Por Redentoristas Em Notícias Atualizada em 02 MAR 2020 - 11H26

Suicídio assistido: como a Igreja na Suíça enfrenta essa realidade

No artigo, entenda como a Igreja tem se colocado na Suíça onde o suicídio assistido acontece.

A discussão bioética sobre o fim da vida nos últimos anos se concentrou no chamado direito de morrer do paciente como a expressão máxima de sua autonomia. Do ponto de vista racional, parece absurdo que um sujeito se afirme com um ato que tem como objetivo a autodestruição: estar vivendo é a condição prévia para poder tomar qualquer decisão e, por esse motivo, a vida não pode ser um possível objeto de escolha.

Shutterstock.
Shutterstock.
Como a Igreja se coloca na Suíça onde o suicídio assistido acontece.


A
legalização ou tolerância em alguns países do suicídio de um paciente com a assistência de um profissional de saúde é um desafio para o cuidado pastoral: a vontade de se dar a morte nunca é um ato moralmente aceitável, assim como não é aceitável colaborar na realização de uma intenção suicida. No entanto, parece contrário à caridade que uma pessoa sofredora deva ser deixada sozinha pela comunidade cristã em um momento tão dramático; por esse motivo, vários documentos foram produzidos nos últimos anos que tratam dessa nova e perturbadora situação. Em dezembro de 2019, após intenso debate interno, foi publicado um documento da Conferência dos Bispos Suíços: "Atitude pastoral face à prática do suicídio assistido". 

[A Suíça permite o suicídio assistido desde 1942. No Brasil é crime de acordo com o artigo 122, do Código Penal]

O documento toma nota da crescente demanda por suicídio assistido e o examina do ponto de vista psicológico, sociológico e ético. O desejo de suicídio pode ser despertado pelo medo de sofrer um sofrimento insuportável ou cair na fúria terapêutica ou perder a dignidade de alguém no final da vida, mas também por um profundo senso de futilidade, especialmente em idosos. É dever da sociedade proporcionar proximidade, cuidado e cuidados paliativos, que são as verdadeiras respostas às causas do suicídio assistido. Pode-se entender a dinâmica psicológica que leva à demanda por suicídio, mas nunca se pode justificar um ato intencionalmente suicida, nem se pode colaborar nele, principalmente quando se trata de profissionais de saúde que, pela ética profissional, devem sempre ser a serviço da vida (cf. At 7-11).

A posição do agente pastoral é bastante delicada. Os bispos suíços formulam uma regra geral que exige um discernimento cuidadoso caso a caso: “É necessário acompanhar as pessoas que decidiram cometer suicídio assistido clinicamente, na medida do possível”. O acompanhamento envolve anotar intenções suicidas, sem que isso signifique compartilhá-las e sem nunca perder a esperança de que serão superadas. “Pelo contrário, é preciso considerar que o acompanhamento espiritual é um caminho de amadurecimento e purificação de todos os desejos, sob o olhar de ternura e misericórdia de Deus”.

:: Você já ouviu falar de ortotanásia, que é a compreensão da Igreja em oposição à eutanásia? Confere aqui! 

A celebração do Sacramento da Reconciliação e a comunhão eucarística, neste contexto de acompanhamento, exigem uma boa avaliação das disposições dos fiéis, tanto no que se refere à real consciência da inaceitabilidade de uma escolha suicida quanto no que se refere à vontade de questionar e superá-lo. A terceira parte do documento fornece uma tipologia ampla e variada de situações. Quando providências suficientes são tomadas e não há risco de dar a impressão de justificar uma escolha anti-evangélica, os sacramentos podem ser celebrados, mas essa celebração não é de forma alguma concedida quando a morte não é aceita, mas é adquirida conscientemente e voluntariamente. O viaticum (viático) é o sacramento da vida que acompanha os fiéis na aceitação da morte como passagem e não pode ser recebido no contexto de uma busca voluntária pela morte.

Leia MaisQuero me suicidar!Vamos falar sobre suicídio? Saiba como superar mitos, ter atenção aos sinais de alerta e ação preventivaO sacerdote é convidado a permanecer com o candidato a suicídio até o último momento, na esperança de uma mudança de intenção, mas "deve sair do quarto do paciente quando o procedimento imediatamente anterior à ingestão do produto letal começar". De acordo com as indicações dos Bispos, ele é enviado para se apresentar perto do local do suicídio, a fim de poder intervir a qualquer momento, em caso de sinais de arrependimento, mesmo nos minutos - em média cerca de vinte - que decorrem entre a ingestão da droga letal e da perda de consciência antes da morte.

A imprensa, inclusive a católica, sublinhou nas manchetes e nos comentários esse abandono da sala pelo padre, favorecendo uma falsa impressão do documento que não dá indicações operacionais nem rigorosas nem excludentes, mas que é inspirado por muita pena, compreensão e paciência. A experiência pastoral diária será o teste final da bondade dessas orientações.

Pe. Maurizio P. Faggioni, OFM
Academia Afonsiana

Fonte: Blog da Academia Afonsiana.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Redentoristas, em Notícias

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...