Afonso e Clemente: santos que se complementam a serviço da missão

"Quem não honra o Santo Padre, também não honra nossa Mãe, a Santa Igreja. Quem não ouve o Santo Padre não é um filho obediente da Santa Igreja. Quem não reza por seus pais é um mau filho, e quem não reza pelo Santo Padre é um mau cristão".
São Clemente Maria Hoffbauer

São Clemente Maria Hoffbauer foi um filho espiritual fiel ao nosso fundador, Santo Afonso, e também foi fiel ao carisma da Congregação do Santíssimo Redentor. No entanto, quando colocamos essas duas grandes figuras, esses dois pilares da Congregação lado a lado, notamos que tinham personalidades completamente diferentes, dois tipos de caráter completamente diferentes na maneira como pensavam e agiam. Leia MaisPadre Antonio Tannoia, o primeiro biógrafo de Santo Afonso3 fatos sobre São Clemente para inspirar sua vocação5 virtudes de São Clemente que motivam a missão Redentorista

Afonso vinha de uma família abastada sendo aristocrata, escritor, compositor de canções religiosas, arquiteto, bispo, altamente educado e extremamente intelectual. Doutor em ambos os direitos: eclesiástico e civil.

Clemente, por sua vez, era um homem simples, padeiro, sem muita educação, com alguns anos de escola em sua cidade natal, aprendendo latim no mosteiro dos Premonstratenses, em Znojmo, estudos feitos na Universidade de Viena, uma estadia de um ano no noviciado em Roma e alguns meses de estudo de teologia em Frosinone após a ordenação e, finalmente, um curso de catequese de um ano na igreja de Santa Ana em Viena.

Afonso escreveu 111 livros. Clemente não escreveu nenhum livro, não deixou nenhum diário espiritual, nenhum esquema de sermão. Afonso não só liderou o ministério pastoral, mas através de suas obras literárias traçou os caminhos da atividade apostólica não apenas para padres, confessores, moralistas, mas também para bispos. Clemente, por outro lado, era um pastoralista atuante.

Acervo redentorista

Pintura mostra Santo Afonso com os pobres dentro das fronteiras de sua terra natal

Afonso era um napolitano e trabalhou dentro das fronteiras de sua própria terra natal. Clemente era um missionário e um viajante, um "homem apostólico" no sentido pleno da palavra. Ele descobriu na Congregação uma nova forma de ajudar as pessoas e colaborar com a Igreja na Europa Central e Oriental. Foi isso que o levou a fazer um esforço quase sobre-humano para levar a Congregação a essas regiões e proclamar, de acordo com o carisma da Congregação, a Redenção Abundante aos pobres e abandonados que ele buscou durante toda a sua vida e aos quais dedicou seu tempo e suas energias.

Caminhos diferentes que se cruzam na missão

Os caminhos pastorais de Afonso e Clemente os levavam em direções opostas, mas depois se juntaram por causa da missão. O nobre advogado se tornou pastor dos pobres das ruas de Nápoles e missionário dos pastores nas montanhas perto de Scala e no sul da Itália. Clemente trabalhou como pastor dos pobres, mas também como diretor espiritual das elites intelectuais, tanto em Varsóvia como em Viena: estudantes e professores da Universidade de Viena, um círculo de românticos vienenses, também conhecido como "círculo Hoffbauer", ao qual pertenciam os representantes mais proeminentes da vida política e cultural da capital austríaca.

Além disso, Clemente era um tipo de religioso que combinava uma intensa atividade apostólica com uma profunda vida interior. Com grande amor, contemplava incessantemente o rosto de Cristo, "fazendo todas as coisas para a maior glória de Deus" e para a salvação das almas. Como um homem sensível, foi capaz de ler os sinais dos tempos nas circunstâncias e imediatamente buscou respostas pastorais para eles. A união com Cristo encheu-o de extraordinário zelo na missão de proclamar a Boa Nova do amor de Deus pelo homem com palavras e obras, falando a todas as pessoas na linguagem do amor, apoiado por ações concretas: escolas e orfanatos em Varsóvia, pobres, doentes e moribundos em Viena.

