Santuário Nacional

Meditação da Via-Sacra: o Calvário de Cristo refletido no sofrimento humano atual

Escrito por Luciana Gianesini

15 ABR 2022 - 12H11 (Atualizada em 15 ABR 2022 - 13H03)

Alessandro Cardoso/A12

Sexta-feira Santa. Jesus de Nazaré, que passou por este mundo fazendo o bem, assumiu em plenitude a sua missão: anunciar o Reino de Deus e proclamar o Evangelho. Por amor, experimentou a inveja e a maldade do ser humano. Por isso, assume a Cruz e a transforma em sinal de esperança e vida para toda a humanidade.

A meditação da Via Sacra, celebrada na manhã desta Sexta-Feira da Paixão (15), no Altar Central do Santuário Nacional, nos propõe um caminho de conversão. Subimos com Cristo ao Calvário, e com Ele, meditamos as dores de Cristo e de nossos próprios calvários.

Em cada estação, um personagem bíblico reflete um personagem de nossa sociedade atual, que padece de tantas dores e sofrimentos.

Confira:

Primeira estação: Jesus é condenado à morte - A omissão (Jo 18,33.36)

Na cena da condenação de Cristo, refletimos a gravidade da omissão de Pilatos que, ao lavar as mãos acerca do destino que seria dado a Jesus, mancha-se de Seu sangue. Da mesma forma, quando nos omitimos através do voto branco e nulo, também nós nos tornamos responsáveis pela morte daqueles que padecem pelas mãos de governantes não comprometidos com a justiça.

“Perdão, Senhor, por nossa omissão, quando deixamos de atuar como cristãos e cidadãos na sociedade!”

Segunda estação: Jesus carrega a cruz - O egoísmo (Jo 19,17)

Ao carregar sozinho todo o peso da Cruz, Jesus livrou a todos nós do peso do pecado e do sofrimento. Da mesma forma, tantos nossos irmãos hoje são penalizados com o peso dos nossos próprios erros.

“Perdão, Senhor, pelas vezes que nossos pecados ainda o fazem sentir o peso da cruz!”

Terceira estação: Jesus cai pela primeira vez - as fake news (Is 53,5)

Na primeira queda de Jesus, a Cruz parece mais pesada que no início. Tantos castigos já quase selam Seu destino definitivamente. Porém, de alguma forma, Ele ainda encontra forças para seguir, por amor a nós. Da mesma forma, nós, diante de tantas fake news, que quase nos impedem completamente de enxergar a verdade, somos tentados a desistir. O Mal do mundo sufoca, turva nossa vista, mas devemos resistir.

“Perdão, Senhor, pelas vezes que disseminamos falsas notícias”.

Quarta estação: Jesus se encontra com sua Santíssima Mãe - os desaparecidos (Lc 2,34-35)

No rosto de mulheres que buscam seus filhos desaparecidos, tendo apenas algumas fotos ou documentos sustentando o fio da esperança, vemos refletida a imagem de Maria, cujo fio de esperança estava somente na fé em Deus e na promessa da Ressurreição.

“Perdão, Senhor, pelas vezes que, levados pelas tentações do mundo, ferimos o coração de nossas mães”.

Quinta estação: Jesus é ajudado por Cireneu - o Cristo que não vemos (Mc 15,21-22)

Naquele Jesus castigado, humilhado e invisível aos olhos cegos dos que O condenavam, vimos refletidos tantos excluídos de nossa sociedade, que rastejam e padecem ao nosso lado, e nós preferimos ignorar.

“Perdão, Senhor, pelas vezes em que não vemos em nossos irmãos a imagem e semelhança de Deus!”

Sexta estação: Verônica limpa a face de Jesus - as vítimas de tragédias (Sl 4,7; 16,15)

Na imagem de Verônica, que não hesitou em acudir Jesus, mesmo sabendo os riscos de seu gesto, vimos refletida a imagem de bombeiros, voluntários e tanta gente que se arrisca para socorrer àqueles que sofrem por tantas tragédias. Fatos que poderiam ser evitados ou minimizados, não fosse a negligência dos poderosos de nossa sociedade.

“Perdão, Senhor, por nossa negligência, permitindo catástrofes e morte!”

