Por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R. Em Notícias

Das Igrejas Domésticas da Antiguidade aos Setores Missionários

As Igrejas Domésticas dos primeiros tempos

Nos primeiros tempos do cristianismo as comunidades cristãs se organizavam ao redor da chamada Igreja Doméstica, Igreja Domiciliar ou Casa da Assembleia (em latim: domus ecclesia).

Como ainda não existiam os templos ou lugares de culto uma residência privada (domus) era usada como o lugar onde de reunião dos primeiros cristãos, antes da legalização do cristianismo por Constantino em 313 d.C.

Residências que possuíam uma sala mais ampla, onde se podia reunir mais gente eram usadas como local de reunião. Algumas citações das cartas de Paulo falam da casa da família de Narciso (Romanos 16,11) ou de Priscila e Áquila (Romanos 16,5; I Coríntios 16,19), localizada no Monte Aventino, em Roma, onde hoje existe a igreja de Santa Prisca.

A Igreja Doméstica dos primeiros cristãos

Durante os primeiros tempos, as Igrejas Domésticas eram a principal forma de organização da nascente comunidade cristã. Algumas delas posteriormente foram doadas pelos proprietários e ficaram conhecidas como títulos (Tituli). Isso porque acima da porta de entrada se colocava uma plaquinha com o nome do proprietário. Naquela época, os locais de culto cristão não eram distintos das residências comuns, embora seja possível que alguns tenham sido construídos especificamente para a reunião dos fiéis.

Aos poucos as construções começaram a ganhar algumas características arquitetônicas específicas, bem como decoração com elementos do cristianismo. A partir daí os templos tornaram-se lugares de culto, ganhando um significado simbólico cristão e as igrejas domésticas foram desaparecendo. 

Estrutura paroquial tradicional

Até bem pouco tempo atrás uma paróquia era vista como a soma de diversas comunidades que se reuniam ao redor da igreja matriz. Cada comunidade tinha a sua capela, oratório ou centro comunitário. Existiam paróquias do interior formadas por um grande número de capelas, pois existiam também aquelas particulares construídas em chácaras e fazendas. Hoje a Igreja enfrenta serias dificuldades para a construção de capelas ou ter seus lugares de reunião e culto. Nos Conjuntos Habitacionais populares, ao estilo das COHAB´s que existem nas periferias das cidades, em geral não se reserva espaços de uso público ou para a prática religiosa.

Nos loteamentos particulares ou nos bairros mais centrais, a especulação imobiliária é muito forte e o alto custo de imóvel faz com os espaços reservados sejam mínimos. O mesmo acontece nos condomínios. Nas grandes cidades é comum encontrar condomínios com população correspondente à das pequenas cidades do interior; mesmo neles os espaços comuns são mínimos e não pensados com motivação religiosa. 

Recuperando um ideal

Um ponto importante da atual metodologia das Santas Missões, desde o Concílio Vaticano II, é a constituição dos Setores Missionários, grupos de famílias organizados pela proximidade nas ruas e bairros das cidades. Na segunda fase das missões, conhecida como Missão nas Famílias, esses grupos se reúnem dia por dia, noite por noite, rezando juntos e refletindo a Palavra de Deus, buscando também iniciativas de superação dos desafios de sua própria realidade.

Setores Missionários

Assim se recupera aquele ideal das Igrejas Domésticas, pois cada casa torna-se uma Casa de Assembleia, onde os cristãos se reúnem. Nos Setores Missionários cada pessoa torna-se o Templo Vivo como desejado por Deus.

Nos condomínios as dificuldades para evangelizar as famílias são enormes até porque muitos deles vivem sob a ditadura de síndicos insensíveis às necessidades religiosas da maioria das famílias, mas em diversas missões acontecidas, com muita criatividade e com verdadeiro espírito missionário as barreiras são rompidas e a Domus Eccclesia volta a acontecer.

 

"A missão nos mostra um novo jeito de viver em comunidade, pois podemos sentir a presença de Deus. Precisamos um do outro e muitas vezes não conhecemos nem mesmo os nossos vizinhos", José Carlos. 

Foi o que aconteceu em outubro de 2015, nas missões pregadas na Paróquia Santo Antônio, localizada na Vila Augusta em Guarulhos, SP. José Carlos, integrante do setor 25, disse que a missão promoveu o encontro entre as pessoas e a Palavra de Deus, sustento da vida comunitária.  “A missão nos mostra um novo jeito de viver em comunidade, pois podemos sentir a presença de Deus. Precisamos um do outro e muitas vezes não conhecemos nem mesmo os nossos vizinhos. Somos muito indiferentes aos acontecimentos do outro, dizendo que não temos nada a ver com isso, que o outro se vire para resolver seus problemas sozinhos”.

Neiva Trevizan, por sua vez, viveu a mesma experiência em seu condomínio, com a coordenação da senhora Natalina. Ela recebeu a visita dos missionários e dos vizinhos em sua casa. “Fizemos a oração todos os dias aqui no condomínio, e foi maravilhoso participar. Uma experiência abençoada”.

