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São João de Deus
Intercede por: Patrono dos Hospitais, doentes e enfermeiros | Localização: Portugal

João Cidade Duarte nasceu em 08 de março de 1495, em Montemor-o-Novo, próximo de Évora, Portugal. Seu pai era vendedor de frutas, e a família modesta. Aos oito anos, não se sabe ao certo se fugiu ou se foi levado de casa, e conta-se que por isso sua mãe morreu de tristeza e saudade pouco depois. O pai viúvo se fez monge franciscano em Xabregas, Lisboa, falecendo em 1520.

Sabe-se que João foi levado a pé para Madri, Espanha, caminhando com saltimbancos e mendigos. Perto da cidade de Toledo, um viajante o entregou a Francisco Majoral, administrador dos rebanhos do Conde de Oropesa, afamado por ser caridoso. Nessa época o menino recebeu o apelido de “João de Deus”, porque ninguém sabia quem ele era e de onde vinha. Ali João foi acolhido quase como filho, e trabalhou como pastor de ovelhas. Por volta dos seus 27 anos, Francisco quis casá-lo com sua própria filha, mas João não desejava isto. Sem saber o que fazer, fugiu e iniciou uma vida errante na Europa e na África.

Com 22 anos, soldado no exército de Carlos V, lutou na batalha de Paiva contra Francisco I, na reconquista de Feunterrabia aos Franceses, nos Pirineus. Desentendeu-se porém na tropa, sendo acusado de irregularidades e expulso. Volta assim a ser pastor em Oropesa, na casa de Francisco, até 1532, quando se alista novamente para combater os turcos em Viena. Mas em 1533 retorna a Montemor-o-Novo, onde não foi reconhecido. Afinal um tio lhe comunica a morte dos pais; segue então para Sevilha, Espanha, onde novamente trabalhou como pastor.

Muda-se para Ceuta, à época cidade lusitana no norte da África, servindo heroicamente a uma família portuguesa de seis pessoas, exilada e adoentada, sustentando-a com seu trabalho nas obras de fortificação das muralhas da cidade. Teve uma crise espiritual quando um amigo decidiu abraçar o islamismo, decidindo voltar para a Espanha. Assim, em 1538 vende livros como ambulante em Gibraltar, estabelecendo depois uma livraria em Granada. Apaixonou-se pelos livros, especialmente os com imagens sacras, entendendo-os como uma ajuda para a oração e a fé.

Em 1539, na festa de São Sebastião, 20 de janeiro, ouve a pregação de João d’Ávila, futuro santo e Doutor da Igreja. Ocorre então a sua verdadeira adesão à Fé, tão intensa que começou a gritar pedindo perdão e misericórdia a Deus pelos seus pecados. Vendeu ou distribuiu tudo o que possuía e deu aos pobres, queimou os livros imorais e passou a se penitenciar publicamente, percorrendo a cidade ferindo o peito com pedras e manchando o rosto com lama; pedia esmola para os necessitados, com o que se tornou um lema: “Fazei o bem, irmãos, a vós mesmos, ajudando os pobres”. Acharam que estava louco e o internaram no Hospital Real de Granada, um hospício, onde o tratamento aos pacientes era desumano, conforme (em parte) a ignorância da época sobre doenças mentais. Sofrendo cruelmente ele mesmo, percebeu então a vocação que Deus lhe dava, a de cuidar destes irmãos.

Acolhido, auxiliado e aconselhado por João d’Ávila, saiu do hospício em 1539 e visitou o mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe, para aprender o cuidado aos doentes. Voltou a Granada e alugou uma casa, onde atendia com amor e de forma adequada aos pobres e enfermos. A Casa Hospitalar de João de Deus começou a dar frutos, curando muitos doentes mentais, para espanto da sociedade de então. Nascia assim uma Ordem religiosa, que ele veio a chamar de Ordem dos Irmãos Hospitaleiros.

