Na manhã desta quarta-feira (1), Papa Francisco celebrou a missa pela paz e a justiça no segundo dia de sua visita à República Democrática do Congo. Para cerca de um milhão de devotos congoleses, Francisco disse a palavra Esengo que significa alegria, manifestando sua felicidade em ver cada fiel presente na celebração.
Leia MaisTrês conselhos do Papa Francisco para o seu casamentoPapa Francisco fala sobre como é preciso deixar para seguir a DeusPapa Francisco recebe Delegação Ecumênica da Finlândia em audiência"O Evangelho acaba de nos dizer que também a alegria dos discípulos era grande na tarde de Páscoa, e que esta alegria brotou ao verem o Senhor. Trata-se de uma saudação, mas é mais do que uma saudação: é um dom. Jesus proclama a paz enquanto no coração dos discípulos existem os escombros, anuncia a vida enquanto eles sentem dentro a morte. Assim faz o Senhor: surpreende-nos, estende-nos a mão quando estamos prestes a afundar, levanta-nos quando tocamos o fundo".
A paz de Cristo sempre vence
O Papa refletiu que com Jesus o mal nunca triunfa, nunca tem a última palavra, e que não podemos deixar prevalecer em nós a tristeza, já que pertencemos a Cristo.
"Se ao nosso redor se respira este clima, que não seja por nossa causa, num mundo desanimado com a violência e a guerra, os cristãos fazem como Jesus. Ele, como que insistindo, repetiu para os discípulos: A paz esteja convosco! E nós somos chamados a assumir e proclamar ao mundo este inesperado e profético anúncio de paz".
Três nascentes de paz
Francisco falou que a primeira fonte para que a paz possa permanecer em nosso mundo é o perdão que Cristo nos oferece para limpar o coração da ira, dos remorsos, de todo o rancor e ódio.
“Ele conhece as tuas feridas, conhece as feridas do teu país, do teu povo, da tua terra! São feridas que ardem, continuamente infectadas pelo ódio e a violência, enquanto o remédio da justiça e o bálsamo da esperança parecem nunca mais chegar”,
A segunda fonte dita pelo Papa é a comunidade, para sempre conseguirmos edificar uma Igreja cheia do Espírito Santo, livre de riquezas para nós mesmos e repleta de amor fraterno.
"Ter a coragem de olhar para os pobres e escutá-los, porque são membros da nossa comunidade, e não estranhos que devem ser abolidos da vista e da consciência. Abrir o coração aos outros, em vez de o fechar nos próprios problemas ou nas próprias vaidades. Recomecemos dos pobres e descobriremos que todos compartilhamos a pobreza interior; que todos precisamos do Espírito de Deus para nos libertar do espírito do mundo; que a humildade é a grandeza do cristão, e a fraternidade a sua verdadeira riqueza".
E ao final de sua homilia, o Santo Padre enfatizou que a terceira fonte de paz é a missão. Ser missionário da paz, dar espaço a todos no coração, é acreditar que as diferenças étnicas, regionais, sociais e religiosas vêm em segundo lugar e não um obstáculo, que os outros são irmãos e irmãs, membros de uma mesma comunidade humana.
"Enviados por Cristo, os cristãos são chamados, por definição, a ser consciência de paz no mundo: não só consciências críticas, mas sobretudo testemunhas de amor; não pretendentes dos próprios direitos, mas dos do Evangelho, que são a fraternidade, o amor e o perdão; não indivíduos à procura dos próprios interesses, mas missionários daquele amor louco que Deus tem por cada um dos seres humanos", concluiu o Papa.
Como está a República Democrática do Congo com esta visita?
Salvatore Cernuzio, correspondente do Vatican News nesta viagem, narra que mesmo com a visita apostólica de Francisco, a vida segue normalmente na capital Kinshasa.
"Com exceção das áreas isoladas, não diminuiu o trânsito característico de motos e vans, nem se esconderam os cenários de extrema pobreza de casas e comércios, nem o contínuo vaivém de pessoas, principalmente meninos, em busca de algo para passar o dia", disse.
O jornalista concluiu que Kinshasa se apresenta ao Papa "sem maquiagem" com os seus edifícios arruinados e estradas de terra batida, com as pobres chapas de metal tentando conter as cercas desmoronadas pela lama, com o seu cheiro adocicado por causa da fumaça das barracas que assam espiga de milho, bananas, e com a poluição do ar, mas mesmo assim sua população não perde a fé e a esperança.
"Apresenta-se também na sua beleza, dada por um povo que não abre mão de um futuro de esperança e desenvolvimento, um futuro, sobretudo de paz, que possa curar as feridas profundas durante décadas, e que por isso desejava receber o Papa".
Peregrinação pela paz
Até 5 de fevereiro o Papa Francisco, além do Congo, visitará também o Sudão do Sul. O Santo Padre será acompanhado pelo primaz anglicano Justin Welby e pelo moderador da Igreja da Escócia, o reverendo Iain Greenshields.
"Aquelas terras, situadas no centro do grande continente africano, são provadas por longos conflitos: a República Democrática do Congo sofre, especialmente no lado Oriental do país, pelos confrontos armados e exploração; enquanto o Sudão do Sul, dilacerado por anos de guerra, não vê a hora que terminem as violências que obrigam tantas pessoas a viverem deslocadas e em condições de grandes dificuldades. Assim faremos juntos, como irmãos, uma peregrinação ecumênica de paz, para invocar de Deus e do homem o fim das hostilidades e a reconciliação", disse Francisco durante a oração do Angelus no último domingo (29).
Um milhão e meio de pessoas são esperadas para a Santa Missa realizada no aeroporto Ndolo, em Kinshasa, capital congolesa. A viagem inicialmente estava prevista para 2 a 7 de julho, mas o Papa teve de adiá-la por recomendação médica devido a dores no joelho, problema que já o forçou a usar bengala e cadeira de rodas para se locomover.
Francisco se deslocará em carro aberto durante os vários compromissos e se encontrará com representantes de instituições, igrejas e sociedades locais. Estas incluem vítimas da parte oriental da República Democrática do Congo e pessoas deslocadas internamente do Sudão do Sul.
Quanto ao programa da viagem, durante a qual o Papa fará sete discursos em Kinshasa e cinco em Juba, capital do Sudão do Sul. O palco onde a celebração será realizada é o maior já construído na República Democrática do Congo, e também está equipado com um elevador para permitir que o Papa chegue mais facilmente. O coro que animará a missa também está entre os maiores de todos os tempos: 700 pessoas.
Enquanto o Congo é a segunda maior nação africana em extensão territorial e há anos sofre com a violência de milícias que disputam suas riquezas naturais, o Sudão do Sul conquistou a independência em 2011 e viveu em conflito durante a maior parte da última década.
O país é governado desde sua separação do Sudão pelo presidente Salva Kiir, que foi alvo de uma rebelião liderada por seu vice, Riek Machar, a partir de 2013.
O Papa se empenhou pessoalmente por um acordo de paz no Sudão do Sul e, em 2019, recebeu Kiir e Machar para um "retiro espiritual" no Vaticano, ocasião em que beijou os pés dos dois líderes.
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