Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, participação e missão

O Papa Francisco convocou-nos a viver e refletir um sínodo sobre a sinodalidade, aspecto essencial da nossa vida cristã. No ano de 2024, após diversas etapas nos níveis das conferências, dioceses e paróquias, concluímos parte desse caminho com a contemplação das vozes que ecoaram em toda a Igreja nas mais diversas temáticas. O sínodo não foi um momento, mas um apelo a um estado constante da Igreja.

Retomar ao modo originário de viver das origens nas primeiras comunidades cristãs, realidade que precisa ser reafirmada nos tempos atuais, e talvez seja isso que o Papa Francisco quis inquietar ao estruturar esse momento sinodal: assumir o lugar de uma igreja que escuta, dialoga, e encontra caminhos para responder aos apelos do mundo.

Nesta perspectiva, a sinodalidade representa muito mais do que a celebração de encontros eclesiais e assembleias de bispos, ou uma questão de simples organização interna; ela aponta o específico modus vivendi et operandi da Igreja, o Povo de Deus, que manifesta e realiza o ser comunhão no caminhar juntos, no reunir-se e no participar ativamente de todos os seus membros na sua missão evangelizadora.

Essa é a chave de compreensão: somos e precisamos ser sempre uma igreja sinodal, ou seja, que caminha juntos rumo a um horizonte nítido. Caminhar juntos pressupõe uma comum união (comunhão), tomar parte da ação (participação), e ir além das estruturas (missão).

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Quando insistimos em falar no caminhar juntos, precisamos ter muito cuidado para que não se torne uma frase poética, descomprometida do esforço diário de realização em nossa vida e comunidades. Atitude que gera renúncia de nós mesmos e conversão, indo ao encontro do projeto de seguimento de Cristo “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo (Lc 9,23)”.

Há uma grande tentação de pensar essa caminhada a partir do lugar que cada um se encontra. “Estou disposto a caminhar junto! Venha até a mim, a partir de minha lógica, meu carisma, meu jeito de ser, e vamos!” Dessa maneira nada acontecerá! Na escuta do Espírito, redescobrimos a essência da vida cristã e o nosso projeto de vida, e juntos, orientados pelo próprio Cristo, seguimos como irmãos, fundamentando o nosso agir no respeito, acolhida, inclusão, escuta e participação.

O caminhar junto envolve e gera participação da comunidade e na comunidade também daqueles que estão por algum motivo fora, mas que podem colaborar. O caminhar isolado mata o espírito eclesial. É preciso perceber que o Espírito é força que envolve.

Talvez esse seja um critério para sabermos se nossos projetos e iniciativas são inspirações do Espírito: há possibilidade de envolver outras pessoas? Isso faz refletir sobre a comunhão — A união no agir, sentir e viver a Igreja. Recordando que o que nos une é nosso batismo em Cristo.

A participação refere-se ao tomar parte na ação evangelizadora. Chega um momento que é necessário sair da multidão e tornar-se discípulo. Significa envolver-se! Passar dos bancos para as pastorais. Deixar o pensamento de obrigação para compromisso que possibilita ser comunidade. Participar é então, encontrar e ocupar o nosso lugar, respondendo à nossa vocação.

Sem dúvidas esse é um tempo da graça de Deus em nossa Igreja e que será ainda mais fortalecida com o Jubileu da Esperança. Em uma sociedade fragmentada e egoísta, reacendemos luzes no desejo de continuarmos testemunhando a comunhão, fraternidade e o Evangelho de Cristo, sendo sal da terra e luz do mundo.

Pe. Marcos da Silva Santos, C.Ss.R.

Fonte: Texto escrito originalmente para a revista "Focus Provincialis"