O testemunho do irmão Marcel Van, um jovem vietnamita que morreu na Guerra do Vietnã, traz uma forte mensagem de consolo diante do sofrimento. Ele morreu no dia 10 de julho de 1959, depois de viver um verdadeiro calvário ao longo de toda a sua vida.
A história da vida deste frágil e humilde missionário, embora bastante curta (ele morreu com 31 anos), traz relatos desde maus tratos na juventude, tragédias na família, perseguições e intenso sofrimento nos últimos anos de sua vida quando morreu na prisão.
Da época em que esteve preso, Irmão Marcel escreveu diversas cartas e nelas expressava profunda confiança em Deus. Olhando para a nossa realidade, em que estamos vivendo uma pandemia, onde muitas vezes estamos como que "presos" em nossas casas e vivendo dificuldades, o testemunho do irmão Marcel Van pode nos ajudar a superar alguma dor.
Então, vamos conhecer um pouco da sua história! Confira abaixo:
Ainda na infância, animado pela religiosidade de sua família, foi buscar sentido para a sua vocação. Passou a viver na casa paroquial onde recebia acompanhamento vocacional, mesmo não tendo idade para ser um seminarista. Com o tempo, vivenciou o ciúme de outros jovens por causa de sua relação com o padre Joseph Nhá. Sofreu ameaças, violências e até ficou sem alimento por conta da inimizade dos seus companheiros.
Quando um ciclone arrasou a região, Marcel e os demais jovens precisaram voltar para suas famílias. Na sua casa, devido a perda do arrozal que era o sustento da família veio a fome e a miséria, que levou o pai a viver em casas de jogo e embriagado, e ainda teve uma tragédia que deixou o irmão cego, entre outros problemas.
Durante os anos seguintes, Marcel vive como um "fugitivo". Por não conseguir o diploma dos estudos primários quando retorna para a casa paroquial, vive um longo e penoso sofrimento porque não conseguia realizar a sua vocação. Volta para casa, depois retorna para a casa do padre, volta para a casa até que não conseguindo prosseguir os estudos, resolve fugir para outra cidade.
Lá vive da caridade de uma senhora, mas é quase morto pelo filho dela, que o atacou com uma faca no pescoço. Sua história ficou conhecida e muitos queriam adotar o menino pobre que quase tinha sido degolado. Ao ir para outra família, quase foi vendido como escravo, em outra, foi criticado por sua devoção, e acabou indo pra rua vivendo como mendigo.
Marcel volta então para sua casa e lá encontra a família na mesma realidade de pobreza e o pai totalmente perdido no jogo e na bebida. Ele tinha então, apenas 12 anos.
Quando já estava sem esperança alguma, recebe uma mensagem divina: de que o sofrimento é uma dádiva de Deus e que tinha a missão transformar o sofrimento em alegria.
Ao longo dos quatro anos seguintes ainda vive grandes dificuldades, até conseguir entrar no seminário redentorista de Hanói, mas nunca desiste de seu ideal. Sua fragilidade o expunha a ridículos e acabava sendo chamado de preguiçoso. Foi nessa época que recebeu o nome de Marcel, ele tinha sito batizado como Joaquim.
Com 18 anos finalmente consegue fazer a profissão dos votos religiosos. É um dia muito alegre em sua vida! Seis anos depois realizava a profissão perpétua.
Irmão Marcel ainda viveu diversas provações, mas a maior ainda estava por vir.
Leia MaisO redentorista devoto de Santa Teresinha do Menino Jesus Ele acabou sendo preso em Hanói no dia 07 de maio de 1955, por demonstrar opiniões contrárias ao regime comunista. Como não confessava que era inimigo do regime, depois de várias horas de interrogatório, foi levado para a prisão central de Hanói. Dois anos depois ele foi transferido para o campo de concentração de Yen Binh.
Lá viveu quatro anos até que numa tentativa de fuga foi colocado na solitária, onde passou os seus últimos meses de vida.
Morreu no dia 10 de julho de 1959, de beribéri, tuberculose e exaustão diante desses sofrimentos.
Na prisão, Irmão Marcel deixou algumas mensagens que podem ajudar a compreender o mistério do sofrimento humano e como a fé em Deus é o que dá forças diante de toda dor.
Confira as mensagens que irmão Marcel escreveu na prisão:
“Desde que cheguei aqui, o meu trabalho se assemelha ao encargo de um padre de paróquia. Fora das minhas horas de trabalho forçado, devo receber as pessoas e aconselhá-las. Todos me procuram, pensando que sou um homem incansável. Veem que sou fraco, mas onde mais podem encontrar consolo? Então, é necessário que eu me doe”.
“Agradeço de coração a Deus. Estes meses de prisão não causaram qualquer prejuízo à minha vida espiritual. Muito frequentemente Deus me faz ver que é a sua vontade que estou realizando aqui. Diversas vezes pedi que me viesse buscar... A cada vez parecia-me que Ele respondia: ‘Caro filho, pense em todas estas almas que o procuram em busca de consolação, que distribuo por seu intermédio. A quem iriam e como eu chegaria a elas, se você não estivesse aí?’ Eu só poderia responder com uma palavra: Meu Deus, quero obedecer-te em tudo”.
“Na prisão, como no amor de Jesus, nada pode retirar-me a arma do amor. Nenhum sofrimento é capaz de apagar o sorriso carinhoso que deixo transparecer habitualmente no meu rosto emagrecido. E para quem é o carinho do meu sorriso, se não para Jesus, o meu Bem Amado?”.
“Só me resta o amor e, com o amor, uma vontade heroica. Sou a vítima do Amor e o Amor é toda a minha felicidade, uma felicidade indestrutível”.
“O inimigo pode destruir meu corpo, mas ele não pode abalar minha vontade. Ore muito por mim, para que eu tenha a coragem de lutar com ardor até o fim”.
.:: A misericórdia na história redentorista ::.
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