O rosto de São Clemente Maria Hofbauer

Ao tocar dos sinos da hora do Angelus, em 15 de março de 1820, morria São Clemente Maria Hofbauer. Seu corpo foi revestido com a batina redentorista, uma estola roxa, bordada com os símbolos da paixão, e o barrete sacerdotal, sendo transferido da casa vazia do capelão das irmãs ursulinas, a fim de facilitar as visitas de condolências. Rapidamente a triste notícia se espalhou pela cidade de Viena e uma multidão começou a se reunir para devotar ao santo uma derradeira saudação.

Tarde da noite, diminuindo o fluxo de visitantes, o jesuíta Pe. Friedrich Rinn, um dos mais fervorosos seguidores de nosso santo, se preparou para pintar o seu retrato, incluindo a frase do Livro do Eclesiástico: “Beati qui te viderunt, et in amicitia tua decorati sunt” (Eclo 48,11).

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A partir desta pintura nasceu quase toda a iconografia clementina

Origem da iconografia clementina

A partir desta pintura, como foi observado pelo Pe. Michele Haringer, um de seus biógrafos, na obra “Vida do Bem-Aventurado Clemente Maria Hofbauer”, publicada em Roma, no ano de 1888, nasceu quase toda a iconografia clementina.

Esta, porém, não foi a primeira imagem do santo retratada pelo Pe. Friedrich Rinn. Na verdade, ele já tinha registrado a sua imagem quando São Clemente ainda estava vivo. Ele fez um pequeno retrato pintado em aquarela num papelão, que está preservado nos Arquivos da antiga Província Redentorista de Viena, atual Província de Viena-Munique.

Enquanto no retrato feito em 15 de março de 1820, se contempla o Santo no tranquilo repouso da morte, na aquarela ele foi retratado posando, provavelmente sentado, com a cabeça virada para o observador e com a mão esquerda apoiada sobre o braço direito repousando sobre uma mesa imaginária.

A ausência de uma maior definição da anatomia do busto e com a má definição do rosto e da mão, nos leva a pensar que este tenha sido apenas um esboço, tendo em vista uma subsequente pintura definitiva. 

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Possível esboço de São Clemente Maria Hofbauer, feito pelo Pe. Friedrich Rinn

Provavelmente o Pe. Friedrich Rinn tenha desenhado os traços rapidamente, mais preocupado em compreender as especificidades morfológicas da cabeça e da expressão facial do que se preocupar com a correção formal.

Sorriso e serenidade

Nas duas representações se pode perceber uma expressão serena e sorridente de nosso santo querido. Esta é uma característica que várias testemunhas ouvidas em seu processo de canonização fizeram questão de recordar.

Entre os muitos depoimentos destaca-se o da irmã Giacoma de Welschenau, que salientou: “Em seu rosto estavam impressas uma seriedade amigável, uma alegria tranquila e uma paz intacta por uma verdadeira paixão”.

Da iconografia posterior é possível ver que os artistas nem sempre se basearam no último trabalho do Pe. Friedrich Rinn. Na verdade, algumas décadas após a morte de São Clemente, o canônico E. Von Unkrechtsberg, oblato da Congregação Redentorista, encomendou um retrato tendo enviado a aquarela como referência ao artista Joseph von Führich (1800-1876).

Este pintor, chamado de “Teólogo com a aquarela”, foi a mais importante figura do movimento de pintura chamado de nazarenos que aconteceu na Áustria e, desde 1840, era professor de composição histórica na Academia de Viena.

Von Unkrechtsberg, em sua correspondência, especificou que “na aquarela, com exceção, talvez, do cabelo, demasiado curto e demasiado grisalho, o Servo de Deus foi retratado com o brilho inconfundível que tinha antes da morte”.

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Retrato de São Clemente

Conhecendo sua estatura física

Excluindo o desenho de A. Petrak, realizado em 1864, que quase recria o retrato de 1820, nas obras de artistas posteriores, incluindo: H. Windahausen Jr, H. Burkhardt, G. Gagliardi, somente para citar alguns, é possível perceber que todos tomaram as duas obras do Pe. Friedrich Rinn como modelo, em alguns casos individualmente, em outros casos fundindo-as numa única composição.

Pelos dois retratos do Pe. Friedrich Rinn é possível perceber as características somáticas e a expressão mais característica de São Clemente, e pela descrição detalhada de sua primeira seguidora vienense, Giuseppina Biringer, podemos conhecer também algumas características de sua estatura física, postura e vestuário.

Assim, Giuseppina Biringer testemunhou no processo de canonização: “Ele tinha uma estatura média e um corpo robusto; seu peito e seus ombros eram largos; seu pescoço era bastante curto, sua cabeça era redonda e bem formada e seu rosto era bastante redondo e quase oblongo”.

Apesar de sempre manter uma alegria reservada e digna, Clemente era gentil e sorridente. Seus olhos estavam normalmente fechados, mas quando ele pregava sobre alguma verdade da fé, um esplendor saia deles como se fosse um clarão. Ele andava com o corpo erguido, com a cabeça inclinada para a frente.

Embora comesse pouco, sendo vítima de uma constante fadiga, não podia ser considerado como alguém doentio, sendo imediatamente visto como um homem forte e enérgico, e nem a sua postura corporal, nem os seus movimentos tiveram uma alteração.

São Clemente sempre usava o hábito da Congregação. No verão usava o hábito de um tecido preto claro com a gola levantada, como um manto para que as pessoas que estivessem ao seu redor não pudessem ver o terço que normalmente tinha na mão. No inverno usava o hábito feito de um tecido mais pesado. Quando caminhava pelas estradas e vias públicas, tinha sempre a cabeça coberta por um simples boné preto como era modelo dos bonés eclesiásticos. Ele tinha cabelo preto, que nos últimos anos já estavam um tanto grisalhos.

.:: Conheça a espiritualidade de São Clemente Maria Hofbauer

Fonte: Pe. Anatonio Marrazzo, C.Ss.R. e A. Owczarski, C.Ss.R. (Tradução: Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R.)