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Eufrásia nasceu em Constantinopla, hoje Istambul na Turquia, por volta de 380. Era filha única de pais ricos e convertidos ao Cristianismo, parentes do então imperador romano Teodósio. Assim ela passou a infância e juventude rodeada pelo luxo e prazeres da corte, que porém não a atraíam. De fato, sua mãe dedicava muito tempo ensinando-lhe o amor por Jesus e o horror do pecado, e seus pais, ainda que com posses, viviam de forma humilde.
Falecido o pai, o ambiente na corte passou a ser de interesseiros em relação a elas. A mãe, buscando um lugar tranquilo onde pudessem se dedicar totalmente a Deus, levou-a para o Egito, onde recomeçaram a vida. Lá, ambas dedicavam-se à caridade junto aos pobres, à visita a hospitais e a conventos. Com dez anos, Eufrásia desejou permanecer num convento de religiosas que a acolhia. A mãe consentiu, e as irmãs em breve se impressionaram com a sua maturidade precoce, acompanhado-as na rotina com disciplina e pontualidade. Ali ela cresceu, com uma vida regular, na prática do jejum e das orações.
Mas após o falecimento da mãe, o imperador a procurou, oferecendo-lhe um vantajoso casamento com um senador, através do qual a sua fortuna aumentaria ainda mais. Eufrásia recusou, reafirmando o desejo de manter-se virgem e seguir a vida religiosa. Em contrapartida, pediu a Teodósio que distribuísse aos pobres tudo o que herdara. Seguiu assim no convento, servindo com humildade as irmãs. Foram escritos relatos de que inúmeras graças e milagres aconteciam por sua intercessão, por exemplo a cura de menino moribundo quando ela fez sobre ele o sinal da Cruz.
Praticava um rigoroso jejum, passando sem comer dias inteiros, e evitando carnes, ovos, óleo e leite. Jamais provava vinho ou algo que lhe agradasse o paladar. Mas seus maiores desafios vieram de problemas no convento, como os desmandos de uma abadessa doentia e as acusações infundadas de uma irmã.
Em 12 de março de 412 a superiora teve uma visão, avisando-a de que Eufrásia iria morrer e ser proclamada santa. Eufrásia acreditou, embora fosse jovem e nada sentisse de mal. Por isso pediu para receber os últimos Sacramentos. No dia seguinte, efetivamente, ela começou a ter uma febre muito alta, e faleceu, sendo sepultada no próprio convento.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
A vida aparentemente isenta de grandes acontecimentos de Santa Eufrásia é típica daquela santidade que em geral passa desapercebida do mundo, ávido de turbulências e agitações notáveis – mesmo para os cristãos. Um resumo superficial poderia indicar que era rica e passou a infância sem problemas, descobriu bem cedo sua vocação religiosa que não teve oposição, e passou a vida quase toda no recolhimento de um convento. Mas ao contrário, desde a infância teve que se esforçar, claro que com a ajuda dos pais, para fugir às seduções cortesãs do ambiente em que habitava, à facilidade de uma vida fútil pela riqueza, ao assédio de interesseiros na sua virgindade e fortuna; ao desconforto de mudar para uma terra e cultura distantes, onde conheceu as mazelas humanas e não o ócio, a decisão precoce de se separar da mãe e de se submeter a uma rígida disciplina; à pressão de um imperador e à tentação de manter uma enorme herança, às dificuldades de uma vida em comunidade reclusa, onde é necessária a obediência mesmo quando não é equilibrada a direção, e onde as pequenas asperezas da limitada convivência cotidiana se agigantam, sem que necessariamente estejam ausentes a falsidade, a má-fé, a inveja, o orgulho… sem contar com as dores naturais da perda dos pais por cima das penitências que, se bem que escolhidas livremente, não deixaram de exigir constância e empenho em enfrentar responsavelmente estes grandes desconfortos. E, naturalmente e mais importante, tudo isto feito por amor a Deus e ao próximo, não por algum tipo de fuga ou egoísmo, mas com a busca e esforço desde tenra idade no exercício interior de direcionar a alma para Deus. Esta não é uma batalha menos heroica do que outras santas vidas repletas de fatos e acontecimentos chamativos; e é a batalha pela santidade da imensa maioria dos católicos, que de forma discreta, sem buscar alarde nos seus atos, devem ser heroicos no dia a dia comum.
Oração:
Senhor Deus, imutável e constante no Vosso amor, dai-nos a graça de buscar, por intercessão de Santa Eufrásia, somente Vos servir, sem desejar aparecer para o mundo ou alimentar o próprio orgulho, mas, atentos à vida normal dos irmãos, percebermos as suas necessidades e servi-los a partir da sincera comunhão Convosco. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
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