Nesta semana, estudaremos um aspecto interessante da cena que está descrita em Ex 2,16-22, a figura do sogro de Moisés. Ele foi uma figura muito importante na história da libertação de Israel, ajudando seu genro em momentos cruciais. O que Deus quer nos ensinar neste encontro?
Faça uma oração, clamando a presença do Espírito Santo, para que o estudo dessa semana gere frutos de vida cristã. Leia Ex 2,16-22 e destaque o que mais te chamou a atenção na atitude do sogro de Moisés.
Como Ex 2,16-22 está organizado?
Ex 2,16-22 tem uma organização muito interessante:
1) Introdução (vv.16-17)
1.1) Descrição da situação (vv.16–17a)
1.2) Ação de Moisés (v.17b)
2) Resultado da ação de Moisés (vv.18–20)
2.1) Retorno antecipado das filhas; a pergunta de Raguel: "Por que você voltou tão cedo?" (v.18)
2.2) As filhas relatam a ajuda de Moisés (v.19)
2.3) Resposta: Moisés é chamado para compartilhar uma refeição (v.20)
3) Conclusão
3.1) Moisés se estabelece e ganha uma esposa (v.21)
3.2) A estada temporária de Moisés antecipou nomeando seu primeiro filho: Gersam (v.22)
Para onde Moisés fugiu?
Depois de matar um egípcio e ser renegado até mesmo pelos israelitas (cf. Ex 2,12.14), Moisés temeu o faraó que poderia condená-lo a morte. Uma prática muito comum naquele tempo, no Egito. Diante disso, ele foge para a região de Madiã (cf. Ex 2,15).
Por que Moisés foi para Madiã?
Madiã era a terra dos madianitas; descendentes de Abraão mediante sua esposa Quetura (cf. Gn 25,2), eles ocupavam um considerável território da península do Sinai. Local que será escolhido por Deus para se revelar a Moisés (cf. Ex 3-4) e depois aos israelitas (cf. Ex 19,1s).
Qual é o significado do poço, onde Moisés se assentou?
No v.15, o autor faz questão de dizer que Moisés se assentou junto a um poço. Isso pode denotar que ele estava fatigado de sua jornada e queria recompor suas forças, descansando e bebendo água. Ao citar isso, a próxima cena está contextualizada.
O narrador inicia o novo bloco textual fazendo menção a um novo personagem, trata-se de um sacerdote de Madiã, pai de sete filhas (v.16), cujo nome será revelado versículos à frente, Raguel (v.18).
Por que o nome do sogro de Moisés é Raguel?
Um detalhe precisa ser lembrado: o nome do sogro de Moisés muda ao longo da narrativa. Em Ex 3,1; 4,18; e por todo o Ex 18, ele será denominado “Jetro”. Além disso, em Jz 1,16; 4,11, será chamado de Queni ou Hobab.
Por que existe essa variação? Possivelmente, aqui, a ênfase no nome Raguel se dê pelo fato de que o autor tinha a intenção de mostrar este personagem como alguém que tinha certo relacionamento com Deus, pois, em hebraico, esse termo (Raguel) significa “amigo de Deus”. Daí, talvez, a insistência inicial do autor em apresenta-lo como “sacerdote”.
De fato, Raguel se mostra como alguém que contribui muito com Moisés na história. Primeiro, ele o acolheu em sua casa e deu-lhe a filha em casamento (cf. Ex 2,21). Depois, ele demonstrou preocupação e carinho com o escolhido de Deus para ser o libertador do povo (cf. Ex 18,1-12). Por fim, ele aconselhou sabiamente seu genro (cf. Ex 18,13-27).
Qual é o sentido da hospitalidade do sogro de Moisés?
Mostrando a hospitalidade do sacerdote de Madiã em relação a Moisés, o autor do livro do Êxodo não só cria um contraste entre a maneira como o Faraó agiu (cf. Ex 2,15), mas também enfatiza a preocupação legal iminente de defender a causa daqueles à margem da sociedade israelita, os estrangeiros.
Defender os estrangeiros, acolhendo-os da melhor forma possível, consiste numa ação muito querida por Deus. Tanto é assim que, em diversas passagens, esse tema aparece (cf. Ex 20,10; 23,12; Lv 19,10; 23,22; Dt 5,14; 16,11.14; 26,11s; Nm 35,15; Js 20,9).
Neste encontro, estudaremos novamente a primeira cena logo após a fuga de Moisés. Mas daremos ênfase na atitude que ele teve diante da injustiça cometida pelos pastores que expulsaram as filhas de Raguel do poço em Ex 2,16-22.
Faça uma oração, clamando a presença do Espírito Santo, para que o estudo dessa semana gere frutos de vida cristã. Leia Ex 2,16-22 e destaque o que mais te chamou a atenção na ação de Moisés.
Depois de apresentar o pano de fundo onde a cena acontece (v.16), o narrador mostra um conflito. Alguns pastores vieram e expulsaram as filhas de Raguel do poço (v.17).
Qual é o padrão da ação de Moisés?
