Angelo Martinez Miqueléz

Aos 29 anos foi cortada e derrubada esta árvore, que tantos e tão ricos frutos prometia

Angel nasceu num povoado de Navarra, chamado Funes, aos 2 de março de 1907. Foi batizado no dia seguinte. José Martinez e Joana Miquélez era como se chamavam seus pais. Quando religioso, Angel será chamado pelo sobrenome da mãe, Miquélez, porque já havia um padre com o nome de Martínez.

Dona Joana morreu cedo. Angel foi confiado aos cuidados da irmã de seu pai, sua madrinha além de tia, que, muito piedosa, tomou o menino nos braços, colocou-se diante do altar da Virgem e o entregou à sua especial proteção. Já maiorzinho, a partir do momento que soube desse gesto, e até o fim da vida, irá recordar-se dele sempre com emoção.

Quando Angel tinha cinco anos, toda a família mudou-se para Buenos Aires, em busca de vida um pouco melhor, pois a pequena porção de terra que possuía o senhor José mal dava para que ela sobrevivesse. Durou dois anos a aventura, e tiveram que voltar à sua Espanha, pois, se em Funes não iam bem as coisas, em Buenos Aires andaram pior.

Tentando estabelecer-se, o pai de Angel ficou alguns meses com a família em Navarra. Conseguiu colocar Angel no colégio dos Padres Esculápios. Inteligente, aplicado e piedoso, começou a chamar a atenção dos padres, que já o olhavam com interesse. Mas Deus tinha outros planos para o menino.

Ainda quando a família estava em Navarra, houve missões redentoristas em Funes. Madalena, a madrinha de Angel, foi conversar com os missionários a respeito de três sobrinhos seus, especialmente sobre Angel, seu afilhado. Meses depois, quando os missionários retornaram para a renovação da missão, sua família já havia voltado a morar em Funes. Angel gostou dos missionários e os acompanhava por onde iam.

Não deu outra: em fins de fevereiro de 1918, antes portanto de completar onze anos, Angel foi admitido no El Espino. Fez com êxito os estudos colegiais, pois, como já se viu, era inteligente e aplicado, e, além disso, muito sério em tudo o que fazia. Seu ano de Noviciado, feito em seguida, também transcorreu sem novidades. A 24 de agosto de 1925, pronunciava seus votos religiosos.

Os seis anos de Filosofia e Teologia não foram diferentes, ou, se foram, o foram para melhor, pois suas notas, salvo raras exceções, sempre estiveram entre excelentes ou ótimas. Sua ficha, tanto do Noviciado como do Seminário Maior, é a mesma: “Talentoso, ajuizado, de boa índole; sério, correto, piedoso, constante, amante da vocação. Um pouco teimoso”. 

Teimosia, aliás, olhada sob determinado ângulo, pode significar perseverança. E foi com perseverança que Angel Martínez Miquélez chegou ao sacerdócio em 20 de setembro de 1930. Nesse mesmo ano foi designado como professor de Filosofia, cargo que desempenhou até 1934, quando, pela metade do ano escolar, teve de ser substituído devido a um esgotamento nervoso causado por excesso de esforço e trabalho. Deram-lhe um tempo de descanso no El Espino. Já em abril do mesmo ano, recuperado, convidaram-no a pregar duas missões. Em maio foi para a casa de Granada, onde só esteve poucos meses, pois em 6 de outubro chegava à Comunidade do Perpétuo Socorro, com o cargo de secretário particular do Superior Provincial. 

Em 28 de dezembro, com pouco mais de dois meses nesse cargo, escreveu a seu irmão João, a essas alturas professo redentorista como irmão coadjutor com o nome de Firmino: “A secretaria provincial vai-se fazendo aos poucos. Não me impede de pregar em casa e fora. Em 6, 7 e 8 de dezembro, preguei um tríduo na paróquia do Pilar; foi meu grande batismo como pregador, pois um tríduo para mim – filósofo até agora – era coisa de outro mundo. Mas saiu bem: é preciso ser otimista”. 

Depois de duas missões pregadas no ano seguinte junto com o grande missionário padre Sarabia, deixou anotado: “Creio que aprendi muito do companheiro para a vida apostólica”. De fato, em 12 de abril tocou-lhe fazer a abertura da missão de Griñón. Já eram os tempos difíceis da ditadura marxista, tempos em que aconteciam aqui e ali fatos deploráveis para a religião. Um desses foi exatamente nos dias da missão em Griñón, quando um bando de sacrílegos entrou na igreja à noite, arrombou o sacrário e esparramou as hóstias consagradas pelo chão da igreja. O povo revoltou-se, fez atos de desagravo, e acorreu em maior número e com mais fervor à missão. 

Mesmo contando apenas 28 anos, padre Miquélez mostra ser homem maduro e experimentado. Eis o que escreveu, por exemplo, a seu irmão João, por ocasião de sua profissão como irmão redentorista: “... a gente é feliz quando se vence, quando se sacrifica. Os homens que se põem a satisfazer seus gostos e a gozar de comodidades vão encontrá-los muito mesclados de dissabores; isto é certíssimo, e, algumas vezes, ali onde pensavam ser plenamente felizes acham verdadeiros martírios. Muitos deixaram-se levar pelos atrativos do mundo, e ao experimentar o ilusório de tudo aquilo não tiveram outro remédio senão lamentar seu erro pelo resto da vida”.

As nomeações trienais de 1936 só o fazem mudar de casa, não de cidade: sai da Comunidade do Perpétuo Socorro e vai para a de São Miguel, ambas em Madri. A partir da transferência, teve a mesma sorte do padre Ortiz e do irmão Gabriel, como já se viu páginas atrás: tornou-se mais um ilustre ‘desaparecido’. Tinha só 29 anos.

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