“Quem se deixou atrair pela voz de Deus e começou a seguir Jesus, rapidamente descobre dentro de si mesmo o desejo irreprimível de levar a Boa Nova aos irmãos, através da evangelização e do serviço na caridade. Todos os cristãos são constituídos missionários do Evangelho. Com efeito, o discípulo não recebe o dom do amor de Deus para sua consolação privada; não é chamado a ocupar-se de si mesmo nem a cuidar dos interesses duma empresa; simplesmente é tocado e transformado pela alegria de se sentir amado por Deus e não pode guardar esta experiência apenas para si mesmo: «a alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária»”. (Trecho da carta do Papa Francisco para o 54° dia de oração pelas vocações)
Toda vocação nasce do coração amoroso de Deus e perpassa a condição humana, nos convidando a responder com convicção os desígnios de Deus na história da humanidade. Deus está sempre à nossa procura, desde a criação do mundo. Deus vai até à obra de sua criação, o jardim, a procura do homem: “Onde estás” (Gn 3, 9). Essa iniciativa de Deus demonstra todo Seu amor pela humanidade, um Deus que cria, mas quer precisar de suas criaturas para que Sua obra redentora seja edificada no mundo.
Deus, que é Bondade Infinita, nunca desiste da sua criação. Ele deseja que seus filhos participem da construção de Seu plano de amor. Por isso, o Seu convite é para todos, para realizar uma missão especial através dos dons de cada um. Assim, podemos dizer que todos nós somos vocacionados, chamados a viver nossa vocação à luz daquele que nos criou.
Toda vocação indica um chamado específico. E quem chama sempre deseja alguma coisa da pessoa que é chamada. Deus não age diferente. Deus ao chamar, antes de pedir, Ele dá. Quando Deus chama o ser humano, dá-lhe a vida, a existência e, com a vida dá-lhe a liberdade. Deus não quer agir sozinho. Quando Ele chama, espera uma resposta, pois, junto com o chamado vem a missão. O chamado de Deus é um desafio, pois ele adentra ao nosso interior para nos tirar da vida cômoda e nos lançar a uma nova missão.
Ao chamado de Deus, damos o nome de vocação, que significa oferta divina, mas que exige uma resposta humana e pessoal, um compromisso para com Deus e seu povo. Esta resposta deve ser contínua e reassumida no cotidiano da vida, onde vamos renovando nosso 'sim' e construindo um caminho que nos faz refletir sobre a nossa passagem pelo mundo. Neste mundo não existimos por qualquer motivo, mas conforme o plano de Deus na história da humanidade, na qual cada ser humano deixa sua marca, sua história nesta obra da Criação.
Vocação é descoberta do próprio ser pessoal. Toda pessoa é chamada a aperfeiçoar o germe da bondade que existe em seu interior. Isto significa descobrir a sua vocação a construir um mundo fraterno, na qual a vida e a dignidade sejam valorizadas. Vocação é um convite pessoal, que Deus dirige a cada um. Cada ser humano tem um dom e uma maneira pessoal de realiza-la. Ao descobrir sua vocação, o homem está descobrindo a si mesmo. Daí decorre a necessidade permanente de ficar atento a tudo, para descobrir e assumir a própria vocação.
Seguir uma vocação é buscar incansavelmente uma resposta aos próprios anseios. Todo ser humano é chamado a decidir-se, a assumir os valores descobertos em si e não poupar esforços para alcançar os objetivos e as particularidades que são próprios de cada modo de vida assumido. Vocação, na perspectiva cristã, é descobrir seu lugar no coração da Igreja, e ali fixar suas raízes e produzir frutos, é lançar sementes, lembrando sempre que uma vocação só é bem vivida quando está a serviço do outro em vista de um objetivo maior.
Ao dizer “eis me aqui”, quero dizer que estou disposto a percorrer um caminho, dizer que desejo ser lapidado, transformado e moldado para servir bem. A fonte do meu chamado está no batismo, quando renascido pela água da regeneração fui inserido no número daqueles que optaram por Cristo. Responder sim a uma vocação e vivê-la bem é assumir o meu batismo, é concretizar o sonho de Deus e seu chamado em minha vida que nasceu na fonte batismal.
Assumir minha vocação me faz perceber que nesta fonte fomos também chamados a ser santos. A vocação à santidade é para todos, mas aqui está a beleza da pedagogia de Jesus: não precisamos ser santos de forma igual; existem vários caminhos de se chegar à santidade. A Igreja é um corpo e cada membro é diferente. A santidade que nos é comum, enquanto formamos a grande família do povo de Deus, deve se manifestar de formas distintas, respeitando o Espírito de Deus, que dá dons diferentes a cada pessoa para o bem de todos.