Moisés entra em cena e age. Neste momento, o narrador repete um padrão do comportamento daquele que será o líder de Israel, durante os quarenta anos no deserto, à saber, atuar efetivamente diante de situações de iniquidade.
No v.11, Moisés assume as dores do escravo diante do opressor egípcio; no v.13, ele questiona um hebreu que estava batendo em seu próximo; e, agora, no v.17, expulsa os maus pastores que oprimiam as filhas de Raguel. Assim, o líder escolhido por Deus constitui-se, na narrativa, como alguém que não atura injustiças.
No que o senso de justiça de Moisés está fundamentado?
As três situações, nas quais agiu, demonstram que o senso de justiça de Moisés transcendia as fronteiras de nacionalidade, gênero e parentesco. Ele não é indiferente ao mal, tanto em relação à quem o comete, quanto por quem é a vítima.
Moisés demonstra uma preocupação pela vida, especialmente a vida dos membros mais fracos da sociedade, e uma intolerância ao abuso exercido pelos fortes. Também é evidente a sua coragem, ao arriscar sua própria vida, uma característica necessária para todo aquele que age em favor daqueles que sofrem injustiça.
Onde Moisés aprendeu seu senso de justiça?
O senso de justiça de Moisés foi aprendido, não de sua herança hebraica, mas de sua criação egípcia, de acordo com At 7,22. Tal realidade é um testemunho significativo. A Escritura demonstra, com isso, que há um agir ético entre àqueles que estão fora da comunidade de fé.
O que a teologia da criação tem a ver com a forma de agir de Moisés?
Outro aspecto fundamental corrobora com a verdade afirmada anteriormente: Deus não aparece em nenhuma das três ações de Moisés. A ética que pautou suas ações está fundamentada numa teologia da criação. Com efeito, ele agiu a partir do valor indelével que a vida humana tem.
Por suas ações de defesa da vida, aquele quer será o grande líder de Israel promove a obra criadora de Deus. A compaixão de Moisés pelos menos afortunados e sua pronta resposta em seu favor antecipa a vontade de Deus que será demonstrada tanto em Sua ação salvífica (cf. Ex 14,13.30; 15,1–2) quanto, também, na própria Lei (cf. Ex 22,21–27).
Mais uma vez, uma ética baseada numa teologia da criação serve como uma base importante para a redenção e a Torá.
No encontro desta semana, estudaremos Ex 2,23-25. Trata-se da última parte antes do chamado de Moisés (Ex 3-4). O foco desses versículos consiste na resposta de Deus ao sofrimento dos israelitas. Este conjunto apresente, de modo muito claro, como Deus age no mundo e, por isso, ele revela ensinamentos maravilhosos.
Faça uma oração, clamando a presença do Espírito Santo, para que o estudo dessa semana gere frutos de vida cristã. Leia Ex 2,23-25 e destaque o que mais te chamou a atenção.
Como Ex 2,23-15 está organizado?
Estes versículos consistem numa transição das cenas que relatam a fuga de Moisés (cf. Ex 2,1-22) e seu chamado (cf. Ex 3,1-4,18). Eles têm uma estrutura interessante:
A) v.23a: Conclusão da tradição precedente com o relato da morte do faraó
B) v.23b-25: Antecipação das seguintes tradições (relato do clamor e promessa de Deus)
b.1) v.23b-c: o clamor dos israelitas
b.2) v.24-25: a promessa e a resposta de Deus.
O elemento “A” consiste numa conclusão para a narrativa de 2,11-22, mostrando que a ameaça que gerou a fuga de Moisés do Egito não existe mais.
O elemento “B” prepara o cenário para a narrativa do chamado de Moisés em 3,1-4,18, apresentando o grito de Israel e a correspondente resposta de Deus. Há uma semelhança interessante entre Ex 2,24-25 e 3,7.
Como funcionam os versículos de Ex 2,23-25?
Esses versículos de Ex 2,23-25 também se relacionam com Ex 1,1–7, pois há uma relembrança de que os descendentes de Abraão, Isaac e Jacó não serão definidos por seus anos de escravidão, mas por seu relacionamento de aliança com o Deus que ouviu seus gritos, viu e conheceu sua aflição (cf. Ex 2,24; 3,7-9) e lembrou de suas promessas (cf. Gn 8,1).
O que as três expressões diferentes para o clamor de Israel (gemeu, gritou e levantou-se) significam?
As três expressões diferentes para o clamor de Israel (gemeu, gritou e levantou-se) capturam a profundidade de seu desespero durante a opressão. Embora o grito deles tenha se erguido para Deus, as palavras usadas não indicam que devemos pensar em oração.
Mais provavelmente, o Senhor responde, aqui, ao gemido de dor na criação (cf. Gn 21,15-19), ao invés de oração piedosa. Ou, também pode ser, que as quatro respostas de Deus (ouviu, lembrou, olhou, se fez conhecer) para a situação de Israel tenham sido motivadas pela Graça (cf. Ex 3,7.9.15; 4,31; 6,5).
O que significa dizer que Deus se lembrou de sua aliança?
