A Jornada Bíblica vai transformar a Casa da Mãe na maior Bíblia a céu aberto do mundo, com o revestimento das quatro fachadas do Santuário Nacional.
Neste sábado (19), às 19h30, a Fachada Norte será entregue para os devotos de Nossa Senhora e, dessa forma, a primeira fase desse grande projeto de evangelização estará finalizada.
Mais do que uma representação artística, a Fachada Norte revela a ação libertadora de Deus em favor do seu povo e os belíssimos mosaicos do local retratam 24 cenas do livro do Êxodo.
A seguir, o A12 vai mostrar, cena a cena, a Fachada Norte, para ser um incentivo para os devotos mergulharem e se aprofundarem na Palavra de Deus e na evangelização proposta por essa grande obra de arte.
José é amado pelo pai, mas de modo possessivo. Isso provoca nos irmãos grande inveja e ciúme. Eles querem matá-lo, mas seu irmão Rúben intervém e consegue salvá-lo da morte. Eles o vendem para o Egito por vinte moedas de prata, representadas no mosaico pelos negociantes e o camelo. Para explicar o sumiço de José ao pai, eles retiram a túnica do irmão, matam um cabrito e suam as vestes com sangue do animal. Ao ver a túnica, Jacó quer morrer e não enxerga mais sentido para a vida.
No Egito, José como sempre: um homem bom. A mulher de seu patrão, Putifar, queria seduzi-lo, mas não conseguiu. Ela consegue pegar a túnica de José para tentar incriminá-lo. Próximo a ela está o demônio, que aparece apenas duas vezes na Fachada Norte. José é preso pela honestidade porque não se deixou seduzir pela mulher do seu patrão. É a punição do bem, assim como aconteceu com Cristo. É ali, no sofrimento da prisão, que a vida de José vai mudar e ele vai conseguir sua glória.
O Faraó tem dois sonhos que ninguém consegue explicar. Diante do rei egípcio, José afirma que é Deus quem interpreta os sonhos e ele apenas transmite a mensagem assumindo-se como um porta voz. No mosaico, o Faraó é representado contemplando a união do hebreu com o Senhor, presente na cena pelo sinal da mão divina.
Depois de demonstrar intimidade com Deus, após explicar os sonhos ao Faraó, José se torna administrador dos bens do Egito. Sua vida muda graças a sua humildade, pois reconhece a si mesmo como um enviado. O êxito do governo de José é retratado no mosaico pelo estoque de suprimentos localizados atrás do trono egípcio. Eles simbolizam a fartura e o estoque feito para os tempos de fome.
A fome, como José havia predito, se alastra. Como o Egito era a maior potência da época, não sofreu graças ao governo do hebreu. Jacó escuta sobre a condição do Egito e ordena que seus filhos comprem suprimentos no local. José, então, não se revela aos irmãos, mas usa uma pedagogia que os levará a consternação e que atingirá também seu pai, Jacó. Sem saber que era José, eles se arrependem do que haviam feito. Depois de educa-los e fazer o pai perder a possessão pelos filhos, José se revelou a eles. Essa cena é descrita nos mosaicos com o hebreu retirando a insígnia egípcia para falar com os irmãos. Ali, ele se apresenta como um deles e lhes dá as terras férteis do Egito.
Quanto mais os hebreus cresciam, mais perigo representavam para os egípcios. Por isso, foram obrigados a um trabalho mais duro, ficando sempre sob controle. O trabalho forçado despersonaliza, torna o homem uma máquina e não mais uma pessoa. Não tem mais um rosto único, este se perdeu. E essa é justamente a imagem do pecado, trabalha-se como uma máquina.
Moisés nasce quando era proibido nascer. Tutmoses havia ordenado a morte de todos os homens primogênitos de Israel, jogando-os no Nilo. No mosaico, duas mulheres – que simbolizam muitas – atiram crianças cumprindo a ordem do Faraó. A mãe de Moisés também o coloca no Nilo, mas não o atira. O coloca lá em uma cesta que também nos recorda a Arca de Noé. Assim, a filha do Faraó, que se banhava perto dali, o encontra entre os juncos e fica com ele.
