Deus tomou a iniciativa de se aproximar de Moisés, manifestou-se na sarça que ardia sem se consumir, tal como arde um amor convidativo, clamando a atenção e a escuta de quem o vê. Moisés olhou e intrigou-se sobre a sarça ardente, e ao aproximar-se, ouviu a Palavra de Deus, que disse: “Moisés, tire as sandálias dos pés…” (cf. Ex 3,5a). O ato de tirar as sandálias, em meio ao mistério que se procedia, nos faz imaginar que Deus chamou Moisés para sua intimidade, para entrar no solo santo, onde sua presença se concretizava e se dava a perceber.
Moisés, ainda no espanto, obedece à voz de Deus, mesmo sem saber ou compreender de imediato tudo o que acontecia e o que viria a ser de si a partir daquele maravilhoso momento. Tirar as sandálias, além do convite à intimidade com Deus, revela-nos um desapego desconcertante, primeiramente de si próprio, deixando a própria proteção e arriscando-se a caminhar sem medo de se ferir. Os “pés descalços” de Moisés enfrentariam “enormes pedras” em atenção ao que Deus lhe pedira. Moisés sentiu a desconfiança dos outros, o medo de suas próprias incapacidades, fragilidades e tantas outras forças que tendem a arrastar pelo caminho contrário aqueles que correspondem a iniciativa tomada por Deus.
A vocação de Moisés nasceu desta primeira ordem, a de tirar as sandálias. Aos poucos, ele percebeu que o pedido de Deus era para que fosse humilde, deixasse de lado seu orgulho, sua familiaridade com as coisas do mundo, para a partir de então, tomar um novo seguimento em sua vida, sem apegos exagerados, mas movido à confiança e à intimidade. Moisés se tornou íntimo de Deus, aquele que era admirado por falar face a face com o Senhor. Abandonou suas garantias, representadas no simples gesto de deixar esquecida a “necessidade” que possuía de “belas sandálias” para caminhar.
Havia em Moisés o medo, muitas dúvidas, principalmente sobre o que viria a ser. Interessante é que Moisés escuta e obedece. Obedecer àquela voz, de certa forma, era o mesmo que confiar nela, ou deixar de confiar em si mesmo. A obediência que agrada a Deus é aquela que nasce do amor, jamais do medo. Ao tirar as sandálias, Moisés limpou seu coração a fim de escutar melhor, para que pudesse se dispor.
Desapego e obediência podem caminhar juntos ao mistério de ser chamado. A centralidade de toda vocação é justamente o amor, porque Deus é amor. Deus é o centro do chamado e a resposta que Ele pede é a resposta vinda e nascida do amor. Na bela cena da sarça, podemos ver a grandeza de um amor desprotegido e rebaixado, que se fez compreender como misterioso, chamando Moisés a arder sem se consumir, isto é: a arder de amor, sem desanimar diante de tantos contrastes que a vida produz.
Moisés se entrega nas mãos de Deus ao retirar suas sandálias e ao adentrar no calor da intimidade do amor verdadeiro que arde por nós. Claramente, a cena bíblica nos desperta a confiança em Deus. O Senhor não chamou Moisés para sua própria vanglória. Deus tinha uma missão para aquele homem; a missão de Moisés era de grande potencial para abranger inúmeras vidas, para libertar e conduzir todo um povo.
Ninguém recebe de Deus um dom só para si, os dons que temos devemos multiplicar em cada ação, nas decisões que tomamos. Saberemos, então, discernir que é justamente na partilha que nossos dons se multiplicam e ganham sentido. Desta forma, a fidelidade a Deus garante uma entrega ilimitada em suas mãos, que apesar de inúmeras situações e dúvidas, exprime suave constância, que se tornará perseverança ao longo da vida.
:: Entenda a simbologia expressa no cartaz da 55ª Semana Vocacional
Na pessoa de Jesus Cristo, encontramos a verdade e a luz, que nos forma para sermos missionários de Deus num mundo de diferentes contrastes. Moisés assumiu sua vocação profética, sendo grande sinal para o povo eleito de Deus. Em Cristo, sentimos o chamado pleno e realizado, porque adentramos a intimidade do Deus que se fez homem, habitou entre nós e nos educou conforme seu coração. Somos, portanto, missionários da novidade, da esperança, do verdadeiro amor que transforma e liberta: essa é a vocação cristã.
A vocação cristã é, em nossos dias, como luz para iluminar a consciência do homem, para que perceba a presença de Cristo e do amor de Deus. Assim ensina o Documento de Aparecida: “E necessitamos, ao mesmo tempo, que o zelo missionário nos consuma, para levar ao coração da cultura de nosso tempo aquele sentido unitário e completo da vida humana que nem a ciência, nem a política, nem a economia, nem os meios de comunicação poderão proporcionar. Em Cristo Palavra, Sabedoria de Deus (cf. 1 Cor 1,30), a cultura pode voltar a encontrar seu centro e sua profundidade, a partir de onde é possível olhar a realidade no conjunto de todos seus fatores, discernindo-os à luz do Evangelho e dando a cada um seu lugar e sua dimensão adequada”. (Doc. de Aparecida – 41).
Respondamos com generosidade ao amor de Deus e estejamos dispostos a tirarmos “nossas próprias sandálias” a fim de corresponder sempre ao seu chamado e amor.
Para refletir:
1. Há no mundo contrates sociais, culturais, na comunicação, e em várias outras formas de expressão. Entre tantas mudanças e realidades, quais os sinais percebemos em nosso tempo para adentrarmos na intimidade de Deus?
2. Seria hoje mais difícil realizar um despojamento de si, abandonando nossos interesses unicamente para responder a Deus? Quais os desafios encontramos?
3. Nossa própria realidade é favorável a escuta de Deus, ou existem distrações que nos atraem mais facilmente? Se sim, quais são elas?
Reflexão elaborada pelo Ir. Ian Lucas Lopes de Castro, C.Ss.R.
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