Em nossa caminhada de fé e de vivência comunitária, a partir do conhecimento das Sagradas Escrituras, aos poucos nós vamos distinguindo o homem Jesus, chamado pelos teólogos e estudiosos de Jesus Histórico, do Cristo da Fé, que foi a experiência pascal feita pelos apóstolos e discípulos a partir da ressurreição do ser humano Jesus.
Por isso, na Igreja fala-se tanto do Jesus Histórico como do Cristo da Fé que cresceu a partir da experiência que os apóstolos e discípulos fizeram do Jesus ressuscitado. Eles diziam: “Ele é o Senhor (Kyrios) que andava e comia com a gente”, mas compreendiam que agora Ele vivia outra situação. Portanto, não são duas pessoas distintas, mas duas realidades que se completam.
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A prática do Jesus Histórico foi reconhecida pelo próprio Deus pela Sua ressurreição porque Ele estava em comunhão total com o Pai, como Ele mesmo tantas vezes afirmara. A partir da ressurreição e da atividade missionária da Igreja nascente, a proposta de Jesus vai sendo universalizada.
Lugar da mulher na missão
É muito significativo perceber que foram as mulheres as primeiras que se abriram à Boa Nova da Ressurreição, assumindo a missão de forma total, passando adiante a alegre notícia que Ele havia ressuscitado. A narrativa pascal de Jesus apresenta as mulheres como corajosas, disponíveis e sem temor, apesar de toda pressão das autoridades. Elas foram as que primeiro se encontraram com Ele, após a páscoa!
Na comunidade eclesial nascente, as mulheres também deram uma resposta positiva, conquistando seu lugar de sujeito ativo, como protagonistas, num mundo religioso que oprimia e as marginalizava. Em Pentecostes, Maria, a primeira mulher, estava no cenáculo.
Hoje, quando nós nos aproximamos do Jesus histórico, nós O vemos como uma pessoa concreta que assumiu e viveu a cultura de seu tempo e de sua gente. Desta forma, a nossa maior utopia passa a ser o próprio Jesus Cristo. Mas a experiência Dele ressuscitado torna-se o grande baluarte e o sustentáculo maior da Igreja Missionária.
Missão e inculturação
Assim como Jesus assumiu a cultura concreta de um povo concreto, o missionário também precisa conhecer a cultura e a religiosidade do povo para poder evangelizar. Se o missionário não se inculturar, seu trabalho pastoral tornar-se-á muito difícil. Neste ponto é preciso lembrar, porém, que não existe cultura mais ou menos avançada, mais ou menos atrasada. Todo mundo tem sua própria cultura naquele momento em que vive. Por isso, sem entender os usos e costumes do povo, a missão praticamente não pode existir.
Cada comunidade que vai ao encontro do Senhor ressuscitado tem o seu passado que precisa ser respeitado, sendo que as mudanças mais profundas só podem acontecer depois de muito diálogo e compreensão.
O aprendizado de ouvir o outro, de respeitar sua cultura, de preservar seus valores, é muito necessário para que o apostolado missionário seja mais efetivo e as mudanças, mais fundamentadas. A primeira atitude deve ser sempre a do acolhimento para depois surgir a necessidade de mudança.
Como a missão é sempre obra do Espírito Santo, o missionário deve se colocar como um instrumento nas mãos de Deus, com docilidade ao seu Espírito, senão ele pode se tornar até mesmo uma pedra de tropeço e um desmotivador na hora de abraçar a causa de Cristo.
Nenhum missionário inaugura a missão, ela é anterior, existindo bem antes da pessoa que vive o profetismo da missão, mas por ela Deus passa a acontecer na prática na vida das pessoas.
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Na realidade de mundo globalizado em que vivemos, o missionário não pode pensar num discurso único, igual para todas as realidades, nem pode vir de fora com uma serie de valores a serem impostos. Em cada situação, é preciso descobrir a forma mais precisa e deixar Deus agir e fazer a Sua vontade. Assim, não são necessários apenas grandes discursos, pois o certo é colocar em prática o Evangelho, mesmo sem falar. O discurso é necessário, mas desde que venha acompanhado de um modo evangélico de viver.
O missionário precisa ser livre, não tendo nada em que se apegar, pois é chamado a viver a vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A experiência pascal de Jesus deve ser sempre o sustentáculo da missão.
A missão é também um carisma, um dom que foi confiado por Deus à Igreja. Cada cristão, na essência de seu batismo, é chamado a exercer esse serviço missionário fazendo a experiência de Deus em sua vida. O missionário deve ter uma profunda vida de oração e um cuidado e carinho especial em tudo que faz.
Desta forma, a Ação Missionária vai atingindo as diversas dimensões: comunitária, espiritual, pastoral, humano-afetiva e intelectual e, como São Paulo, podendo afirmar: “para mim, viver é Cristo”.
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