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Os Redentoristas e a Revolta Paulista de 1924

Missionários redentoristas tiveram participação ativa durante o tempo de insurreição

Escrito por Redentoristas

04 JUL 2024 - 17H04 (Atualizada em 04 JUL 2024 - 17H28)

Patrimônio Histórico C.Ss.R.

A República no Brasil, como forma de governo, foi iniciada por militares e apoiada por uma elite de políticos oligarcas, após a derrubada da monarquia imperial. O terceiro presidente da república era civil. Iniciava-se o período denominado República Velha (1899-1930). Os militares, ressentidos com o comando do país nas mãos de civis, paulistas e mineiros, que se alternavam no poder, fizeram um protesto em 1922, no Rio de Janeiro, denominado levante do Forte de Copacabana. Não conseguindo os objetivos, depois de exatos dois anos, estourou em São Paulo, capital, a Revolta Paulista de 1924. Os acontecimentos foram de 5 a 28 de julho de 1924, por jovens tenentes descontentes com a política do país. Leia MaisOs Redentoristas e a Teologia MoralConheça o convento que se tornou um farol da espiritualidade redentoristaPerpétuo Socorro: o que o ícone desta devoção nos fala

O líder do movimento foi o General Izidoro Dias Lopes. A revolta teve início com a ocupação do palácio do governo, no centro de São Paulo, fazendo com que o governador Carlos Campos fugisse para o bairro da Penha, na Zona Leste da capital. O governador instalou-se na estação ferroviária de Guaiaúna, onde liderava a resistência aos revoltosos. No bairro da Penha estavam localizados a basílica e o santuário de Nossa Senhora da Penha e o convento redentorista desde 1905. Os missionários redentoristas tiveram participação ativa durante o tempo da insurreição. As informações aqui reportadas são de cartas e do livro de crônicas da comunidade religiosa.

No primeiro dia da revolta, o bairro da Penha ficou isolado do centro da cidade. O bonde parou de circular. Enquanto a artilharia troava a uma distância de seis a dez quilômetros, não havia necessidade de fuga. Alguns padres seculares do bairro do Braz e da Mooca fugiram. No convento redentorista, foram acolhidos dois irmãos salesianos e quatro irmãos maristas, que fugiram em trajes civis, do centro da cidade. A imagem de Nossa Senhora da Penha e objetos sagrados para o culto foram enterrados no quintal do convento como forma de proteção diante de uma possível invasão, fosse ela da parte dos revoltosos como da parte da polícia legalista.

Acervo Alesp/ Divulgação
Acervo Alesp/ Divulgação
Revolta de 1924 durou 24 dias e deixou mais de 500 mortos


Na primeira semana de guerra, faltava água, energia elétrica e os bens de consumo de primeira necessidade. Os pobres, o povo, de modo geral, começavam a bater na portaria do convento pedindo víveres. Os bombardeios aumentavam, de modo especial nesses bairros operários: centro, Brás, Ipiranga, Mooca e Belenzinho. O governador estava sediado na Zona Leste e, nesses bairros entre o centro e a Penha, é que foram sentidos os efeitos desastrosos da guerra.

O Padre Antão Jorge Hechenblaickner, apenas havia assumido o cargo de reitor do santuário, e passou a liderar as negociações por comida e por paz entre os dois lados beligerantes. Ele saiu do convento da Penha e foi ao Palácio São Luís, a pé e de carroça, conferenciar com o Arcebispo Dom Duarte Leopoldo. De lá saiu com a incumbência de contactar o General Dias Lopes e pedir comida para os pobres que batiam à porta do convento. O próprio General respondeu positivamente, e que iria pessoalmente levar os víveres ao convento. Havia muitos mortos e a fome apertava os moradores. Enquanto isso o reitor passou a negociar sobre a rendição, postos nos trens para paroquianos fugirem para o interior e comida para os que ficavam... atravessando o front de guerra. Garantiu também que dois padres redentoristas dessem atendimento nos hospitais, como capelães, e outro, o Padre Antônio Andrade, assumisse a cura de uma paróquia. Os padres capelães foram Valentin Mooser e Pedro Feichtner, incansáveis no atendimento aos doentes, moribundos e mortos pela guerra.

