Por Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R. Em Palavra Redentorista Atualizada em 25 NOV 2019 - 08H16

As leis da Robótica seriam aplicáveis no contexto atual?

No filme "O homem bicentenário"robô NDR Andrew apresenta as três leis da robótica. São elas: 1) Um robô não pode ferir um ser humano ou por inação; 2) Um robô deve obedecer às ordens que lhe foram dadas por seres humanos, exceto nos casos e que tais ordem contrariem a primeira lei; e 3) robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a primeira e segunda leis. Uma quarta lei, é acrescentada posteriormente pelo autor, a chamada Lei Zero: Um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por inação, permitir que ela sofra algum mal.

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Os tempos mudaram e o nível de aplicação dessas leis são muito limitados.


Estas leis seriam aplicáveis no contexto atual? Asimov, de certo modo já intui a complexidade decorrente da ação dos robôs, mesmo de forma incipiente, e elabora tais regras considerando certas ações destas máquinas construídas com um nível de inteligência artificial, poderiam alcançar certa autonomia, deixando de lado a própria programação. Assim, ele formula tais leis que, no seu conjunto, possuem um conteúdo ético. Obviamente, que os tempos mudaram e o nível de aplicação dessas leis são muito limitados, uma vez que são intuídas desde o contexto da ficção científica. Mesmo que vigorassem atualmente, como toda a ética, não resolveriam todos os problemas e dilemas, mas abrem a discussão neste campo.

Leia MaisRoboética: alguns conceitos fundamentaisRoboética: um começo de conversa sobre Inteligência Artificial e ÉticaA Engineering and Physical Sciences Research Council (EPSRC), ao comentar as leis de Asimov afirma: "Embora sejam um ponto de partida útil para a discussão, as regras de Asimov são dispositivos fictícios. Não foram escritos para serem usadas na vida real e não seria prático fazê-lo, até porque simplesmente não funcionam na prática. Por exemplo, como um robô pode conhecer todas as formas possíveis de prejudicar um humano? Como um robô pode entender e obedecer a todas as ordens humanas, quando até as pessoas ficam confusas sobre o que as instruções significam? As histórias de Asimov também mostraram que, mesmo em um mundo de robôs inteligentes, suas leis sempre podiam ser evitadas e lacunas encontradas. Mas, finalmente, e mais importante, as leis de Asimov são inadequadas porque tentam insistir em que os robôs se comportem de certas maneiras, como se fossem pessoas, quando na vida real são os humanos que projetam e usam os robôs que devem ser os sujeitos reais de qualquer lei".

Partindo da reflexão incitada pelas leis de Asimov, seus limites e da necessidade de ter princípios orientadores para designers, construtores e usuários de robôs, um grupo de expertos do EPSRC e da Arts and Humanities Research Council Robotics Retreat formulou estes princípios:

1) Os robôs são ferramentas multiuso. Não devem ser projetados exclusiva ou principalmente para matar ou prejudicar seres humanos, exceto no interesse da segurança nacional.

2) Humanos, não robôs, são agentes responsáveis. Os robôs devem ser projetados; operados na medida do possível para cumprir as leis e direitos e liberdades fundamentais existentes, incluindo a privacidade. 

3) Robôs são produtos. Eles devem ser projetados usando processos usando processos que assegurem sua segurança e proteção.

4) Robôs são artefatos fabricados. Eles não devem ser projetados de maneira enganosa para explorar usuários vulneráveis; em vez disso, a natureza da máquina deve ser transparente.

5) A um robô se deve atribuir uma pessoa com responsabilidade legal.

Vincent C. Müller faz uma interessante crítica desses cinco princípios em seu texto Legal vs. ethical obligations – a comment on the EPSRC’s principles for robotics, ao refletir sobre a necessidade de diferenciar obrigações legais e exigências éticas. Müller retoma estes princípios, busca reestruturá-los em bases legais e éticas e evidencia também os limites existentes neles, uma vez que este campo do saber é recente e aberto às novas questões éticas e legais.

Portanto, a validade dos princípios de Asimov não está, hoje, na sua aplicação prática, mas na intuição de que é necessário, neste novo campo do saber, avançar cada vez mais, preparando-se teórica e tecnicamente para formular princípios que considerem tanto a positividade e os avanços desta nova área, de modo que se expanda, respeitando sempre o princípio do agir e viver bem entre tecnologia e sociedade.


Texto postado originalmente no blog da Accademia Alfonsiana.


Fonte: Accademia Alfonsiana

Escrito por
Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R. (Foto Deniele Simões JS)
Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R.

Missionário redentorista, formado em Filosofia e Teologia, com doutorado em Teologia Moral. Lecionou no ITESP e na Academia Alfonsiana de Roma. Atualmente é Conselheiro do Governo Geral da Congregação Redentorista.

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