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A Virgem Maria no Concílio Vaticano II

Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R. (Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R.)

Escrito por Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R.

18 JAN 2017 - 10H38 (Atualizada em 11 OUT 2022 - 10H53)

 
Mãe da Igreja
O Concílio Vaticano II aconteceu em Roma, Itália, entre os anos 1962 e 1965. Com uma assistência de mais de dois mil bispos de todo o mundo, foi o concílio mais representativo dos 21 que se realizaram na história da Igreja.

Contou com a colaboração preciosa de muitos peritos e estudiosos.

Papa João XIII

Papa João XXIII

Wikipédia
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O Concílio, convocado pelo Papa João XXIII, foi promovido em quatro sessões. A primeira transcorreu no próprio pontificado de João XXIII, de 11 de outubro a 8 de dezembro de 1962. As outras sessões foram efetuadas durante o pontificado de Paulo VI, de 29 de setembro a 4 de dezembro de 1963, de 14 de setembro a 21 de novembro de 1964 e de 14 de setembro a 8 de dezembro de 1965.

Por vontade de João XXIII, o objetivo do Concílio II foi eminentemente pastoral e missionário. Não se dedicou a condenar erros, mas a buscar a atualização da doutrina da Igreja ao mundo de hoje e sua projeção na vida. Pôs em evidência a missão salvadora e evangelizadora da Igreja diante dos desafios da cultura moderna.

Os ensinamentos do Concílio tiveram enorme impacto sobre a Igreja em todas as regiões do mundo. Foi bastante produtivo, publicando 16 documentos. Foram elaboradas 4 constituições da maior importância para a Igreja. Foram formulados 9 decretos sobre assuntos particulares ou para determinados grupos dentro da Igreja. E foram editadas 3 declarações.

 

RENOVAÇÃO MARIANAPapa Paulo VI

Papa Paulo VI



O Concílio foi um marco na renovação da vida e missão da Igreja no mundo atual. Renovou também a Mariologia e o culto mariano, com muitos debates e reflexões entre os seus participantes.

Antes do Concílio, a Mariologia aparecia separada do resto da teologia, ressaltando as glórias e os privilégios da Virgem Santíssima. Seu método era mais baseado na especulação, formulada a partir de deduções lógicas.

Fiel ao legado da Igreja e sensível às interpelações da cultura hodierna, o Concílio adotou o enfoque histórico-salvífico, situando a compreensão da figura de Maria no horizonte maior da história da salvação. Orientou para que sua figura fosse ser contemplada em sua relação com Jesus Cristo e com a Igreja.

O Concílio favoreceu para que a Mariologia fosse integrada no conjunto da teologia, com perspectiva mais bíblica e existencial. A Bíblia é fonte do tratado a respeito de Maria. A tradição da Igreja é considerada.

O Concílio também indicou a dimensão antropológica. Sublinhou o lado humano da Mãe de Jesus, mostrando-a como mulher livre e de fé, pessoa consciente e responsável, que cooperou ativamente no projeto salvífico de Cristo.

Sua preocupação foi mais pastoral. Na mariologia, a preocupação maior do Concílio foi renovar a vida de fé e não criar novos dogmas marianos. Orientou para que a piedade mariana fosse mais autêntica, evitando exageros e desvios.

 

A FIGURA DE MARIA NA “LUMEN GENTIUM”





O Concílio optou por não fazer um documento autônomo a respeito de Maria, mas integrou sua figura na Constituição Dogmática “Lumen Gentium” (L. G.), que fala sobre a Igreja. O Capítulo VIII, que conclui a Constituição, focaliza a pessoa e a missão da Mãe de Deus.
Maria

O Capitulo VIII é curto, mas denso. Busca inserir a figura de Maria no arco completo da história da salvação, especialmente no mistério de Cristo e da Igreja. De rico conteúdo bíblico e teológico, renova a compreensão dos cristãos a respeito da Mãe de Jesus.