Ajudava também, voluntariamente, aos internados no hospício. Ganhou simpatia, e finalmente conseguiu fundar a “Casa de Deus”, à qual se dedicou totalmente, um hospital para doentes incuráveis e moléstias contagiosas. Foi o primeiro a separar os doentes de acordo com as enfermidades e oferecer uma cama para cada interno. Pedia constantemente esmolas para o sustento da obra, com o seu antigo lema, adotando outro para os tratamentos: “Pelos corpos, às almas”. Antes de 1547 ganha dois ajudantes, e passam todos a usar um manto com uma cruz vermelha. Neste ano chegam mais discípulos, e o hospital é transferido para o prédio maior de um antigo convento na Encosta de Los Gomeles. No ano seguinte vai a Valladolid pedir auxílio ao príncipe, Felipe II, que lhe concede grandes esmolas. Logo inicia ali também uma “rede de assistência”. De volta a Granada, paga dívidas do hospital e consegue dotes matrimoniais para dezenas de mulheres.

Nos anos seguintes, arriscando a vida, salva os doentes de um incêndio no Hospital Real, fica gravemente doente mas esconde o fato dos médicos para não ser impedido de trabalhar, salva um garoto de afogar-se num rio – o que lhe agrava a broncopneumonia. Por obediência muda-se então para a casa da família Pisa, onde fica mais confortável. O arcebispo o visita e promete manter o hospital.

A Ordem dos Irmãos Hospitaleiros foi confirmada, sob a regra de Santo Agostinho, em 1571, pelo papa Pio V. João tinha a convicção de que a cura espiritual auxiliava a cura física, e muitos dos seus pacientes foram testemunha disso. O sucesso da obra levou à fundação de mais de 80 casas-hospitalares na Europa, inicialmente para doentes mentais e terminais, depois para todos os doentes. Atualmente a Ordem Hospitaleira de São João de Deus é um instituto religioso internacional presente em 53 países (incluindo o Brasil), e são conhecidos popularmente como “Irmãos dos Enfermos” e “Fazei-o-bem-irmãos”.

São João de Deus faleceu em Granada, no dia 08 de março de 1550, ao completar 55 anos. É padroeiro dos doentes e hospitais junto com São Camilo, e dos enfermeiros e suas associações católicas.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho



Reflexão:

“Fazei bem, irmãos, a vós mesmos, ajudando os pobres”. Nada mais certo, porque é necessário ver a face de Cristo no rosto dos mais pobres, Seu corpo chagado no corpo dos enfermos. Esta é a verdade que vemos e ouvimos de um santo, como o mesmo João de Deus a ouviu de São João d’Ávila – e levou a sério. Sem dúvida curar os doentes e resgatar a dignidade dos mais necessitados é uma forma de louvor a Deus, em Cristo, que sofreu por nós; mas São João não esqueceu de que a cura da alma era fundamental para a cura do corpo, e a precedia. Por isso, nos Princípios Institucionais da sua Ordem, estão incluídos as diretrizes: o centro de interesse é a pessoa assistida, nunca o lucro; por isso, é obrigação atender às necessidades espirituais dos moribundos; assim é realizada a defesa (integral) e a promoção da vida humana, pois ela se continua para além da morte física, tendo sua plenitude em Cristo. Uma vida atribulada sem dúvida pode causar tribulação também na alma, mas nem por isso é desculpa para se esquecer a caridade, como nos mostra a vida de São João de Deus. Ele também nos exemplifica o valor dos bons livros, que conduzem a Deus, e a importância de eliminar os que ensinam coisas pecaminosas, uma parte muito concreta da sua verdadeira conversão. Facilitar e divulgar a boa literatura, que não contraria a Igreja nem ofende a Deus com comportamentos, filosofias, ideias e ideais errados é uma necessidade para a saúde espiritual da cultura atual. Muito depende disso a conformação das sociedades no futuro próximo, se curadas em Deus ou moribundas no pecado.

Oração:

Deus Pai de bondade, que desejas a cura espiritual para os que praticam a caridade e para os que a recebem, dai-nos a graça de, por intercessão de São João de Deus e como ele, sermos os Vossos braços no zelo pelo cuidado dos irmãos, no corpo e na alma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

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