Moisés pensava, inicialmente, que seus irmãos hebreus queriam que Deus os libertasse por meio dele. Ele vê a injustiça com seu povo e pensa ser o único capaz de encerrar esse ciclo de escravidão, pois era formado e educado na corte do Faraó. Nessa figura, Moisés é representado com olhos grandes, como quem olha e não vê ninguém como ele. Ele está representado no centro da cena porque acredita ser o protagonista da ação libertadora.
Após fugir do Egito, Moisés chegou na Terra de Madiã. Lá ficou 40 anos sendo pastor, casou-se com Séfora. A vida na família faz com que ele seja capaz de escutar e permitir que Deus possa manifestar-se a ele.
Moisés caminhando pelo deserto vê uma sarça pegando fogo. Ele se detém, olha, e vê que a pequena árvore não é consumida. Na representação do mosaico, a Virgem Maria foi inserida na Sarça Ardente. A tradição da Igreja reconhece na Sarça Ardente a figura da Virgem Maria, pois ela é a mulher que acolheu o Espírito Santo, o fogo, e não foi consumida por Ele.
Moisés vai até o Faraó com Aarão e pede a libertação do povo hebreu para que possam celebrar uma festa ao Senhor no deserto. O Faraó não gosta desse pedido e determina mais serviços para o povo de Israel. Isso faz com o que o povo se rebele e não queira sair do Egito.
A vara é, antes de tudo, o elemento que designa o pastor, que a utiliza para guiar e defender. No Antigo Testamento, ela é considerada como cetro que jamais será tirado de Judá. Ela também é profecia, eleição, sacerdócio. Quando Moisés, junto de Aarão, vai conversar com o Faraó, pedindo que deixe os hebreus livres, o bastão desse segundo se torna serpente. Esse sinal, entretanto, não convence o rei egípcio, que ordena que seus magos – representados atrás do trono egípcio - também façam surgir esses animais a partir de suas varas. Porém, nessa confusão, a serpente de Aarão, ou seja, seu bastão, sai de seu controle e começa a lutar com a serpente do Faraó – símbolo da morte – engolindo-a. Nem mesmo esse sinal convence o Faraó, que continua com o coração endurecido. Essa atitude do rei egípcio está representada na Fachada por seus braços cruzados e seu olhar voltado para fora da cena. Nessa passagem bíblica, a Igreja vê o prenúncio de Cristo, que, por sua morte, “engoliu” a morte, como descreve Santo Efrém, o Sírio. Quer dizer que não será a morte que irá matá-lo, mas é Cristo essa serpente de Aarão, no seu sacrifício da cruz, que devorará a morte.
Quando o desígnio de Deus encontra o pecado, o Senhor não se retira, mas utiliza seu desígnio para destruir o pecado. Primeiramente, ele mostra que o homem que crê tudo dominar é o verdadeiro pecador, pois bloqueia a ação de Deus. O Faraó acredita que domina o Egito. Então, os fenômenos começam a acontecer para demonstrar que o cosmo deve manifestar seu verdadeiro proprietário, que é Deus. Quando a terra começa a se mexer, o Faraó começa sua ruína e nota que não domina nada. Sua figura, representada no mosaico, está ao centro, sobre um trono que desmorona, pois é outro que move as coisas desta terra e começa a libertar o cosmos do pecado humano. Sua face está confusa, como quem não compreende os acontecimentos. Ao redor dele, as pragas do Egito, descritas pelo próprio Deus como maravilhas.
