Com a recente tragédia ocorrida em várias cidades do estado de Minas Gerais, vem à tona uma reflexão que o bispo redentorista Dom Vicente de Paula Ferreira chama de “sofrimento ambiental”. Segundo o bispo, esta triste realidade exige o posicionamento da “ecologia integral” que propõe o Papa Francisco na encíclica Laudato Si.
Dom Vicente sublinha que a gravidade cada vez mais evidente das tragédias mostra a ineficácia de um modelo de urbanização que não considera a natureza.
“A gente costuma dizer no meio da psicologia: ‘ninguém consegue recalcar a natureza, abafar a natureza, ela tem uma força própria’. Se a gente não a considera, ela vai voltar-se contra a gente”, e conclui: “vivemos uma aguda crise socioambiental na humanidade”, analisa o bispo.
O projeto da Laudato Si propõe uma nova maneira de compreender a relação entre o ser humano e a natureza nas suas mais diversas dimensões e abrir a todos uma maior consciência sobre as consequências do modelo econômico que tem elevado o planeta a estágios alarmantes de degradação social e ambiental.
“Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós”, escreve o papa no número 14 da encíclica.
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Dom Vicente faz uma crítica no sentido de ajudar os católicos a compreender a relevância dessa discussão, diante de uma grande tragédia como a de Minas Gerais.
Segundo o bispo é preciso uma intervenção missionária que vença a “esquizofrenia e a separação entre a fé e a doutrina e a inserção na vida”.
Leia MaisDois anos depois da tragédia de Brumadinho, relembre canção de Dom Vicente “Esta interligação tem que entrar em nosso processo de evangelização. O católico, infelizmente, e até com alguns grupos, que tendem muito mais à alienação, consideram que fé é se restringir ao interior de um dogma, de uma crença para dentro de uma Igreja e não consegue olhar para a globalidade de a vida humana e do planeta. E a Teologia, Eclesiologia, a nossa fé cristã nos ensina a ser cristãos no mundo”, explica.
Essa harmonia entre fé e vida deve enfrentar, segundo dom Vicente, o perigo de “uma fé muito revestida de um certo fanatismo, inclusive, que não nos abre para o diálogo conosco, com os outros, com o mundo e, talvez, muito menos com Deus, porque o nosso Deus é o Deus da vida, o Deus da criação que é comunhão”.
Diante das ações de caridade já protagonizadas por muitas comunidades católicas, Dom Vicente reforça que “a Igreja é doutora em caridade”, entretanto é preciso alcançar ainda mais realidades e de forma mais incisiva e organizada.
“Não basta essa caridade imediata, a gente também tem que perguntar pelas causas disso tudo. Quando a gente começa a perguntar ‘quem matou?’, ‘porque?’. Aí já começa a complicar a nossa vida, inclusive as perseguições, as indagações, porque o profetismo é o amparo imediato, mas também é a denúncia para que a gente possa transformar a nossa realidade”, exorta.
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A encíclica Laudato Si vai completar cinco anos de sua publicação no próximo mês de maio.
Dom Vicente é bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) e membro da Comissão Especial sobre Mineração e Ecologia Integral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele pertence à Província Redentorista do Rio.
Fonte: CNBB.
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