Ao elaborar tal texto, a intenção do Concílio não foi desenvolver uma doutrina completa sobre Maria, mas propor uma exposição sintética e essencial a respeito dela, apresentando, inclusive, os deveres dos cristãos para com ela, em particular no âmbito do culto. A Mãe de Jesus está situada na economia da salvação (L. G., nºs. 52-54).

 

"De acordo com o Concílio, Maria está no coração do mistério de Cristo e da Igreja, pois Deus quis que Jesus, Cabeça da Igreja, nascesse de suas entranhas."

De acordo com o Concílio, Maria está no coração do mistério de Cristo e da Igreja, pois Deus quis que Jesus, Cabeça da Igreja, nascesse de suas entranhas. Prenunciada no Antigo Testamento, ela é apresentada, dentro do Novo Testamento, como aquela que aceitou ser cooperadora do projeto divino de salvação, e como a perene associada de todo o trajeto de Jesus Cristo. Por isso, é venerada como a Mãe dos cristãos, na ordem da graça, experimentando a Igreja sua intercessão fraterna (L. G., nºs. 55-62).

O documento do Concílio mostra que a Mãe de Jesus é o tipo de Igreja e o exemplar dos cristãos, levando-se em conta todo o mistério da salvação que nela realizou e sua vida evangélica. É modelo de fé, esperança e caridade (L. G., nºs. 63-65).

Para o Concílio, os cristãos devem realizar um culto especial a Maria, embora essencialmente distinto da adoração que se presta a Deus. As formas de piedade aprovadas pela Igreja fazem com que, enquanto se honra a Mãe de Deus, se honre o seu Filho. A verdadeira devoção mariana procede dos dados da autêntica fé sobre a Virgem Maria e leva a seu amor e imitação. Nela a Igreja vê sempre seu sinal de esperança e conforto (L. G., nºs. 66-68).

O Concílio não deixou de insistir na necessidade e importância do estudo mariano, dando aos cristãos orientações oportunas e seguras. De forma clara, recomendou aos teólogos e pregadores que evitem, em suas reflexões, todo falso exagero e toda mesquinhez de espírito. Recolham os dados de sua mariologia das fontes autênticas (Sagrada Escritura, Santos Padres, Doutores, Liturgia e Magistério). Cultivem também uma sensibilidade ecumênica, evitando palavras ou fatos equívocos que induzam os outros em erro acerca da doutrina e culto da Mãe de Jesus (L. G., nº. 67).

 OUTROS TEXTOS CONCILIARES

O Concílio mencionou a figura de Maria em outros textos.

A Constituição sobre a liturgia diz que, durante o ano litúrgico, a Igreja venera com especial amor a Mãe de Deus, que por vínculo indissolúvel está unida à obra redentora de Jesus (S. C., nº. 103).

 O Decreto sobre o apostolado dos leigos mostra que o exemplar perfeito para a vida espiritual destes cristãos há de ser Maria, porque viveu vida simples, unida a Cristo, e sempre cooperando com sua obra redentora (A. A., nº. 4).

 

"O Concílio não deixou de insistir na necessidade e importância do estudo mariano, dando aos cristãos orientações oportunas e seguras."

O Decreto sobre a atualização da vida religiosa recomenda que os religiosos, por intercessão de Maria, progridam e produzam frutos (P. C., nº. 25).

 O Decreto sobre a formação sacerdotal orienta para que os seminaristas amem filialmente a Maria (O. T, nº. 8).

O Decreto sobre o ministério dos presbíteros requer, como um dos meios de sua espiritualidade, a devoção filial a Maria (P. O., nº. 18).

O Decreto sobre a atividade missionária da Igreja refere-se a Maria em suas ponderações: “Como pela descida do Espírito Santo sobre a Virgem Maria fora concebido Cristo e como pelo mesmo Espírito descendo sobre Cristo em oração Ele fora impelido à realização do ministério, assim em Pentecostes começaram os atos dos Apóstolos” (A. G., nº. 4).

 

Escrito por:
Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R. (Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R.)
Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, formado em filosofia e teologia. Atuou como formador, trabalhou no Santuário Nacional, onde foi diretor da Academia Marial.

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