Patrimônio Histórico C.Ss.R.
Patrimônio Histórico C.Ss.R.
Pe. Valentim Mooser, C.Ss.R., foi um dos capelães e trabalhou no atendimento aos doentes, moribundos e mortos pela guerra


Depois de quinze dias de batalhas, as forças legalistas do Presidente Artur Bernardes iam ganhando terreno. Aliás, um dos objetivos dos revoltosos era a derrubada do governo presidencial. Mas havia outros pontos reivindicatórios como voto secreto, ensino público gratuito e moralização da política. Os revoltosos perderam mais essa batalha, mas continuaram na luta e se juntaram com outras pessoas e propostas de mudanças, integrando a Coluna Prestes

Patrimônio Histórico C.Ss.R.
Patrimônio Histórico C.Ss.R.
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha

Por mais de vinte dias, o convento redentorista, com a ajuda das Irmãs Vicentinas do colégio ao lado do santuário da Penha, distribuíram comida para mais de 500 pessoas. O governo facilitava a saída de moradores para as cidades de Mogi das Cruzes, São José dos Campos e Caçapava. Mas havia o problema de deixar a casa fechada e ser roubada pelos ladrões. Em situação de guerra, o sofrimento humano é colocado em questão. Dois dias antes do término da guerra, já se contabilizava quinhentos mortos e centenas de feridos. Transcrevemos, ipsis litteris, o desfecho entre revoltosos e legalistas e o papel exercido pelo reitor, atravessando o front para levar os bilhetes trocados entre os líderes. 

Quase ao final, os Redentoristas já se perguntavam: mas, quanto tempo é que ainda poderia durar esse tempo de penitência e de provação? O comando dos legalistas assegurava constantemente estar seguro da vitória, mas que queriam evitar derramamento de sangue e necessários sacrifícios de vidas humanas. No dia 26 de julho, de manhã, a pedido do General Pantaleão Teles (amigo do General Isidoro), o reitor (Padre Antão) foi levar um bilhete dos legalistas aconselhando os revoltosos a se renderem, honrosamente. O reitor foi admitido na presença do General Isidoro, que o recebera muito cortejante e declarou estar pronto a depor as armas, mas só depois de saber as garantias que o governo lhe oferecia. O reitor prometeu voltar logo que soubesse das condições que o governo propunha aos revoltosos. 

Patrimônio Histórico C.Ss.R.
Patrimônio Histórico C.Ss.R.
Padre Antônio Andrade (em pé) e Padre Antão Jorge tiveram papéis fundamentais no período da Revolta Paulista de 1924

O reitor atravessou novamente a cidade, voltando para a Penha, mas por outro caminho, desta vez pelo Rio Tietê. Foi preso por uma patrulha e levado ao comando. Ao chegar à estação Guaiaúna, soube que os governos estadual e federal exigiam rendição incondicional. À noite, Padre Antão estava na estação da Luz para entregar a mensagem do governo federal: “os revoltosos devem se entregar sem garantias, a não ser as da lei, isto é, processados, mas não fuzilados”. O General Isidoro relutava e coube ao Padre Antão convencê-lo de que não podia vencer os legalistas. Havia forças militares chegando de outros Estados. Tudo isso aconteceu na noite de 27 de julho, recrudescendo o bombardeio e, na madrugada do dia 28, os sinos anunciavam o fim da revolução. Os rebeldes marcharam para o Estado do Mato Grosso, engrossando a Coluna Prestes. O reitor só pôde chegar ao convento da Penha quando as trincheiras estavam sendo recolhidas, no centro e nos bairros operários envolvidos na questão. Mais tarde, Padre Antão foi condecorado e recebido no Palácio do Governador, que doara uma pia batismal para a Igreja. Terminados os dias de guerra, coube ainda ao reitor ajudar na reconstrução de casas, auxílios às famílias enlutadas e às que voltavam do interior fugidas durante o conflito. A ação dos Redentoristas foi de fundamental importância para minorar o sofrimento do povo e para a reconciliação dos lados beligerantes.

.:: Padre Antão Jorge, o missionário pioneiro na construção de Aparecida

Fonte: Pe. Gilberto Paiva, C.Ss.R.

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