O auge da pandemia de Covid-19 e o consequente aumento da fome motivou a Comunidade do Juniorato Redentorista, em São Paulo, a promover uma ação solidária batizada de “Dai-lhes vós mesmos de comer (Mc 6,37)”, no coração da capital paulista. Leia MaisReflita sobre a pobreza voluntária que fala Santo AfonsoBispo destaca o “impulso missionário” da Congregação RedentoristaAmor pelos pobres e abandonados guiou Santo Afonso
Inspirados pela súplica do Papa Francisco, de uma “Igreja em Saída”, os junioristas estimularam outros fiéis a se comprometerem com este verdadeiro mutirão.
As comunidades Santa Ângela e Santo Antônio, da área pastoral São Paulo Apóstolo, de Heliópolis, bem como os Oblatos de Maria Imaculada (OMI), se colocaram à disposição nesta empreitada de solidariedade.
A ação acontece semanalmente, às quintas-feiras, com a produção e distribuição de 150 a 200 marmitas, além da entrega de garrafas de água.
O animador da Ação Social, Fr. Jefferson Lucas, C.Ss.R, compartilha, em uma entrevista exclusiva, sobre a realidade encontrada pelos junioristas nestes dois anos em praças e viadutos de São Paulo, em um processo que ele chama de “ânsia profunda por justiça”.
O missionário redentorista ainda destaca os desafios a serem superados pelo grupo e traça um paralelo com a Campanha da Fraternidade de 2023, cujo tema era “Fraternidade e fome”.
Confira a entrevista com o Fr. Jefferson Lucas:
Como surgiu a ação social e quais congregações ou grupos sociais auxiliam vocês para a ação?
A ação social à serviço dos irmãos em situação de rua, surgiu como resposta criativa aos anseios do Papa Francisco, por uma Igreja samaritana à serviço da vida e da promoção da dignidade humana, estando em estado permanente de “saída”. Foi no dia 4 de março de 2021, estando a pandemia em seu auge, que os junioristas redentoristas, se propuseram a iniciar este trabalho evangélico.
Aos poucos, fomos tendo a confirmação de que estávamos no caminho certo, pois, outros grupos também se movimentaram e juntaram-se a nós. As comunidades Santa Ângela e Santo Antônio, inseridas em nossa área pastoral São Paulo Apóstolo, de Heliópolis, deram seu 'sim' e responderam com generosidade e dedicação. ]
Destaque também, importante, para a participação dos Oblatos de Maria Imaculada (OMI), que também se colocaram a caminho, neste trabalho de mutirão.
Com o tempo, nossa ação social estruturou-se, adquiriu uma identidade, atraiu novas parcerias e ampliou sua visão e trabalho. Atualmente, a ação foi batizada com a passagem bíblica de Marcos 6,37, no qual Jesus, movido pela compaixão, reage à fome daquela grande multidão ordenando aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Nesta mesma perspectiva, também nós, discípulos de hoje, nos colocamos.
A realidade da fome, revela a face perversa e perigosa da humanidade: a inumanidade. O encontro com os feridos, excluídos e que estão à margem, possibilita-nos despertar deste sono cruel e que nos mantem paralisados no egoísmo. O encontro com os crucificados torna-se revelador.
Quais são os principais desafios para manter a ação?
Quando penso nos desafios, atrevo-me a olhá-los para além dos muitos pedidos e doações, que costumeiramente necessitamos fazer, para manter a ação. Boa parte daquilo que nós produzimos, advém da generosa doação das pessoas simples de nossas comunidades. Concretiza-se na prática o famoso provérbio: “O pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada”.
Olhar para a realidade da fome no Brasil, provoca-nos enquanto cristãos ou pelo menos deveria nos provocar. Penso, que o maior desafio está no deixar-se sensibilizar, ou, utilizando uma terminologia bíblica: ter compaixão, que podemos traduzir por uma ânsia profunda por justiça.
Na realidade desumana em que vivemos, o maior desafio para nós é nos convertemos na imagem daquele Samaritano, que agiu por compaixão. A existência de “um povo crucificado” leva-nos a reação mais necessária: viver a misericórdia – principio estruturante de toda vida de Jesus. Os desafios materiais são superados pela partilha, assim como no texto bíblico que nos inspira, o coração petrificado, fechado em si mesmo, necessita de uma conversão que toque as realidades, esquemas mentais e afetivos. Converter-se ao princípio misericórdia é reproduzir na vida a prática de Jesus.
Quais são as ações promovidas pelo grupo de junioristas?
A ação social acontece semanalmente, às quintas-feiras, o que logo nos faz recordar a Jesus naquela ceia com os seus amigos. O movimento eucarístico, que se atualiza na partilha e na solidariedade, leva-nos a um encontro com os que sofrem e que clamam por nossa presença.
É certo que a realidade desumana provocada pela fome, corre o risco de nos paralisar, deixando-nos inertes, sem reação para a brutal realidade. Da solidariedade de muitos e das mãos generosas de nossos irmãos e irmãs, produzimos cerca de 150 a 200 marmitas, além da entrega de garrafas de água. Entre as demais doações estão: roupas, materiais de higiene, e cobertores, que destinamos a outros grupos, que também nos ajudam neste grande trabalho em rede.
Sabemos que são muitos os irmãos em situação de rua passando pela exclusão e violência. O sofrimento, que semanalmente encontramos pelas ruas de São Paulo, seja nas praças famosas da Sé ou do Brás, no Pateo do Collegio ou, por debaixo dos viadutos, leva-nos a uma interiorização de todo sofrimento.
Temos consciência de que a mudança sonhada passa por outras dimensões de nossa esfera social. Mesmo assim, seguimos nosso percurso, motivados pela construção de uma fraternidade sem fome.
Qual o paralelo que você faz entre a ação promovida pelos junioristas e o tema da CF 2023?
Não é a primeira vez que a CF aborda tal temática. Em outras duas oportunidades, a Igreja, preocupada com a realidade da fome, se dedicou a refletir e a buscar saídas para o enfrentamento de tal desafio. É certo que agora temos diante de nós um cenário ainda mais assustador.
A fome é resultado do acúmulo, da insensibilidade, do pecado da ganância – as mesas fartas, incapazes de partilhar, tornam-se um escândalo para nossa fé cristã. A Campanha da Fraternidade nos ajuda a pensar nas causas estruturais dos problemas sociais. A fome é consequência da distribuição desigual da terra e também do desperdício.
Um país como o Brasil, qualificado como um dos maiores produtores de alimentos do mundo, vê seus filhos assolados pela fome, esta, que afronta diretamente para todos os princípios fundamentais do ser humano. A fome, nos dizeres do Papa Francisco, para a humanidade não é somente uma tragédia, mas uma vergonha.
Valho-me, por fim, da sabedoria conciliar, sempre inquietante e atual, do Vaticano II, para reanimar às nossas comunidades na concretização de ações em rede, agindo sempre pelo espírito cristão que nos permeia: “alimenta o que padece fome, porque, se o não alimentaste, mataste-o (Gs, 69)".
Que nossas ações possam gerar vida – passo essencial para nos humanizarmos plenamente.
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