Por Elisangela Cavalheiro Em Notícias Atualizada em 26 MAI 2020 - 15H55

Padre luta contra pandemia que atinge pobres em Manaus

Que o novo coronavírus é democrático, disso não se tem dúvida. Ele atinge pessoas de várias idades, de várias classes sociais e independe de raça ou cor. Mas a enorme desigualdade social mostra que o Brasil nem tanto.

Um em cada quatro brasileiros, ou seja, 52,5 milhões de pessoas vive em condição de pobreza com renda abaixo de 420 reais. Outros 13,5 milhões vivem com renda de até 145 reais por mês: estes são os que vivem em condição de extrema pobreza. Com essa conta, não é muito difícil de entender que essas pessoas são as que mais sofrem diante da pandemia.

Uma paróquia redentorista localizada no bairro Educandos, em Manaus, quarto estado no país em número de pessoas que vivem nessas condições, sabe bem como é a realidade dos pobres em tempos de Covid-19.

O padre redentorista, Alfredo Viana, que trabalha na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, falou sobre como a comunidade tem procurado ajudar a população que vive na periferia, principalmente, nas palafitas, que são casas construídas sobre as águas de maneira precária e improvisada.

“A realidade da pandemia afeta a todos, mas mais fortemente os que estão em situação de maior vulnerabilidade social, os que vivem nos bolsões de pobreza. Temos regiões que se encaixam nesse contexto em nossa paróquia e são eles que sofrem mais com a pandemia. Eles passam por dificuldades econômicas, falta de emprego, falta de alimentos, e mesmo com o auxílio que parcialmente tem chegado, suas dificuldades são muito grandes”, esclarece o padre.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Padre Alfredo junto com leigo entregando máscaras.



Além da pobreza, da dificuldade em ter acesso à saúde, de viver junto do esgoto a céu aberto, o missionário ainda sente a indiferença quando perguntam por que
“esse povo não fica em casa?”.

“Deveriam ficar, mas é praticamente impossível às vezes, porque são muitas casas, um aglomerado muito grande de casas, na maioria delas muitas pessoas vivendo num pequeno espaço e elas precisam sair para trabalhar, para conseguir algo para comer e sem falar na nossa temperatura. O clima de Manaus é muito quente, as casas sendo precárias, as pessoas não conseguem ficar dentro delas. Tenho a impressão de que é melhor ficar em casa, mas em algumas realidades é praticamente impossível”, afirma.

A resposta não é simples para essas situações. Por isso, a paróquia tem procurado ajudar no que é emergencial. Alimentos, máscaras e orientação são as realidades que estão ao alcance nesse momento.

Segundo o padre Alfredo, por meio de um trabalho que já era desenvolvido pela Pastoral Social da paróquia que atende a cerca de 80 famílias numa região de maior vulnerabilidade, já foram distribuídas 150 cestas básicas, cerca de duas mil máscaras foram entregues e ainda um número não contabilizado de frutas, legumes e verduras já chegaram às famílias por três vezes durante a pandemia. Esse último é um benefício que a paróquia conseguiu por meio de um cadastro na Secretaria de Assistência Social do Estado. Mas é a paróquia que fica responsável por buscar, selecionar, dividir e entregar.

“Nós buscamos tudo isso e nas dependências da paróquia com a ajuda de alguns leigos e seminaristas fazemos a seleção, divisão e distribuição para as famílias necessitadas", explica o missionário.

Para a confecção das máscaras, o padre informou que conta com a ajuda de voluntários. Nesse grupo somam-se 13 seminaristas que moram na comunidade religiosa da paróquia, 3 padres e alguns leigos. Além da entrega da máscara, a equipe ainda dá orientações para as famílias.

“Até o momento já distribuímos quase duas mil máscaras e o trabalho continua, sobretudo, pela repercussão que gerou esse trabalho. Várias pessoas tem nos ajudado e oferecido materiais para que o trabalho possa continuar. O grupo que faz a distribuição tenta conscientizar sobre o uso da máscara, de manter o distanciamento social e fazer a higienização das mãos. Neste momento de crise pensamos em fazer esse gesto e conseguimos com a ajuda de cinco costureiras que doam voluntariamente seu trabalho, uma inclusive nem é católica mas é nossa irmã na fé”, completa padre Alfredo lembrando que a Igreja vive por estes dias a Semana da Unidade dos Cristãos.

O material para a confecção das máscaras é adquirido por meio do fundo social da paróquia e doações. Algumas máscaras carregam a imagem da padroeira da paróquia.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Algumas máscaras possuem a imagem da padroeira.


Solidariedade

Desse momento, o padre Alfredo tem tirado uma lição que mostra que nos lugares onde há mais simplicidade, existe também maior compaixão e solidariedade.

“O que tem me marcado nesse período neste período é que o coração das pessoas parece que vem se dilatando porque a caridade e o amor não cabe no coração e ele precisa aumentar. Então, a caridade vem crescendo em muitos corações. Neste clima tão difícil de pandemia perceber esse crescimento tem sido muito bonito. Desde aqueles que procuram ajudar doando materiais, cestas básicas, ajuda econômica, e muitas pessoas que procuram ajudar e fazem isso sem o mínimo interesse de aparecer, mas por pura gratuidade e solidariedade. Percebo que as pessoas estão pensando menos em si mesmas e estão mais preocupadas com o irmão. Tem me marcado muito a solidariedade que vem se multiplicando e tenho certeza que ela é umas das melhores formas para enfrentar essa pandemia”, celebra o missionário.

Leia MaisCurado do coronavírus Missionário Redentorista participa de pesquisaMissionário Redentorista oferece terapia on-line durante a pandemiaParóquias redentoristas vivenciam quarentena com missas ao vivo e caridadeSegundo o padre, a realidade da pandemia em Manaus deveria levar a um maior isolamento social para buscar minimizar o avanço do vírus.

Por outro lado, há necessidade de ampliação das políticas públicas voltadas para os mais pobres para que eles não continuem a ser os mais afetados por essa crise.

Doações

Quem quiser ajudar a paróquia pode entregar alimentos, material para confecção de máscaras, álcool em gel e ainda com a força de trabalho, ou seja, pessoas que possam ajudar a costurar as máscaras. Já aos que estão distantes, o padre pede que “através de suas orações e do cuidado consigo e com os outros possam colaborar conosco”.

Ao agradecer as pessoas que já tem ajudado nas campanhas da paróquia o padre acredita na responsabilidade compartilhada. “É uma luta de todos contra esse vírus!”, finaliza padre Alfredo Viana.

Serviço

Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
Rua Inocêncio de Araújo, 44 - Manaus - AM
Telefone: (92) 99601-8457
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