com proximidade, compaixão, ternura. O estilo de Deus. O Evangelho lhe dá isto. Parecerá um pouco estranho para alguns, mas se você me dissesse: ‘Padre, zangar-se com Deus é pecado? Dizer: 'Senhor, eu não te entendo.'; É uma forma de rezar! Muitas vezes ficamos zangados com o pai, com a mãe. As crianças irritam-se com os seus pais porque pedem mais atenção. Não tenha medo de se zangar com Deus, você deve ter a liberdade de uma criança perante Deus. Quando você se zanga com o seu pai e a sua mãe não é bom, mas saiba que o seu pai e a sua mãe amam você; você se zanga com Deus porque isto ou aquilo não está bem, mas você sabe que Ele o ama e Ele não se assusta, porque Ele é pai e sabe como podemos reagir, nós que somos todas crianças perante Deus. Deve ter a coragem de dizer ao Senhor todos os sentimentos que você tem. Evangelho na mão e o coração pacificado.”, disse Francisco.

As felicitações de Francisco

Em conclusão, o Papa dirigiu-se diretamente aos telespectadores e perguntou: O que você pensa do Natal? Que tenho de sair e comprar isto ou aquilo. Mas o que é o Natal? É uma árvore? Uma estátua de um menino com uma mulher e um homem ao seu lado? Sim, é Jesus, é o nascimento de Jesus, pare um pouco e pense no Natal como uma mensagem de paz. Desejo-lhes um Natal com Jesus, um verdadeiro Natal. Será que isto significa que não podemos comer? Que não podemos festejar? Não, façam festa, comam de tudo, mas o façam com Jesus, isto é, com paz no coração. E a todos vocês que estão me ouvindo, desejo-lhes um Feliz Natal. Façam festa, deem presentes, mas não se esqueçam de Jesus. O Natal é Jesus que vem. Jesus que vem tocar o seu coração, Jesus que vem tocar a sua família, que vem até você, à sua casa, ao seu coração, à sua vida. É fácil conviver com Jesus, ele é muito respeitoso, mas não se esqueça d’Ele. Feliz e Santo Natal a todos. “E rezem por mim.”, concluiu o Papa.

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