Na hagiografia cristã, o caso do Venerável Padre Francisco Barrechegurem Montagut é um caso único: foi casado, pai, viúvo, religioso redentorista, sacerdote.
Sua vida foi a de um novo Jó: órfão de pai com um ano de idade e de mãe aos 5 anos. Por 18 anos sofre do estômago, sua filha fica enferma aos 13 anos e morre aos 21. Sua esposa se torna louca e o faz andar pela estrada da amargura. Contudo está sempre afável, bondoso, com um sorriso nos lábios, dando graças a Deus: Bendito seja Deus que me leva por um caminho verdadeiramente extraordinário de cruzes.
Nasceu dia 21 de agosto de 1881. Seus Pais Manuel e a mãe Manuela, Ele nasceu em Lérida e ela, em Barcelona. Batizado no dia 31 de agosto do mesmo ano. Um tio será o tutor de suas grandes posses. E ele vai morar com duas tias em Granada. É de saúde frágil. Faz a primeira comunhão aos 7 anos, antes mesmo da permissão de Pio X. Sobreveio forte febre inexplicável. Esta será sua marca: sempre carregando alguma cruz.
Inicia seus estudos no Colégio Aguilera e Palo, de grande fama. Recebeu forte informação religiosa e intelectual. Participava efusivamente de todas as festas.
Sua noiva, Concha Garcia, era sua vizinha de frente e eram amigos desde os 7 anos. O namora e noivado terminaram com o casamento no dia 2 de outubro de 1904. Fizeram longa viagem de núpcias, passando por diversos paises, inclusive Roma, onde puderam estar na Igreja de Santo Afonso diante do quadro de N.S.P. Socorro do qual era devotíssima D. Concha. Pediram por acaso ao cocheiro que parasse diante da Igreja. Tiveram oportunidade de uma audiência com o Papa S. Pio X.
Tinham uma elegante casa de tres andares na Gran Via 20, onde vivem 22 anos, até à morte de Conchita no primeiro andar. Sr. Francisco herdara de sua família. Ele é o tipo impecável, tem um temperamento alegre e simpático, de fino humor, bondoso e sorridente, ocultando o que se passava em seu interior. Homem de muita formação intelectual devido ao colégio, às viagens e às leituras, tendo boa biblioteca particular. Pintava e era perito na fotografia. Gostava de teatro e touradas. Apreciador de comida refinada. Era um marido enamorado da esposa que era uma das mulheres mais belas de Granada, terra onde abundam as mulheres bonitas. Dizem de D. Concha: bonita, muito agradável, simpática e simples. Outro diz: belíssima, capaz de enamorar qualquer um. Era sobretudo piedosa. Sempre nas fainas da casa. Saia pouco e sempre de braços dados com o marido. Com a filha, formarão um trio inseparável.
Francisco trabalhava. Seu avô tinha uma fábrica de tecidos de algodão, lonas e seda. Francisco ajudava seu tio do despacho, cuidava da correspondência. Era o administrador da empresa. Nisso trabalhou desde que deixou os estudos até 1915, quando morreu seu tio e o negócio passou para a prima.
Nascimento da filha: dia 27 de novembro de 1905 nasce aquela que será chamada a Flor de Granada. Foi batizada dia 8 de dezembro, com o nome de Maria de la Concepción Del Perpétuo Socorro, Francisca de Paula, Eloísa y primitiva da Santíssima Trindade, Conchita. O pai, a convite de amigos parte para uma viagem. Nestes dias, ela, com um ano e 7 meses tem uma doença grave que a põe em risco de vida. Ao voltar e beijar a filha, ela desperta e o chama de papai pela primeira vez. Graças a N.S.de Lourdes, a menina se recupera.
Para a formação da filha cristã e intelectual, ele faz tudo em casa, sendo ele e a mãe os professores de todas as matérias. O médico aconselhara não forçar a menina. A mãe não passava a filha às empregadas. Preparam também para a primeira comunhão dia 25.12.12. A Eucaristia é centro de sua vida. Dá-lhe uma educação completa.
Francisco levanta cedo para a missa diária e às 8 está no trabalho. Tinha uma vida espiritual boa, mas só boa. Sofria muito com os males do estômago, com dificuldades para comer. Tendo ido fazer tratamento de água, com a oração consegue recuperar-se rapidamente. No relacionamento com a filha, eleva sua vida espiritual e compreende o sentido do sofrimento e passa a uma vida mais recolhida.
