Há quase dois anos, um grupo de pessoas da comunidade de Heliópolis recebe acompanhamento terapêutico gratuito por meio do trabalho voluntário de um frater redentorista.
O frater Alosman de Aguiar é juniorista na comunidade do Alfonsianum, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, onde cursa Teologia, na fase final da formação redentorista antes de se tornar padre. Ele é formado em Psicologia, com especialização em Gestalt-terapia e tem oferecido atendimento gratuito a muitas pessoas na comunidade que é a segunda maior da capital paulista.
A formação em psicologia surgiu quando ele era um seminarista diocesano, alguns anos atrás. Na época, ele cursou três anos e trancou a matrícula. Quando resolveu ingressar na Congregação Redentorista, na Vice-Província do Recife, resolveu concluir o curso.
O religioso se formou há dois anos e, desde então, vem contribuindo com a comunidade, onde divide seu tempo entre o estágio pastoral e as aulas do curso de Teologia.
O acompanhamento terapêutico na comunidade, chamado “Psicologia On-line, Ouvidos Atentos”, oferecia, antes da pandemia, assistência a dois grupos de casais e ainda para outras pessoas na modalidade individual.
Com o isolamento social, o grupo passou a ser atendido por meio de videoconferência e nas redes sociais. O atendimento individual teve que ser suspenso, mas no acompanhamento grupal novas pessoas vão entrando e recebendo auxílio psicoterápico.
Embora o trabalho seja realizado a partir de uma instituição religiosa, o frater explica que “a religião não está diretamente na forma como conduz as sessões”.
“No consultório eu não posso de forma alguma, eticamente falando, usar de um conceito religioso, e esse é um dos primeiros pontos que eu trato na entrevista para o acompanhamento. Estou ali como psicólogo, mas não como religioso. É um ponto difícil para as pessoas entenderem essa separação, no entanto é necessário que entendam”, esclarece.
Para o religioso, a possibilidade de unir sua profissão à sua vocação ajuda em ambas as realidades pela contribuição de uma à outra.
“O trabalho profissional e a vocação andam muito próximos na vida do religioso. Este trabalho é de extrema importância pra mim, porque como ainda não sou padre, tenho tido a possibilidade de fazer uma escuta profissional e ajudar aquela pessoa a crescer na sua vida”, assinala.
O acompanhamento inclui a escuta atenta e a partilha dos sofrimentos e dificuldades e as orientações terapêuticas necessárias.
Diante do agravamento do novo coronavírus e da necessidade da quarentena, o acompanhamento ficou ainda mais relevante para ajudar a cuidar da saúde mental, enfrentar este momento, diminuir a solidão e organizar os pensamentos e sentimentos.
“Neste tempo de quarentena o acompanhamento psicológico mesmo a distância e nos meios de comunicação é muito importante por diversos fatores e eu cito dois: ansiedade e os relacionamentos”, reflete.
De acordo com o psicólogo, a pandemia trouxe muitos medos ocasionados pela incerteza diante do futuro.
“Pelo fato de vivermos um período que não existem muitas perspectivas de quando isso vai acabar e não existe uma esperança de quando isso vai acabar, toda essa situação acaba gerando um grande estresse e isso evolui para o medo, a ansiedade e até mesmo, a chegar a uma situação mais grave como uma depressão”, alerta.
Já na questão dos relacionamentos, com a mudança da rotina, a reclusão e as demais dificuldades, trazem à tona problemas que antes não eram percebidos.
“Como não estamos em nossas atividades normais, surge na convivência problemas que talvez nem eram percebidos antes, mas agora apareceram. Então, o momento exige parar, refletir para compreender o outro também”, completa.
Leia MaisComo ser missionário sem sair de casa? Paróquias redentoristas vivenciam quarentena com missas ao vivo e caridadePara o frater Alosman, a terapia pode auxiliar as pessoas a tomarem consciência de si mesmas e a ficarem abertas para acolher e respeitar a dor do próximo. Para isso, ele orienta quanto a alguns sinais de atenção para saber quando é preciso pedir ajuda.
"Se você começar a sentir insônia ou medo que o tira do convívio social, ou sudorese do nada, esses são alguns fatores que indicam que há algo errado. Eu trabalho na teoria do autoconhecimento e da autoconsciência corporal. Por isso, neste tempo em que estamos parados, procure se observar mais e sentir o seu próprio corpo", finaliza.
A Comunidade de Heliópolis é a segunda maior comunidade de São Paulo e, por isso, possui um grande número de pessoas vivendo na pobreza e ausência de recursos sociais. Nesta realidade, os Missionários Redentoristas trabalham nas comunidades Santa Ângela e Santo Antônio.
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