No caminho da santidade, cada um deve crescer dentro da sua vocação. A família, pai, mãe e filhos, devem ser santos na partilha do amor no dia-a-dia; os religiosos e religiosas devem ser santos na doação radical a Deus e aos irmãos através do carisma que abraçaram; os sacerdotes precisam ser santos pelo exercício da comunhão que são chamados a realizar como pastores do rebanho.
Quando a vida daquele que assume sua vocação se concretiza na busca da santidade, perceberá que valeu a pena dizer sim a um projeto de vida. Portanto, o meu sim nunca poderá ser pela metade; Deus nos quer por inteiro. Quando digo “eis me aqui”, quer dizer que estou nas mãos de Deus que me chamou, a partir do meu sim me sustenta e me conduz.
O documento de Aparecida, no capítulo quarto, nos faz uma bela reflexão sobre nossa resposta e nos convida a sermos “parecidos com o mestre”, admiradores de Cristo:
“A admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo, uma adesão de toda sua pessoa ao saber que Cristo o chama por seu nome (cf. Jo 10,3). É um “sim” que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6). É uma resposta de amor a quem o amou primeiro “até o extremo” (cf. Jo 13,1). A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Te seguirei por onde quer que vás” (Lc 9,57)”. (Documento de Aparecida, 5°ed. 2008. N° 136).
Assumindo o meu sim por inteiro, consigo olhar nos olhos daquele que me olhou primeiro e dizer: “Envia-me”, e tal liberdade me faz compreender a beleza da missão. Todo missionário e missionária devem ser, antes de tudo, uma pessoa com forte experiência de Cristo em sua vida, o que a torna inteiramente disponível e obediente à vocação que recebeu. Precisa ter claro consigo as exigências do seguimento de Jesus que passa pela cruz de amor, às vezes, não correspondido e até mesmo perseguido. Antes de plantar a cruz em outras terras, aquele que aceita ser enviado precisa plantar a cruz em seu próprio coração.
Ser enviado quer dizer que vou em nome de alguém, à procura de outro alguém. Quando percebemos este modo de viver nossa vocação, encontramos uma resposta daquele primeiro chamado, e percebemos que nos deixemos nos encontrar por Deus, que está sempre à nossa procura. O documento de Aparecida nos ajuda a refletir ao afirmar:
“Quando cresce no cristão a consciência de se pertencer a Cristo, em razão da gratuidade e alegria que produz, cresce também o ímpeto de comunicar a todos o dom desse encontro. A missão não se limita a um programa ou projeto, mas em compartilhar a experiência do acontecimento do encontro com Cristo, testemunha-lo e anunciá-lo de pessoa a pessoa, de comunidade a comunidade e da Igreja a todos os confins do mundo (cf. At 1,8).” (Documento de Aparecida, 5°ed. 2008. N° 145)
Assim, podemos concluir: toda missão necessita de prontidão, e a prontidão requer a escuta atenta. Compreendemos que a “vocação” é um chamado, “Eis me aqui” é cada um de nós que escutamos este chamado. “Envia-me” são as surpresas de Deus em minha vida, minha missão a ser assumida.
“Jesus saiu ao encontro de pessoas em situações muito diferentes: homens e mulheres, pobres e ricos, judeus e estrangeiros, justos e pecadores... convidando-os a segui-los. Hoje, segue convidando a encontrar n’Ele o amor do Pai. Por isto mesmo, o discípulo missionário há de ser um homem ou uma mulher que torna visível o amor misericordioso do Pai, especialmente aos pobres e pecadores” (Documento de Aparecida, 5°ed. 2008. N° 147).
Deixemos Deus nos encontrar, não tenhamos medo de dizer sim, renovemos nosso compromisso a cada amanhecer, para abraçar com amor a missão que Cristo nos confia.
Pe. Elielton José da Silva, MI
Formador da etapa da filosofia Província Camiliana Brasileira
da Ordem dos Ministros dos Enfermos - Padres e Irmãos
Belo Horizonte/MG
PARA REFLETIR:
1 - Através da minha intimidade com Deus como tenho escutado seu chamado em minha vida?
2 - O que ainda me falta para que eu possa responde meu “sim” com convicção ao projeto de Deus em minha vida?
3 - Onde o Senhor me quer, qual a missão ele tem preparado para que eu possa doar minha vida?
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