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Semana Vocacional

55ª Semana Vocacional: "Dispor-se a caminhar"

Escrito por Secretariado Vocacional Redentorista

22 JUL 2024 - 07H20 (Atualizada em 29 JUL 2024 - 14H45)

Todos nós já lemos, escutamos, presenciamos, testemunhamos e conhecemos histórias vocacionais, bem como os que foram chamados, responderam ao apelo do Senhor em suas vidas. O Secretariado Vocacional Redentorista pediu-me um texto que fizesse referência ao título: Dispor-se a Caminhar.

Então, com esse texto nas mãos, vamos percorrer um caminho vocacional, tomando como exemplo o itinerário de vida e missão do profeta Elias, o qual, a meu ver, se parece muito bem com as circunstâncias vocacionais de hoje. Vamos lá?

Na Bíblia, a intervenção da Palavra de Deus, obriga o profeta Elias a sair do lugar onde ele se encontra para o lugar onde Deus o quer: Vai-te daqui (1Rs 17,3). Com isso, ele deve se predispor a caminhar, conforme Javé o havia mandado. Ele deve fazer um itinerário espiritual, pessoal, comunitário, desafiador e de encontro com o Senhor, Deus todo-poderoso: Elias partiu e fez como Javé tinha mandado (1Rs 17,5).

O caminhar que o Senhor propõe ao profeta Elias não é somente geográfico e social, mas atinge todos os níveis da sua vida: pessoal, comunitário, institucional, religioso, sócio-político, cultural e, até mesmo, os valores básicos da vida. Ele deve deslocar-se tanto da presença do rei Acab quanto da casa da viúva de Serepta (17,9)

O profeta Elias experimenta o auge de sua missão, a coragem de suas certezas, a exuberância de suas façanhas, como também, a fraqueza, o medo, o desencanto vocacional e, mais profundamente, uma “depressão existencial”. Na sua crise, o profeta Elias é desintegrado em formas e visões da revelação de Javé. Porém, depois das crises, Deus o ajudará na recomposição de si mesmo, de seu ideal e de sua missão.

A experiência do deserto marcou toda a caminhada do profeta Elias. Ele enfrentou o deserto de Beersheba, de Carit e do Horeb (1Rs 17, 3-8). Isso quer dizer que, não apenas o deserto como lugar geográfico, mas também como experiência interior e exterior da presença de Deus.

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O profeta Elias teve momentos de não saber, de estar perdido, de ter medo, de achar que tudo estava terminado, de querer fugir e morrer, de pensar só em comer e dormir.
Parece-nos que a desilusão tomou conta do profeta Elias em muitas situações. Mas, ele manteve-se fiel a Javé.

O deserto interior manifestou-se, sobretudo, no fato de ele procurar a presença de Deus nos sinais tradicionalmente conhecidos, como o terremoto, o vento, o fogo e a chuva. E, com isso, descobriu que estes sinais, por si mesmos, já não revelavam Deus. Eram como lâmpadas que já não acendiam. Então, onde encontrar Javé, o Deus todo-poderoso, que lhe parecera tão próximo anteriormente?

O deserto é, também, o lugar da origem do povo hebreu, das promessas feitas aos patriarcas, das voltas às fontes em épocas de crise, onde a memória e a identidade eram recuperadas; o lugar para onde o povo correu em busca da liberdade; onde morreram os restos da ideologia do faraó e onde os hebreus se reorganizaram como o povo da aliança com Javé. O deserto fez o profeta Elias se reaproximar da origem do seu povo e de si mesmo: os 40 dias de Elias recordam os 40 anos do povo no deserto.

No deserto, ele experimenta os seus próprios limites. Não chegou a perder a fé, mas já não sabia como usar a experiência da fé antiga para enfrentar as novas exigências. Ele, portanto, faz um processo de re-amadurecimento da fé diante das novas circunstâncias. Por isso mesmo, ao superar suas próprias crises, o profeta Elias redescobre o sentido de Deus (Javé) em sua vida e na vida do seu povo.

Atravessando os desertos, o profeta Elias chegou até a montanha de Deus, o monte Horeb. Entrou “no ventre” da gruta, donde ouviu a pergunta: ‘Que fazes aqui, Elias?’ E, ele todo entusiasmado, responde, por duas vezes: “O zelo por Javé dos exércitos me consome, porque os israelitas abandonaram tua aliança, derrubaram teus altares, mataram teus profetas. Sobrei somente eu. E eles querem me matar também” (19, 9-14).

:: Entenda a simbologia expressa no cartaz da 55ª Semana Vocacional

O profeta Elias tem consciência de sua árdua luta com os profetas de Baal e as injustiças do reinado de Acab. Porém, entre as perguntas de Javé e as justificativas de Elias, há certas discrepâncias entre o discurso e a prática; conforme o discurso, ele é o único que sobrou, mas havia sete mil que se mantiveram fiéis e não se deixaram iludir pela adesão a Baal (19,18); no discurso, ele está cheio de zelo, mas, na prática, mostra-se um homem medroso, que foge da ameaça da rainha Jezabel (19,2-3); no discurso, ele sabe analisar o fracasso da nação, mas, na prática, não consegue enfrentar sua própria fraqueza.

O profeta Elias não se dá conta de que a situação de derrota e de morte em que ele se encontra é o lugar onde Deus o alcança. Ele está tão desmotivado diante da nova situação que não percebe e não reconhece a presença do anjo que o orienta e o alimenta. Ele, em seu desencanto, só pensa em comer, dormir e morrer (19,4-6). Aparentemente, percebemos que o modo de compreender ou de ver do profeta Elias está equivocado porque ele se considera dono da luta contra Baal, e não é; acha que sem ele tudo está perdido, e não está; pensa que Deus sai perdendo caso ele seja derrotado, e Deus não sairá perdendo. Esse é o eixo da crise pessoal do profeta Elias, que será redirecionado com a chegada da “brisa leve”, o sopro acalentador e suavizador de Deus, que vem ao seu encontro (19,12-14).

A expressão “brisa leve”, traduzida do hebraico, quer dizer literalmente: voz de calmaria suave. A palavra que indica calmaria, portanto, vem de outra que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa leve indica algo novo, um fato que, de repente, faz emudecer, o faz ficar calado, cria nele um espaço e, assim, ele se dispõe para escutar e deixar-se encher de novas expectativas.

A brisa leve, não deve ser entendida no sentido romântico de uma brisa suave no fim da tarde. Mas, no sentido de algo que, de repente, desfaz e refaz ao mesmo tempo, concedendo um novo vigor. Uma mudança radical da visão assustadora do terremoto para a visão da calmaria da brisa leve.

O profeta Elias descobriu que, apesar de toda a sua fidelidade e luta pela causa de Javé, ele estava lutando por algo que já não era mais a causa de Javé e, quem sabe, já era a sua própria causa, porque, também, os efeitos extraordinários faziam parte de sua missão. Contudo, Elias foi um grande homem de Deus e, por meio dele, Deus falou e se revelou ao seu povo.

Lembremo-nos que o lugar que pertence a Deus e sua Palavra não pode ser ocupado por nenhuma criatura. Nós, também, estamos à mercê dos grandes perigos das manifestações religiosas e vocacionais de nosso tempo: os espetáculos, os shows, os arrebatamentos e as ostentações esvaziadas de comprometimento e fidelidade à missão profética.

Para refletir:

1. O que me diz a história do profeta Elias?

2. Como compreendo o chamado e qual a imagem de Deus eu tenho em mim?

3. Quais são as minhas pretensões vocacionais?

Reflexão elaborada pelo Pe. Roque Silva, C.Ss.R.

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