Atenção aos sinais dos tempos

Clemente teve a coragem de seguir caminhos diferentes em sua atividade pastoral daqueles seguidos por seus confrades no Reino de Nápoles e nos Estados Pontifícios. Provavelmente não pensou muito sobre isso, pois apenas procurava fazer o que achava que deveria ser feito em um determinado lugar e em determinado tempo. Algumas de suas ideias pastorais eram até mesmo contrárias ao espírito da época em que viveu e trabalhou; eram até mesmo contrárias ao espírito, ou pelo menos ao que se pensava em Roma. Foi precisamente por isso que deram frutos tão abundantes e fizeram tão bem espiritualmente.

Reprodução

Hofbauer é considerado o segundo fundador da Congregação Redentorista

A título de exemplo falamos de seus sermões e da música na igreja de São Bento, que, segundo os superiores, perturbavam a audição das confissões e a concentração dos fiéis e as escolas e orfanatos que dirigia, eram contrários à Regra do estado.

O declínio da pregação durante o Iluminismo o levou a procurar novas formas de proclamar a Palavra de Deus, razão pela qual o seu lema de vida passou a ser o ditado de que "o Evangelho deve ser pregado de maneira sempre nova". Por isso, ele mostrou as verdades fundamentais da fé contra as ideias de fundo do ser humano de seu tempo. Ao mesmo tempo, se caracterizou pela grande coragem na seleção dos temas de suas homilias. Quando, nos tempos do Iluminismo, muito pouco se dizia sobre a Igreja, sobre a Revelação, as verdades de fé ou a vida moral, e na maioria das vezes ele abordava esses tópicos no púlpito.

Como devoto da Santa Mãe de Deus, frequentemente fazia sermões marianos, enfatizando a importância de se rezar o rosário. Frequentemente mencionava as duas verdades fundamentais da fé, que foram fortemente atacadas e censuradas durante o Iluminismo: a fidelidade à Igreja Católica e ao Papa. Ele volta e meia repetia que "quem não tem a Igreja como mãe, não tem Deus como pai". Ele também insistia aos seus ouvintes que rezassem pelo Santo Padre: "Quem não honra o Santo Padre, também não honra nossa Mãe, a Santa Igreja. Quem não ouve o Santo Padre não é um filho obediente da Santa Igreja. Quem não reza por seus pais é um mau filho, e quem não reza pelo Santo Padre é um mau cristão".

Vida plenificada

São Clemente faleceu em 15 de março de 1820 e, ao saber disso, o imperador Francisco II disse: "Sinto uma dupla dor pela perda deste sacerdote, a perda sofrida pelo meu povo e pela Igreja, para a qual ele foi realmente um grande apoio". E Sebastian Bruner, um dos primeiros biógrafos de São Clemente, escreveu que graças a ele "a Áustria tornou-se católica novamente". Na lápide de São Clemente podia-se ler esta inscrição simples, mas muito eloquente: "Servo fiel e prudente".

Reprodução.

Clemente trabalhou como pastor dos pobres, mas também como diretor espiritual das elites intelectuais

São Clemente foi um "servo fiel e prudente" da Igreja e da Congregação, fiel ao carisma afonsino que soube tão bem atualizar. Para os Redentoristas é exemplo de quanto amou a Congregação e seu fundador, que amou os pobres e abandonados e, sobretudo, que amou a Deus Pai.

Hoje a figura e a importância de São Clemente estão sendo resgatadas e descobrimos que ser redentorista no espírito de São Clemente significa ser apaixonado por Deus e por seu Filho Jesus Cristo, cheios de zelo apostólico pela Igreja e cheios de compaixão pelas pessoas necessitadas.

No processo de reestruturação e reconfiguração vivido pela Congregação, e na medida de nossas possibilidades busquemos imitar São Clemente, homem apostólico, do qual podemos aprender a ‘anunciar o Evangelho de modo sempre novo’ ao mundo de hoje e a pôr em prática o «mandamento novo do amor» de ‘fazer todas as coisas para glória de Deus’.

Pe. Adam Owczarski, C.Ss.R.

Fonte: Tradução: Pe. Inácio de Medeiros, C.Ss.R.