“Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim. “Ele dizia isto para dar a entender de que morte haveria de morrer” (Jo 12,32s). “Atrairei todos a mim”: o Crucificado, neste Seu supremo e incondicional gesto de amor pelo outro, até ao preço da própria vida, finalmente sendo entendido e assumido como o sentido que podemos dar à nossa existência! Em nossa humana fragilidade, amar assim este outro, mesmo se for meu maior inimigo, pois só o Amor é que dá valor à nossa vida! É a versão humana da eterna vida das Três Pessoas Divinas!

Eis o grandioso sonho para a humanidade, que Deus sempre alimentou: que um dia a humanidade entenda quão humanizante, quão realizadora para si mesma é essa divina vida sempre proposta a nós!

É o que Deus nos revela hoje através de Miqueias. Deus não pensa em possibilidade de sim ou não. Para Ele é tão possível, tão ao nosso alcance, que se trata unicamente de questão de tempo. Sua visível presença na terra será reconhecível por todos, e por ela se deixarão cativar: “nos últimos tempos, o monte do templo de Javé será estabelecido no alto dos montes e se elevará sobre as colinas e afluirão a ele os povos” (Mq 4,1). O que de mais visível e atraente a brilhar para a inteira humanidade será essa Sua presença terrena no templo de Jerusalém, convertido no centro ou coração do mundo.

As próprias nações é que se farão missionárias, umas em favor das demais, a se convocarem e se convidarem a acolher essa universal proposta de salvação de Deus: “virão muitas nações e dirão: ‘vinde, subamos ao monte de Javé e ao templo do Deus de Jacó’” (v.2a).

O que atrai a inteira humanidade no “templo do Deus de Jacó”? “Ele (Deus) nos ensinará seus caminhos, e nós andaremos por suas veredas, pois de Sião sairá a lei e de Jerusalém a palavra de Javé” (v.2b). Que bonito: as nações finalmente ansiando viver os mesmos caminhos de Deus: a própria vida de Deus, Seus pensamentos, sentimentos, atitudes!

Ainda, que bonito e quanto a nos ensinar: “Sião” ou “Jerusalém”, o povo eleito, de tal modo se revestindo da palavra de Deus, transformando-a em vida, em atitudes, que as nações reconhecem, na vida do povo e brotando dela, “a lei... a palavra de Javé”! Reconhecem Deus lhes falando, já por Sua palavra e lei transformadas em vida na vida de Seu povo: “de Sião sairá a lei e de Jerusalém a palavra de Javé”!

Assumem Deus como seu mestre de vida: “Ele será juiz entre muitos povos e árbitro entre numerosas nações” (v.3a)! E que lição aprendem e assumem! “Com suas espadas farão relhas de arado, e com suas lanças, foices. Nenhuma nação levantará a espada contra outra e não aprenderão mais a fazer guerra” (v.3b).

O Deus que dependurou para sempre Seu arco de guerra nas nuvens (cf. Gn 9,12-17)! O Deus de coração desarmado e sempre sonhando um coração humano à imagem-semelhança desse Seu coração! Esse Deus, em Sua fé e esperança em nós, já nos vendo como essa tão sonhada humanidade pacífica, transformando nossas armas de guerra, de dominação em instrumentos de produção de alimentos! Uma humanidade unida no serviço à vida! Uma humanidade desaprendendo o diabólico extravio da guerra!

Assim, “cada um se sentará debaixo de sua vinha e debaixo de sua figueira, e ninguém mais os inquietará porque a boca de Javé dos exércitos falou” (v.4). Cultivar sua vinha e um outro colher os frutos, era ação de guerra, de roubo pelo mais forte mediante mão armada. Algumas guerras eram feitas exatamente no tempo das colheitas alheias, para se apossar delas. Na fidelidade à "lei", à “palavra” de Deus, a garantida colheita da paz universal!