Sétima estação: Jesus cai pela segunda vez - o desemprego (Sl 36, 23-24)

Na segunda queda de Jesus, lembramos de nossos irmãos e irmãs que têm a dignidade arrancada pelo desemprego e pela falta de oportunidades. Como é difícil manter a esperança, quando o pouco que se tem nos é tirado!

“Perdão, Senhor, por permitirmos tanta desigualdade social!”

Leia MaisSexta da Paixão: Um dia de recolhimento, silêncio e reflexãoOitava estação: Jesus consola as mulheres de Jerusalém - os problemas da Educação (Lc 23,27-28)

Nas mulheres de Jerusalém, que choram por Jesus, o reflexo de professoras que, com o sucateamento da Educação, choram por não ter recursos que lhes permitam dar a seus alunos uma oportunidade de vida melhor. Quanta falta de reconhecimento, investimento, quanto sacrifício enfrentam os profissionais da Educação no Brasil!

“Perdão, Senhor, pela falta de investimentos na educação!”

Nona estação: Jesus cai pela terceira vez sob a cruz - a fome (1Pd 2,21.24)

Na terceira queda de Jesus, o reflexo da fome e do sofrimento daqueles que não têm sequer o pão da esperança. Diante de tantas riquezas, de tanto que somos capazes de produzir, como ainda há tanta gente com fome? Como sustentar a fé de um povo que não tem nem o que comer?

“Perdão, Senhor, pelas vezes que não alimentamos nossos irmãos com pão e esperança!”

Décima estação: Jesus é despido de suas vestes - a falta de dignidade (Jo 19,23-24)

No Cristo despojado de suas vestes e humilhado, refletimos a dor daqueles que nada têm para vestir, sobrevivendo à margem da sociedade, enfrentando frio, calor, chuva e sol, sem nada nem ninguém que lhes possa dar abrigo.

“Perdão, Senhor, quando somos insensíveis às necessidades de nossos irmãos que têm roubada sua dignidade!”

Décima primeira estação: Jesus é pregado na cruz - as vítimas da violência (Lc 23,33-34)

Cristo é pregado na cruz mais uma vez, nas mães que choram a morte injusta de maridos e filhos. É crucificado nos refugiados que fogem das bombas com os seus meninos no braço. É crucificado nos idosos deixados sozinhos a morrer, nos jovens privados de futuro, nos soldados mandados a matar os seus irmãos.

“Perdão, Senhor, pelas vezes que crucificamos inocentes e diante de seu sofrimento, permanecemos em silêncio!”

Décima segunda estação: Jesus morre na cruz - as vítimas da guerra (Jo 19,30)

Voltemos o nosso olhar para tantos outros crucificados pela violência, pela fome, pelas guerras, pela ganância, pelo egoísmo, pela falta de solidariedade, abatidos na esperança, carentes de solidariedade. Em cada conflito, pessoas comuns são as verdadeiras vítimas, que pagam as loucuras da guerra com a própria pele. 

“Perdão, Senhor, pela ganância e pela guerra que mata nossos irmãos!”

Décima terceira estação: Jesus é descido da cruz - a falta de compaixão (Jo 19,38-40)

Na imagem do descendimento da Cruz, pensamos em tantas pessoas marginalizadas que, ao morrerem, sequer têm o direito a um sepultamento digno. Tantos indigentes sepultados sem uma única prece por suas almas. Tantos que morrem na solidão, sem um único olhar, um único toque.

“Perdão, Senhor, pela falta de compaixão com as pessoas marginalizadas!”

Décima quarta estação: Jesus é sepultado - os que perderam a esperança  (Mt 27,59-60)

Na imagem dos homens que depositam o corpo de Jesus no sepulcro, estão também mendigos que recolhem o corpo de um irmão que morre de frio, de fome ou pela violência das ruas.

"Perdão, Senhor, pelas vezes que perdemos a esperança e não atuamos para um mundo melhor!"

Décima quinta estação: Jesus ressuscitou!

São Paulo diz que a paz de Cristo é “fazer de dois, um”, para cancelar a inimizade e se reconciliar. Esse é o caminho para realizar essa obra de paz! Cristo reconcilia todas as coisas e dá a paz com seu próprio sangue derramado na cruz. A paz de Deus, a paz do coração de Cristo vence os medos e os temores que se instalam dentro de nós! 

.:: Confira algumas fotos desta belíssima reflexão ::.


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