A vida familiar de profundo amor e alegria, com festas; assam a ter consertos e festa em casa. Sempre viajavam, peregrinavam e passeavam. A menina absorvia e anotava tudo.
A cruz o acompanha: perde o pai e a mãe. Padece muitas enfermidades, de modo especial do estômago. A grande cruz foi a doença da esposa que adquire uma doença mental. Tem que ser internada 4 vezes. Quando em casa o agredia. Às vezes, a filha, doente para morrer e a mulher enlouquecida. A doença da filha. A partir dos 10 anos a filha começa seu sofrimento. Tem também os males do estômago. Indo a Lourdes e Lisieux, a filha tem a primeira crise de tuberculose. Concita morre dia 13 de maio de 27. Começa sua fama de santidade, o que se torna uma cruz para o pai, pelas perseguições à filha. Em meio aos sofrimentos a esposa morre dia 13 de dezembro de 1937. Diante dos sofrimentos tem a atitude de profunda aceitação e agradecimento. Sua força é a Eucaristia, com a comunhão, as visitas ao Ssmo. Passa horas de oração à noite. Dia 3 de dezembro de 1931, tem o Santíssimo na capela da casa. Agora vivem no Carmen.
Grande devoto de Maria sob diversos títulos, de modo particular Perpétuo Socorro e das Angústias de Granada.
Ele se faz o apóstolo da filha que tinha fama de santidade os comentários eram de que o Pai era o santo. Torna-se ele o primeiro propagador. O culto iniciou-se em sua casa, no Carmen. Ali fica tudo como era no seu tempo para a visitação. O processo ocupa lugar importante na sua vida. Os milagres acontecem e as romarias aumentam. Há perseguição por causa desta fama de santidade. A primeira biografia vem antes do primeiro ano depois da morte. Vem gente de longe, sobretudo no dia 13 de cada mês. Ele trabalha na publicidade. O processo ordinário tem início dia 2109.38 e se fecha em 7 de novembro de 47. Em 1977 faz-se um processo supletório que termina em 79. (há tb a questão das aparições de Conchita)
Era muito amigo das religiosas, e dá a elas a casa do Carmen para o cuidado de manter a casa de Conchita e o culto.
Era um homem de grandíssima correspondência com os mais diversos tipos de pessoas, a começar do cardeal da cidade. Elas são fonte para o conhecimento de sua vida, seu sofrimento e sua espiritualidade. Nas cartas se pode notar o homem de fé, agradecido a Deus, humilde, fino e delicado e de agradável humor.
Sua caridade se manifesta no respeito às pesoas, sobretudo no tempo em que está entre os estudantes, seus colegas de seminário. Os que conviveram com ele o tem como um homem sempre afável com todos, compreensivo e caridoso.
Vocação religiosa:
Homem nobre que era e já de certa idade, não parecia o tipo próprio para a vida religiosa. Logo depois da morte da esposa fala em ser irmão, mas mesmo ele se ri da idéia. O Cardeal faz insinuações em uma carta ao dar os pêsames pela morte da esposa. Fala com um redentorista como irmão ou até sacerdote, mas não se sente digno. Procura conselhos e espera. Passados os bens e o cuidado da casa onde falecera sua filha para as religiosas.
No dia 13 de junho de 1945 entra para o convento redentorista e inicia o postulantado em Granada. A pobreza da vida religiosa contrasta com sua vida de senhor em sua casa. Faz os serviços humildes. Dia 13 de maio de 1946 inicia sua viagem para o noviciado. Um jesuíta importante o avaliara e disse que teria condições para o sacerdócio. Recebe da província a confirmação de uma vocação que lhe oferecida, mesmo que não se sinta nem digno, nem capaz. A vida dura e silenciosa não lhe era fácil, sobretudo para ele que vivia por conta sua. O estudo do latim para ver se poderia assumir o sacerdócio lhe custou muito. Em tudo procurava qual era a vontade de Deus. Está aprovado para o noviciado.