A experiência da auxiliar Débora, contextualiza bem a realidade enfrentada durante a Primeira Fase. Das missões. Ao receber o convite para o trabalho de visitação em um condomínio, as dúvidas eram muitas, desde o 'como e por onde começar' já que muitos condomínios não permitem a entrada de pessoas sem autorização dos moradores. Débora começou com apenas a inscrição de apenas dois voluntários da paróquia e depois de mais duas pessoas conhecidas. Com essas famílias, ela marcou uma reunião em sua casa para elaborar uma forma de trabalho. "Traçamos as estratégias e dividimos as tarefas: primeiro, divulgar em uma rede social do condomínio; depois, fazer divulgação pelas caixas de correspondências; pedir ajuda para a monitora das crianças; e falar com os conhecidos". 

Nesse momento, ela contou com a ajuda de seu filho, Bruno, que tinha colegas da escola onde estuda no prédio. "Orei e pedi para Deus me ajudar e ele me mandou o primeiro anjo: meu filho Bruno. Colocamos nosso crucifixo, pegamos nossas fichas e partimos. Comecei visitando os apartamentos dos amigos do Bruno, ele me apresentava e eu pedia a permissão para falar sobre nossa proposta missionária. Antes de ir embora eu pedia para a pessoa me indicar alguém que ela conhecesse no condomínio para eu fazer o cadastro, e assim fomos abordando mais e mais pessoas sem infringir o regulamento do condomínio". Com o número de fichas e famílias inscritas aumentando, Débora formou um grupo de bate-papo no celular com as famílias que visitava. "Assim fomos multiplicando os resultados. Não me lembro de ninguém ter me recebido mal.

 

"A missão pode ter data e etapas determinadas, mas nós não vamos parar, porque sabemos que a Palavra de Deus é eterna", Débora. 

Nesse trabalho, a auxiliar do Setor Missionário formado usou da criatividade e simpatia na tentativa de levar a mensagem do Evangelho a todos. Até uma cabeleireira evangélica, colaborou com ela para conseguir novas fichas e famílias para visitação. "Pedi ajuda para a cabeleireira do condomínio para ela fazer a gentileza de preencher as fichas das clientes que fossem passando por ela. Só ela fez 16 fichas, o que nos ajudou muito. E o mais relevante é que ela é evangélica". 

No início da Segunda Fase, a auxiliar pode verificar a importância de seu trabalho. "Iniciamos a segunda etapa e cada visita torna-se uma lição de vida e de fé. Somos seis agentes ativas hoje. Para mim esse trabalho está sendo um dos mais gratificantes que já fiz até hoje pela Igreja. Superou minhas expectativas e me ensinou jamais subestimar um desafio, ainda mais quando se trata de uma missão divina. O grupo se identificou tanto que ouso falar que somos a 'família missionária do supera'. A missão pode ter data e etapas determinadas, mas nós não vamos parar, porque sabemos que a Palavra de Deus é eterna".

Renovando o ideal de ser Igreja

Na Terceira Fase das missões, enquanto aconteciam as atividades missionárias na matriz da paróquia, outros três missionários ficaram escalados para missionar os prédios e condomínios, visitando pessoas doentes e idosas, aconselhando, realizando a bênção dos apartamentos e no final do dia celebrando a eucaristia com os seus moradores. O missionário padre Luiz Cruz, foi um dos coordenadores desse trabalho: 

“No primeiro conjunto os trabalhos começaram logo cedo e ao todo foram realizadas umas 30 visitas nas quatro torres, atingindo cerca de 30 famílias. Foi muito interessante ver a reação das pessoas. Em alguns apartamentos as pessoas acolheram muito bem o missionário e eu não tive como fugir do cafezinho e do lanche. Em outros apartamentos as pessoas aproveitavam da minha visita para um aconselhamento ou até mesmo um descarrego de consciência. Todos os apartamentos sem exceção, eram de muito luxo, por serem de famílias abastadas. Alguns improvisavam um 'altarzinho', com a imagem de um santo ou Nossa Senhora Aparecida. Em outros, a recepção foi mais fria”.

No final de cada dia, o padre celebrava a Eucaristia, sempre com uma boa participação das pessoas do condomínio. “O resultado final do primeiro condomínio visitado foi extremamente positivo e animou a todos a continuar com as visitas”.

Na Assembleia das Lideranças que normalmente acontece no penúltimo dia da Terceira Fase, os líderes dos conjuntos de prédios e dos condomínios deram um testemunho emocionado. Eles foram unânimes em afirmar que a missão foi muito importante no processo de conhecimento das pessoas. Eles afirmaram que as pessoas que não conheciam, agora se pareciam com parentes de "sangue".

Foi extremamente válida esta experiência missionária, mostrando que o missionário precisa ter um "jogo de cintura" para poder se adequar à cada realidade. Foi uma missão atípica, mas que alimentou nossas esperanças na evolução das atividades e na eficácia do método missionário.

Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R. 
Equipe de Comunicação das Santas Missões 

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