Moisés volta de Madiã, percorre mais de 280 km até o Egito e começa a passar de família em família para convencê-las a fazer uma ceia, conforme o pedido do Senhor. Ela deve ser feita com pão ázimo e um cordeiro de um ano, sem defeito, macho e sem manchas e as pessoas devem consumi-lo vestidos para partir, de forma apressada. Essa ceia será um memorial, um rito perene. Na representação do mosaico, vemos Moisés marcando a soleira da porta com sangue. O anjo exterminador se inclina diante da porta, pois viu o sangue. São Tiago de Sarug, um monge e bispo sírio, diz: Como é possível que o anjo se incline diante do sangue do cordeiro? Não é possível! Mas ele se inclina, pois naquele sangue reconhece o sangue do Cordeiro verdadeiro, Cristo. É Ele o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
A travessia do Mar Vermelho se insere no nascimento do povo novo, que, por sua vez, é a prefiguração do nascimento do homem novo, que nascerá do encontro com Deus. Ao sair do Egito, o povo terá pela primeira vez a experiência de ser visto não como escravo, mas como livre. A ceia pascal dos hebreus foi a prefiguração da libertação verdadeira, que acontece em sua plenitude com a travessia marítima. O ritual perpétuo não é, entretanto, a travessia “a pé enxuto”, mas a ceia, na qual já está incluída a passagem que ainda não havia acontecido. Quando o sol se punha, Moisés entrou no mar e de lá saiu quando o sol surgia. Os padres da Igreja entenderam que eles seguiam ali a coluna luminosa, que é Cristo, o único sol. Depois dessa passagem pelas águas, surge o povo novo. Na representação da fachada podemos ver, na cena da passagem do Mar Vermelho, a mão de Moisés com seu bastão indicando o alto da arcada, onde está a visão apocalíptica do céu aberto com o ancião, o trono, o cordeiro e os seres viventes, bem como o martírio de Santo Estêvão à esquerda e o batismo de Jesus à direta. Essas são as realidades futuras, que ainda não vivemos, mas que cremos e professamos
A pós saírem do Egito, os hebreus ficaram 40 anos no deserto, onde foram educados por Deus para esquecerem a terra egípcia. Ali, eles começam a murmurar a partir de sua nostalgia. Em uma noite eles saíram do Egito, mas em 40 anos o Egito demorou a sair deles. Querem comer e Deus deu a eles o maná pela manhã e à tarde codornizes. Do céu lhes provém esses alimentos para ajudá-los a entender que o comer será sempre uma recordação da ação de Deus. Os hebreus saíram da situação de escravidão atravessando o Mar Vermelho e esqueceram de tudo. A única coisa de que se lembravam era a carne, panela, cebola, melancia, peixe, entre outros. Na representação do mosaico, apresenta-se a murmuração contra Deus e as saudades dos alimentos, representados em uma panela. Ao mesmo tempo, parte do povo recolhe o maná e as codornizes, buscando alimentos.
Deus age fortemente em Massa e Meriba. O povo tem sede e começa a colocar condições para Deus, enquanto Moisés tem medo de ser apedrejado e, por isso, duvida do poder divino. No mosaico, é possível notar o demônio tentando o povo para que aja contra seu líder. Ele é representado como um furacão, com a cabeça para baixo, pois vê tudo de ponta cabeça. O Senhor, porém, diz a Moisés que fará brotar água da rocha. Ele, porém, duvida e peca contra Deus. Por esse pecado, ele e Aarão não poderão entrar na Terra Prometida. Na cena, Deus está representado sobre a rocha. Ela, porém, verte água de sua fenda, que recorda o lado aberto de Cristo. É ali que Moisés bate com seu bastão e faz com que os hebreus, sedentos no deserto, possam saciar sua sede.
Moisés acolhe as duas tábuas da lei como se acolhesse um dom, recebido pela grande mão de Deus. Note a desproporcionalidade das mãos de Deus e Moisés. Ele é muito humilde, e todo entregue, abre as duas mãos recebendo de Deus essa Lei. O povo hebreu teve a experiência de ser conduzido por Deus para fora da terra do Egito e ser acolhido por Ele. Deus os fez vir até Ele, não foi o povo quem foi por si mesmo. Por isso, a Lei é acolhida como um auxílio para não se esquecer das obras do Senhor, uma ajuda à memória como forma de gratidão. Isso exige uma contínua fidelidade, vigilância e compromisso, que se resumia no Decálogo.
Moisés desce do monte com as tábuas da Lei e já podemos perceber que algo deu errado, pois o povo hebreu fez um bezerro de ouro. Ele traz duas tábuas, pois uma indica a relação com Deus e outra com o próximo. Não se pode amar a Deus sem amar o próximo, pois o amor vem de Deus. Ele segura as tábuas olhando a idolatria feita ao bezerro, imagem de Baal. O ídolo esmaga-os e eles ficam curvados ao solo. Todos estão de perfil e estão todos com narizes feridos, pois retiraram suas joias para fabricar a estátua. As duas mulheres atrás de Aarão, revestido em trajes solenes, o empurram. Aarão entende que está no controle, mas é controlado, escravizado pelo pecado.
