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Raimundo Lúlio ou Raimundo Lulo (em Catalão, Ramon Llull) nasceu em Palma de Maiorca, na época Ciudad de Majorca, capital do reino, reino vassalo de Aragão (atualmente, capital da comunidade autônoma das Ilhas Baleares no Mar Mediterrâneo, pertencente à Espanha), no final de 1232 ou início de 1233. Isto foi pouco depois da conquista de Maiorca pelo rei Jaime I de Aragão, e o local sofreu assim forte influência catalã (região do nordeste espanhol que até hoje mantém cultura e língua próprias).

Sua família era cristã e de boa condição financeira, influente, e por isso foi enviada às ilhas para ajudar na sua cristianização, pois o arquipélago era então habitado principalmente por árabes e judeus. Raimundo cresceu assim numa condição de cultura mista.

Frequentava a corte de Jaime I e, aos 22 anos, como trovador da corte de Jaime II e seu menescal (isto é, chefe administrativo), casou-se com Blanca Picany, com quem teve dois filhos, Domenéc e Magdalena. Segundo ele mesmo, era uma vida frívola, vazia e libertina. Contudo, em 1263, após uma experiência mística, converteu-se verdadeiramente ao Catolicismo, e entrou como leigo para a Ordem Terceira de São Francisco. Dedicou-se à contemplação e ao estudo de línguas estrangeiras e teologia, com o objetivo de trabalhar para a conversão dos judeus e dos árabes. Em 1275, deixou a família para se dedicar a este serviço.

Neste seu empenho, desenvolveu uma vasta obra com grandes méritos em termos literários, linguísticos, técnicos, filosóficos, lógicos, teológicos, matemáticos, exegéticos, apologéticos: por exemplo, foi o primeiro autor a utilizar uma língua neolatina — o Catalão — para expressar conhecimentos científicos e filosóficos, e, assim como Dante é considerado o fundador do italiano padrão, ele o é do Catalão moderno, particularmente por conta do livro Blanquerna, possivelmente o primeiro romance europeu conhecido, publicado em 1270. Mas, além disso, grande parte dos seus 280 escritos o foram em Árabe, e ainda muitos em Latim e Occitano (ou Langue d'Oc, o dialeto de origem românica mais falado no sul da França e regiões próximas, e que sucumbiu ao uso internacional do Francês moderno, o Langue d'Oui, onde a palavra “sim” é oui e não oc).

Desenvolveu métodos argumentativos com base em sistemas de escolhas que antecedem os trabalhos de Borda (em 1770) e Condorcet (também do século XVIII) — respectivamente, a metodologia na qual candidatos (ou ideias, etc.) são ordenados segundo as preferências de cada eleitor de acordo com uma contagem, e os métodos “de paridade”, onde são comparadas de cada vez, sucessivamente, apenas duas opções, ganhando uma delas sequencialmente até um possível vencedor. Outros métodos seus de argumentação: o das “razões necessárias” (para O Livro do Gentio e dos Três Sábios, 1274-1276), o da automatização do pensamento, e o da combinação de atributos religiosos e filosóficos selecionados de várias origens (para Ars Generalis Ultima ou Ars Magna, “Grande Arte”, de 1305). O objetivo era sempre expor a Fé Católica de modo a argumentar com os que não a conheciam bem.

Para além do conteúdo religioso destas obras, seus métodos de raciocínio também influenciaram matemáticos e lógicos posteriores, como Gottfried Leibniz (pelo que Raimundo é reconhecido como um pioneiro da teoria computacional) e Giordano Bruno. Pode-se assim falar de um “sistema de Llullo” ou “llullismo”, que seria uma forma aprimorada de retórica e lógica, onde os argumentos de um debatedor eram desmontandos e remontados.

Por ser o mais importante filósofo, poeta, escritor, teólogo e missionário da língua catalã, e um destaque na literatura e religiosidade da Idade Média, Raimundo ficou conhecido como Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), embora não seja um dos 36 Doutores da Igreja Católica.


Algumas das suas obras mais importantes são: Livro da Ordem de Cavalaria (sobre ética cristã, c.1274–1276), O Livro do Gentio e dos Três Sábios (1274-1276), O Livro das Bestas (c. 1289–1294), O Livro do Amigo e do Amado, Escritos Antiaverroitas (sobre as interpretações do filósofo islâmico Averroes sobre Aristóteles, 1309–1311), Vida Coetânea (1311), O Livro da Lamentação da Filosofia (1311), Do Nascimento do Menino Jesus, O Livro dos Mil Provérbios e Félix, Ou o Livro das Maravilhas.

Em 1314, já muito idoso, Raimundo viajou para o norte da África. Os reis de Sicília e Aragão haviam recebido falsas informações, repassadas a ele, de que o governante de Túnis desejava conhecer o Catolicismo. Ao pregar o Evangelho, foi apedrejado por muçulmanos nesta cidade, e mercadores genoveses o embarcaram de volta a Maiorca; mas não resistiu aos ferimentos. A data do seu falecimento é usualmente referida como 29 de junho de 1315, mas seus últimos escritos, de dezembro deste ano, e outras pesquisas sugerem que ocorreu ela no primeiro trimestre de 1316.

Raimundo Lúlio é considerado mártir da Ordem Terceira Franciscana.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho



Reflexão:

Grande é a obra de São Raimundo Lúlio, que reconhecendo o valor do estudo, em várias áreas, o utilizou para o bem, buscando a conversão dos árabes e judeus com quem convivia desde a infância. Verdade é que não todos serão eruditos, mas ao menos pelo exemplo o nosso apostolado, na vivência verdadeira da Fé, deve ser caminho para levar a Palavra de Deus aos irmãos, dentro e fora da Igreja. Isto, naturalmente, pressupõe um mínimo de conhecimento da sã Doutrina, o qual sempre pode e deve ser cultivado. Por outro lado, não é possível esperar que Deus providencia uma experiência mística especial, como aconteceu com São Raimundo, para levarmos a sério a nossa formação católica: na Sua misericórdia, o Senhor ofereceu uma tal oportunidade a ele, que levava uma vida mundana na corte, mas não é este o caminho usual para todos. De resto, muitas e muitas são as diferentes oportunidades, sejam mais ou menos místicas, que o Pai oferece a nós, Seus filhos, para a nossa conversão diária: fundamental é o mérito de reconhecê-las e aceitá-las.

Oração:

Senhor Deus de infinita sabedoria e conhecimento, concedei-nos, por intercessão de São Raimundo Lúlio, abandonarmos os vazios nesta vida, aprendendo como ele a falar a língua universal do Vosso amor e caridade, para, acatando a ordem primeira da Vossa vontade, levarmos aos irmãos não as falsas notícias, mas a Boa Nova da Vossa redenção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

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