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Anselmo nasceu em Aosta, Piemonte, norte da Itália, em 1033. Sua família era rica e nobre. Sua mãe faleceu quando tinha 15 anos; seu pai, que era conde, lhe projetara uma brilhante carreira, e não permitiu que se tornasse religioso, quando o filho manifestou este desejo. Assim, até os 20 anos, com mansidão e docilidade permaneceu em casa. Mas para seguir sua vocação religiosa, Anselmo teve que fugir, sem nada levar. O relacionamento com o pai já não era bom, uma vez que este buscava somente a vida mundana e a queria impor ao filho.
Viajou pela Borgonha e chegou até a Normandia, onde conheceu o monge beneditino Lanfranc, abade do Mosteiro de Bec, que o levou a conhecer melhor a Jesus. Orientado por ele, fez-se também beneditino e formou-se em Teologia, e em 1063 foi nomeado prior, depois que seu mestre e amigo foi indicado para arcebispo de Cantuária, na Inglaterra. Como prior, Anselmo escreveu o “Monologium”, meditações sobre as razões da Fé, oferecendo as provas metafísicas da existência de Deus, e o “Proslogium”, sobre a fé que busca a inteligência, ou, a contemplação dos atributos de Deus, duas obras importantíssimas para a Filosofia e a Teologia. Também redigiu os tratados sobre a verdade, a liberdade, a origem do mal e a arte de raciocinar.
Em 1078 foi eleito abade, promovendo uma grande reforma monástica, que influenciou não apenas o ambiente religioso, mas também o acadêmico e o secular. Isto porque seus escritos, grandes em quantidade e qualidade, tiveram ampla penetração. De fato, é considerado o fundador da Ciência Teológica no Ocidente, Pai da Escolástica, sucessor de Santo Agostinho e precursor de São Tomás de Aquino em Metafísica. Defendia que a razão humana tinha capacidade para investigar os mistérios divinos; defendeu a Imaculada Conceição; e desenvolveu o seu famoso “argumento ontológico” sobre a existência de Deus: resumidamente, se temos a ideia de um ser perfeito, a perfeição absoluta existe, logo o ser perfeito – Deus – existe, e a existência em si é constitutiva Dele. Este é um argumento a priori, ou seja, que se deduz anteriormente a qualquer prova oferecida depois (a posteriori).
Daí, consequentemente, a essência da Redenção acha-se na união do indivíduo com Cristo na Eucaristia, sendo o Batismo o início necessário para esta união.
Falecendo Lanfranc, Anselmo foi eleito para o seu lugar como arcebispo-primaz da Inglaterra, em Cantuária (1093). Lá sofreu a perseguição dos reis Guilherme, o Vermelho, e Henrique I, cujas políticas eram contrárias ao Catolicismo. Foi banido duas vezes, a primeira para Campania na Itália, onde ficou algum tempo por questões de saúde, e onde finalizou a obra “Cur Deus Homo”, talvez o mais famoso tratado sobre a Encarnação de Cristo. Mas voltando à Inglaterra, sua mansidão e argumentos pacíficos acabaram por convencer os inimigos e alcançar seus objetivos.
Faleceu em Cantuária, com 76 anos, em 1109. Foi declarado Doutor da Igreja por sua grandiosa produção teológica e literária.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
A obra filosófica e teológica de Santo Anselmo é potente evidência da sua santidade, no contexto inestimavelmente valoroso da busca da Verdade e do conhecimento necessário para melhor obtê-la, dentro da melhor tradição e exemplo beneditinos. Destacam-se a defesa da capacidade da Razão humana (dada por Deus, que quis o Homem capaz de conhecê-Lo) no entendimento da Verdade divina, e temas como a Imaculada Conceição. Este dom e apetite intelectual já são graças, porém note-se que para desenvolvê-los Santo Anselmo teve, antes, que fazer uma escolha capital: fugiu de casa, o que normalmente não seria correto, mas em função de se afastar do mundanismo, e de resto já em idade adulta; algo semelhante aconteceu com São Francisco de Assis, ao recusar e abandonar radicalmente o que lhe vinha dos pais terrenos, para abraçar plenamente os bens do Pai Eterno. Não se pode fazer algo assim por motivo e de forma errada, mas eventualmente é necessária esta santa coragem de buscar antes a Deus do que ao mundo – “Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos Céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12), isto é, existe a necessidade de fazer violência contra os próprios apegos terrenos para poder receber em plenitude a Jesus; "Nihil amori Christi praeponere", "Nada antepor ao amor de Cristo", como expressava São Cipriano, lema adotado por São Bento na sua Regra monástica, e também por Bento XVI no seu pontificado. Esta violência contra as próprias paixões deve ter como resultado a mansidão no trato com os outros, incluindo os adversários, e este também foi o exemplo de Santo Anselmo. Enfim, há uma coerência e riqueza no seu viés filosófico e de vida, sintetizadas nas suas palavras: “Não quero compreender para crer, mas crer para compreender, pois bem sei que sem a fé eu não compreenderia nada de nada.”
Oração:
Senhor Deus, de conhecimento perfeito, que nos destes a Razão para conosco Se comunicar, concedei-nos por intermédio de Santo Anselmo o gosto pelo saber que leva a Vós, e ainda mais a humildade que ele viveu, para que entendamos que só pela Fé bem orientada poderemos viver o Vosso amor e vontade, na mansidão da alma que soube intrepidamente tudo abandonar para estar só Convosco. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
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