A habitação que Moisés construiu, o Tabernáculo, é a prefiguração da habitação de Deus na terra. O verdadeiro templo é o corpo de Cristo. Por isso a arte apresenta Moisés controlando para que tudo seja feito conforme o próprio projeto desejado e querido pelo próprio Senhor. No sexto capítulo do livro do Êxodo, descreve-se, por exemplo, como deve ser feito o véu. Ele deve possuir três cores: vermelho roxo, vermelho escarlate e carmesim. Esse véu era a representação da carne e Moisés assim o descreve. Os mosaicos mostram a construção do véu que divide o templo. Entre os trabalhadores está uma singela e sutil representação da Virgem Maria trabalhando na confecção do tecido. Santo Efrém, o sírio, afirmou que na anunciação Maria é a costureira que tece o templo verdadeiro, a carne de Cristo.
Moisés sobe ao Monte, lugar da manifestação de Deus. Essa cena mostra o Santuário com esse Monte onde o próprio Deus se manifesta não de forma teatral, mas por meio de sua ação gloriosa. Na passagem bíblica, quando Moisés pede que o Senhor intervenha junto do povo, o profeta pede para ver a face divina. Isso, porém, não é possível, e o próprio Senhor coloca sua mão sobre a face de Moisés, permitindo que após sua passagem ele perceba a glória divina. Por isso, a iconografia cristã apresenta Deus com a mão. Os Padres da Igreja viram nisso um modo de conhecer a Deus. Deus se conhece quando constatamos sua obra. Todas as quatro fachadas serão a manifestação daquilo que Moisés viu na mão de Deus. Elas mostrarão a obra do Pai que Moisés viu na mão e que se cumprirá quando o homem se sentir gerado como filho. Só esse gesto iconográfico dessa enorme mão, que tem mais de um metro, contém toda a obra que Deus vai fazer. A proposta é de que cada devoto, ao observar a Fachada Norte, olhe a obra que Deus fez por meio de Moisés e perceba que Deus está operando em nós uma transformação daquilo que Ele é. É isso que essa mão esconde em cima da fachada.
Na parte interna do arco de cada Fachada haverá representações do Apocalipse. Na Fachada Norte está representado, no ponto interno mais alto, o trono, o ancião e o Cordeiro imolado de pé. Isso porque só o Cordeiro pode realizar o bem ao modo do bem. Dessa forma, de longe, será possível ver somente o Êxodo. Quando se aproxima da fachada, entretanto, será possível ver a chave de leitura: o Pai e o Cordeiro. Pode-se ler a inscrição “Será para vós um memorial perpétuo”. Esse é justamente o ponto central, pois a ceia e a memória do comer lembrarão a saída do Egito, e essa memória apagará outro desejo de comer. Ou seja, o homem se desligou de Deus comendo. O pecado aconteceu quando a serpente convenceu Eva a comer o fruto proibido para ser como Deus. Ela comeu, mas morreu. Deus, porém, é o vivente. O início da libertação começa com o comer que não recordará mais o pecado, não despertará mais a paixão, mas recordará o Senhor, que é o libertador.
No interior do alto da arcada, duas cenas bíblicas ladeiam o ancião e seu trono. À direita, vê-se o Batismo de Cristo e à esquerda o martírio de Santo Estêvão. Há um rio vermelho e um rio branco com 24 peixes dentro, representando 24 anciãos. Essa simbologia recorda que a verdadeira passagem será feita no Reino de Deus, que nós já recordamos mesmo na nossa existência humana. Com o batismo nós lavamos nossas vestes no sangue de Cristo. Por isso, o rio em que Jesus está inserido é vermelho. A veste banhada no vermelho, no sangue do martírio, sai branca como o rio que brota da cena do martírio de Santo Estêvão. Essa é a verdadeira passagem, o senso batismal. Estêvão é cristão, ou seja, outro Cristo. Ele, o primeiro mártir, morre como Cristo, morre por causa do anúncio da Boa-Nova. Enquanto é apedrejado, vê o céu aberto, representado no mosaico pelo Ancião no Trono e o Cordeiro. Na figura de Jesus, batizado por João Batista, recordamos que somos batizados e revestidos em Cristo. É o batismo que nos dá a vida, é por meio das águas do Batismo que o povo de Deus morre para o pecado e se abre à graça da salvação, vivendo a vida não mais de escravos, mas de filhos.
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Fonte: Revista Aparecida
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