Aqui, a ação de Deus não se constitui como uma piedade impulsiva. Entretanto, o Senhor agiu porque se lembrou de sua aliança com Abraão, Isaac e Jacó (v.24).
Lembrar significa muito mais aqui e em outros lugares no Antigo Testamento do que uma resposta a um lembrete casual para superar o esquecimento. É uma expressão de lealdade e constância, bem como uma recordação com o propósito de agir.
Ao longo de toda a narrativa presente no Pentateuco, o autor lembra, repetidas vezes, de que os atos de salvação de Deus em Êxodo devem ser vistos em continuidade com os atos de Deus relatados em Gênesis, por causa da aliança.
Por que o termo “Deus” só aparece no final do capítulo 2?
Um dado interessante precisa ser destacado neste estudo: o termo “Deus”, que não foi mencionado ao longo de quase todo Ex 2, somente aparece nos últimos versículos e por três vezes!
Parece que o autor teve a intenção de que fôssemos retirados do nível da experiência humana e tivéssemos um vislumbre do ponto de vista de Deus. Os escravos israelitas, aparentemente abandonados e oprimidos, não são, de modo algum, esquecidos. Ao contrário, eles fazem parte das estratégias de longo alcance de Deus.
Nesta semana, destacaremos uma das expressões mais bonitas de Ex 2,23-25: “Deus se fez conhecer” (v.25). Essa afirmação bíblica apresenta um dos mistérios mais profundos da fé judaico-cristã; o Senhor se auto comunicou. Na investigação científica sobre Deus, o estudo desse processo é feito numa disciplina chamada “teologia da Revelação”.
Faça uma oração, clamando a presença do Espírito Santo, para que o estudo dessa semana gere frutos de vida cristã. Leia Ex 2,25 e reflita sobre o que significa a afirmação de que Deus se fez conhecer.
A afirmação de que Deus se fez conhecer é fundamental para nossa fé (cf. Ex 2,25). Sabendo disso, a Igreja Católica, mediante seu Magistério, elaborou um documento muito importante sobre este assunto, a Constituição Dogmática Sobre a Revelação, a Dei Verbum. A expressão latina, Dei Verbum, significa “Palavra de Deus”.
O que é o Magistério da Igreja?
O rico Magistério da Igreja Católica tem muitos documentos para ensinar o povo de Deus ao longo de sua história de dois mil anos. Como uma mãe que educa um filho, ela lê a Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição e transmite o ensinamento da Palavra de Deus aos fieis.
Deste modo, o Magistério da Igreja constitui-se como todo conjunto de ensinamentos ministrados pelos papas, em conjunto com o colégio de cardeais, mediante uma leitura profunda tanto do contexto histórico, quanto da Bíblia e da Tradição.
Nesta semana, faremos um estudo sobre alguns poucos aspectos de um desses documentos, a Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, a Dei Verbum, do Concílio Vaticano II.
Por que estudar um pouco sobre o tema da teologia da Revelação é importante?
A teologia da revelação é singularmente importante, porque ela prepara o terreno para qualquer coisa que queiramos dizer em todo o campo da reflexão sobre Deus.
O que a Igreja ensina sobre a Revelação divina?
A partir das Escrituras e da Tradição, a Igreja ensina que Deus se revelou. Preste atenção no que afirma o documento Dei verbum, no número 1:
“Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2,18; 2Pd 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e convive com eles (cf. Br 3,38)”.
Neste trecho, o Magistério ensina que Deus se revelou por vontade própria, por Graça. Nada, a não ser Ele mesmo, na sua infinita bondade, foi o motivo desse processo. Assim, é possível dizer: o Senhor se comunicou ao ser humano por amor, já que Ele mesmo é amor (cf. 1Jo 4,8.16).
Mas para que Deus se revelou?
A Igreja, sabiamente, ensina no Concílio Vaticano II que Deus se revelou “para convidar (os seres humanos) e admitir à comunhão com Ele”. Em outras palavras, o Senhor se comunicou a fim de que todos os homens e mulheres fossem salvos.
Neste sentido, a salvação deve ser entendida como uma comunhão com Deus nesta vida e também por toda eternidade. Com efeito, tal realidade é compreendida, biblicamente, na categoria do “Reino de Deus”.
O que o Reino de Deus tem a ver com a revelação divina?
O Reino de Deus consiste na própria pessoa de Cristo, revelador do Pai e do Espírito Santo. Uma vez que a humanidade O aceita, movida pela Graça, ela atua com Cristo, por Cristo e em Cristo, tornando o reinado do Senhor mais perceptível no mundo.
É diante dessa verdade que a Igreja se compreende como “sacramento universal de Salvação”. Deste modo, ela é o sinal do Reino no mundo, ao apontar para o Cristo e Sua vontade.
É sempre importante lembrar que este Reino de Deus, embora presente no já da história humana, por meio da ação de Deus em Cristo, só se plenificará na glória eterna, quando o Filho voltar para julgar vivos e mortos.
Como Deus se revelou?
Dentro do documento Dei Verbum (n.1), o Magistério responde, afirmando que a “revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação”.
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