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Vocação: Escutar a voz de Deus, no meio das vozes dissonantes

Escrito por Secretariado Vocacional Redentorista

15 JUL 2022 - 07H00 (Atualizada em 12 AGO 2022 - 14H45)

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A Igreja entende a vocação como um dom, uma graça que brota no coração de todo aquele que se abre para perceber a ação de Deus na sua história, na sua caminhada de fé e vida!

Pensando nisso é que foi proposto no mês vocacional enfatizar a dimensão do chamado em todo cenário da Igreja-Povo de Deus, valorizando o estado em que cada um responde à graça de amar e servir. No entanto, com os cenários eclesiológicos e sociais se transformando de maneira tão rápida e tão intensamente, as relações humanas se fragmentando e sendo bombardeadas com contravalores tão díspares com a fé, surge no coração a questão:

Como ouvir a voz de Deus, como escutar o chamado em meio a esse turbilhão de informações desinformantes?

Primeiramente, é necessário que compreendamos que é pela graça de Deus que todos são convidados a abraçarem a santidade, e essa santidade está intrinsecamente vinculada a Jesus (Ef 1,4) que é nossa fonte de vida (Jo 15,1-5) e apenas ele tem palavra de vida eterna (Jo 6,68).

Em segundo lugar, é importante compreender que Jesus, o mestre por excelência, desejou viver uma experiência de discipulado diferente para cumprir sua missão. E nesse sentido, buscou no meio do povo aqueles que compartilhariam dessa missão, dando continuidade à sua obra de redenção da humanidade; estabeleceu um vínculo de comunhão fraterna com aqueles que aderiram à sua pessoa e com esses trilhou um itinerário de amadurecimento e transformação.

A partir desses dois pontos, vocação e vínculo à pessoa de Jesus, pode-se ampliar a reflexão do que significou essa adesão dos discípulos de Jesus naquele tempo e como corresponder isso nos nossos dias.

O caminho que os discípulos percorreram com Jesus foi intenso, cheio de dúvidas, incompreensões e equívocos, sobretudo no ponto alto do percurso, quando se depararam com a cruz, que gerou medo e frustração. Como imaginar o que se passou na cabeça daqueles homens e mulheres, que viviam numa cultura extremamente excludente, com uma religiosidade rígida e de difícil acesso?

Certamente, aderir à proposta de Jesus não foi fácil, pois, já naquele tempo as vozes dissonantes ecoavam no meio da sociedade: a rigidez das normas impedia os pobres de estabeleceram uma plena comunhão com Deus e um sistema político opressor explorava cada moeda conseguida a duras penas, forçando-os a trabalhar duramente para o sustento próprio e manutenção dessa estrutura precária.

Foi justamente nesse meio que ouviram a voz de Jesus, foi nesse cenário que a esperança nascida das promessas de Deus reacendeu, e aceitaram o convite para lançarem as redes em águas mais profundas (Lc 5,1-11). Fizeram uma longa jornada: da esperança ao sim, do sim aos conflitos e aprendizagem e da tristeza e medo à alegria e a força da fé no Ressuscitado que impulsionou os apóstolos na missão da Igreja.

Olhando para os dias atuais, “contemplamos a Jesus Cristo tal como os Evangelhos nos transmitiram para conhecer o que ele fez e para discernir o que nós devemos fazer.” (Doc. de Aparecida 139). As circunstâncias são diferentes (tempo, mentalidade, cultura), mas os ruídos que interferem na escuta atenta ao chamado ainda persistem, e estão amplamente em evidência e ao alcance de quase todos: superexposição em redes sociais, hiperssexualização de crianças, jovens e adultos; relativização das relações familiares, descredito da cultura e educação, indiferentismo religioso, banalização da vida, etc. E como outrora, é necessário que o coração esteja ardente de esperança, é preciso que, mesmo contra toda a desesperança, vincular-se com a promessa de vida em abundância prometida pelo próprio Jesus (Jo 10,10), é necessário aderir ao seu programa de vida, apresentado no capítulo 4 do evangelho de Lucas.

A Igreja tem inúmeros exemplos: santos e santas, discípulos missionários da palavra de Deus que, acolhendo a verdade libertadora de Jesus, foram ousados, defenderam a fé, defenderam a vida, e muitos doando a própria vida em prol da missão. Desde os apóstolos até hoje, a Igreja enfrentou muitos desafios, mas com muita fé e perseverança, e sob a ação do Espírito Santo, conseguiu vence-los, e muitos aderiram a Jesus, tornando-se, também, modelos que inspiram os cristãos. “Cumprir a missão de anunciar o reino, não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é a difusão testemunhal da própria vocação” (Doc. de Aparecida 144). Para assumir essa missão, o cristão precisa percorrer um caminho com Jesus.

Escutar a voz do Mestre pressupõe esse mergulho interior, um silenciar-se. A Palavra de Deus convida a subir a montanha, encontra-se com Deus, e certamente não é possível fazer isso no meio do caos. Por isso, a Igreja recomenda e oferece tempos de recolhimento para aquietar o coração e estabelecer a comunhão com Deus, lendo a história e ressoando-a em nossa vida presente.

Ao se tomar consciência do chamado de Deus, o cristão assume o compromisso de vida e vida em comunidade, pois é nela que se faz a experiência do Jesus Cristo ressuscitado. É na comunidade que o discípulo consegue esclarecer suas dúvidas, supera o medo, partilha as dificuldades. É na comunidade que se celebra a Palavra e parte o Pão da vida. E alimentado física e espiritualmente, o cristão vive a missão de Jesus, que se completa em cada um que assume o compromisso de ser melhor, mais inteiro, mais solidário e fraterno.

Por fim, todo ser humano é potencialmente chamado a viver a integralidade da vocação cristã. No entanto, ela só será uma realidade a partir da adesão livre e convicta, e ainda empenhada em fazer uma caminhada com Jesus, uma subida para a Jerusalém, que necessariamente passa pela cruz, que não é uma cruz de tristeza e sofrimento, mas uma cruz de doação, de redenção e transbordamento de amor.

Quem ousa viver assim, se comprometendo com uma vocação autêntica, seja ela leiga, matrimonial, religiosa ou sacerdotal, e conseguirá ser luz em meio à noite, será um oásis no deserto; espalhará o amor e será um profeta da liberdade, denunciando as injustiças e provendo a paz e o bem.

Pe. Heliomarcos Costa Ferraz, C.Ss.R.
Ecônomo Adjunto do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida
Aparecida/SP

PARA REFLETIR:

1 - Deus concedeu a todo ser humano, pela força do Espirito Santo, a sabedoria, a inteligência, pelas quais hoje temos acesso a tantos benefícios tecnológicos. Eles sãos os meios pelos quais podemos otimizar a nossa vida e relações. Você tem feito um uso inteligente das ferramentas tecnológicas? Qual o espaço que você tem dado a experiência cristã nesse meio digital?

2 - Os apóstolos e discípulos de Jesus tiveram que percorrer um caminho enfrentando todos os desafios que seu tempo e cultura lhes imputavam, mas continuaram perseverantes. Como você lida com os desafios e frustrações na sua vida?

3 - Todos os que desejam viver o dinamismo do discipulado missionário precisa estar vinculado a Jesus. Como você alimenta a sua fé? Qual o compromisso que você tem feito para ser testemunho da missão de Jesus nos ambientes que você transita?

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