Por José Aparecido Cauneto Em Artigos

Espiritualidade Mariana no Documento de Aparecida – Parte III

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No segundo artigo a respeito da espiritualidade mariana no Documento de Aparecida, afirmamos que o cristão deve olhar para Maria Santíssima sob o prisma do amor trinitário, sendo este um dos seus aspectos mais marcantes.

E não poderia ser diferente.

Maria é apresentada pelo Documento de Aparecida como «modelo e paradigma da humanidade» e «artífice de comunhão» (DA 268). Enquanto modelo perfeito de Igreja, a Santíssima Virgem faz refletir e nos remete ao modelo do amor trinitário que une Pai, Filho e Espírito Santo, cujo dom deve ser cultivado na Igreja e por ela comunicado, a fim de que todos, sob o olhar materno da Mãe de Deus, se sintam filhos e irmãos, discípulos e missionários (DA 524).

Por isso, o mistério da Trindade revelado em Maria não pode deixar de ser aprofundado, sob pena de não compreendermos as atitudes de Maria e, por conseguinte, não sermos dela os imitadores que devemos ser.

Citando o documento Lumen Gentium, do Concílio Ecumênico Vaticano II, os Bispos reunidos em Aparecida afirmam: «O mistério da Trindade é a fonte, o modelo e a meta do mistério da Igreja: “um povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito”, chamado em Cristo “como sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano”» (DA 155). E citando o Documento de Puebla, os Bispos sustentam que «somos chamados a viver e a transmitir a comunhão com a Trindade, pois “a evangelização é um chamado à participação da comunhão trinitária”» (DA 157).

Desse mistério Maria teve uma participação decisiva. Nela o mistério se realiza plenamente. Dizem os Bispos que «um dos eventos fundamentais da Igreja é quando o “sim” brotou de Maria» (DA 268). E ainda, que o “sim” de Maria, quando repetido pelo discípulo, «compromete radicalmente a liberdade» (DA 136). Ou seja, a resposta de amor que brota no coração do discípulo é igualmente única e decisiva, é resposta de quem tem a consciência do vínculo amoroso pelo qual a Trindade nos faz, de fato, parecidos com o Mestre.

Nesse sentido, quando olhamos para a Mãe de Jesus, o que vemos, senão a própria imagem da Trindade divina presente em seu ser? De fato, a Virgem Maria é «a imagem esplêndida da conformação ao projeto trinitário que se cumpre em Cristo», recordando-nos que «a beleza do ser humano está toda no vínculo do amor com a Trindade» (DA 141), vínculo este que será pleno se, também em nós, a resposta brotar positiva em nosso coração.

Em Maria o amor misericordioso do Pai é visível. É o próprio Cristo, encarnado pela ação do Espírito Santo. Assim, se somos chamados, enquanto discípulos, a assumir a missionariedade, não pode nossa missão ser diferente da missão assumida por Maria. Por isso, com muita propriedade o Documento de Aparecida afirma que «o discípulo missionário há de ser um homem ou uma mulher que torna visível o amor misericordioso do Pai, especialmente para com os pobres e pecadores» (DA 147). Esta é a exigência de um verdadeiro encontro com Jesus, estabelecido «sobre o sólido fundamento da Trindade-Amor», cujo ponto de partida é a experiência batismal pela qual nos tornamos cristãos (DA 240). Ser cristão não é uma idéia, como bem observa o Papa Bento XVI em sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, mas um encontro com Cristo.

O amor trinitário, portanto, como fundamento de uma autêntica espiritualidade cristã, nos remete a uma concepção renovada de santidade, presente no Documento de Aparecida, cujo caminho a ser percorrido está no coração do mundo, para onde o discípulo que a busca é obrigatoriamente conduzido (DA 148).

E Maria, portadora do amor trinitário, nos educa com sua atitude acolhedora, a fim de que também nós sejamos modelo de Igreja acolhedora, capaz de criar no mundo a comunhão que educa para um estilo de vida compartilhada, solidária e fraterna (DA 272). Nessa pedagogia mariana, não podemos nunca nos esquecer de que a comunhão da Igreja «se sustenta na comunhão com a Trindade» (DA 155), cujo mistério «nos convida a viver uma comunidade de iguais na diferença» (DA 451).

Maria nos ensina que a Trindade «é a fonte mesma de amor e da vida», pois não há resquício algum de conflito em seu ser decorrente da diversidade de Pessoas que a habita (DA 543). Ao contrário, em Maria a comunhão de amor de Pai, Filho e Espírito Santo a transforma no modelo perfeito a inspirar toda a humanidade. Por isso mesmo, exprimem os Bispos que na «comunhão de amor das três Pessoas divinas, nossas famílias têm sua origem, seu modelo perfeito, sua motivação mais bela e seu último destino» (DA 434).

Eis uma das razões pelas quais devemos acreditar que a espiritualidade mariana é um caminho que nos transforma em autênticos discípulos de Jesus e missionários a serviço do Reino de Deus, a exemplo de Maria, bem como, com toda a Igreja da América Latina e do Caribe, confiar que «esta visão mariana da Igreja é o melhor remédio para uma Igreja meramente funcional ou burocrática» (DA 268).

Ad Jesum per Mariam!

 

José Aparecido Cauneto

Membro fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí

e Membro da Academia Marial de Aparecida

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