Chega a Nava Del Rey para o noviciado dia 3 de julho de 46. Era conhecido por ser pai de Conchita. Com 65 anos no meio de 20 jovens de 18-20 anos. Dia 23 de agosto tira as vestes elegantes e veste a batina redentorista. Havia noviço que já era sacerdote. Horário pesado, trabalhos humildes. Desenvolveu a espiritualidade redentorista, o que na realidade já vivia. Exerceu diversos encargos. Sofria com a falta de limpeza, com o clima, com o trabalho manual e com a convivência. Havia grande amabilidade entre ele e os outros noviços. Durante o noviciado preocupava-se com o processo de Conchita, com as publicações sobre sua vida. O processo já estava em Roma e o Pe. Lucas que era o postulador, fora transferido. Tinha ainda que manter a correspondência que era avultosa. Recebe carta do Superior Geral Pe. Buys no dia da profissão: “Os caminhos misteriosos da Providência que para o senhor foram de alegria e espinhos especiais, desembocam agora no jardim da vida religiosa. Oxalá seja uma poesia de perene primavera e que os consolos do sacerdócio apaguem as amarguras passadas”.
Durante o tempo do noviciado salienta-se sua humildade, seu espírito de oração, passando longo tempo na capela. Era homem mortificado e de boa convivência. Não se molestava e gostava de escutar os noviços.
Fez sua profissão religiosa no dia 24 de agosto de 1947. Dali vai para Astorga onde vai fazer uma curso de teologia adaptado a sua idade. Serão 2 anos de estudo. Causa curiosidade aos estudantes pela sua personalidade e história pessoal. Não segue o curso regular, mas tem professores particulares. Aos 7 de janeiro de 1949 pedem a Roma a dispensa dos estudos regulares. O motivo da dispensa dos estudos: idade avançada (68 anos), Ser pai de Conchita, cuja fama de santidade se extendeu pelo mundo. Foi aconselhado a ser padre, apesar de ter querido ser irmão. É instruído nas ciências humanas e recebeu a formação de sacerdotes idôneos. Superou as expectativas nos estudos que apresentou. A resposta chega dia 28 de abril de 1949.
Dia 17 de julho, SSmo Redentor, faz a profissão perpétua e recebe o subdiaconato. Dia 24 recebe o diaconato e dia 25 a ordenação sacerdotal. O bispo que o ordena é amigo seu desde o tempo dele casado. Dia 28 celebra em Astorga a primeira missa cantada no dia de Santo Afonso. Pouco depois celebra a primeira missa na capela de sua casa, onde havia Santíssimo desde 1931, el Carmen, onde vivera com sua família. Ali agora estava o corpo de sua filha Conchita, serva de Deus.
Seu trabalho na comunidade exerce diversos encargos. Na Igreja, não confessava nem pregava, pois não estava preparado para isso. Mas atendia o povo, distribuía a comunhão a quem pedia (costumes diferentes). Atendia os doentes com quem conversava longamente. Fica capelão do Carmen. Ali deve ir duas vezes por dia a pé. Trabalha no processo de sua filha. Além disso era o enfermeiro da comunidade e cicerone aos confrades e amigos que vinha visitar Granada. Assim trabalha 8 anos. Havia quem o humilhasse pelo processo de sua filha, duvidando de sua santidade. Era um santo. Todos diziam, que se a filha era santa, era porque o pai o era mais. A oração era o alimento contínuo de sua alma. Pela Virgem, sentia loucura. Sempre estava com o rosário nas mãos.
Sua morte: N dia 7 de outubro de 1957, mesmo sendo frágil, não estava doente; Havia passeado com um padre amigo, que viera da China. Era seu costume levantar-se cedo e chegar primeiro à capela. Naquele dia não aparece. Foram ao quarto, estava com a luz acesa, mas fechado. Passando pela ventarola encontram-no morto, com as mão juntos, rosto tranqüilo. Como estivesse ainda com o corpo quente, dão-lhe a unção. Ao ser enterrado, passam pelo seu Carmen.
Suas virtudes características: bondade, simplicidade, humildade, laboriosidade, e piedade. Sempre um sorriso nos lábios. Apesar de ter sofrido muito, estava sempre de bom humor. Nasceu rico e morreu pobre porque seu coração era maior que o bolso.
A fama de santidade vinha de longa data e é testemunhada por todos que o conheceram tanto leigos, como confrades desde o noviciado. Os testemunhos no processo de Conchita, iniciado 21.09.38 e terminado em junho de 45. O processo ordinário supletório começou em 06.06.79. Neste processo fala da santidade dos pais. Os testemunhos afirmaram sua santidade como secular, noviço, estudante e sacerdote. O processo foi aberto ..... Em 2001 foi colocada a positio super virtutibus.
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