Jornada Bíblica: O Senhor passa e liberta Seu povo

Tanto sofrimento, exploração, tantas tentativas de romper a escravidão, tanto clamor elevado aos céus pelo povo no Egito! Já parecia caso perdido querendo virar resignação, aceitação da derrota!

Mas o povo, tentado a desistir, não estava sozinho. Alguém, igualmente inconformado e a favor do povo, estava prestes a entrar em ação para mudar completamente os rumos da história, escancarando as portas da liberdade!

Shutterstock/Por bilha golan

“Este será para vós o princípio dos meses: será para vós o primeiro dos meses do ano” (Ex 12,2). Para Deus, agora vai começar a vida de Seu povo: escravidão não é vida! Cada família tome um cordeiro, “calculando-se o que cada um pode comer”; “se a família for pequena para um cordeiro, tome-o então juntamente com o vizinho mais próximo da casa” (v.4). “Não deixareis nada para a manhã seguinte; se algo sobrar, será queimado” (v.10).

A experiência egípcia de acumular bens às custas do trabalho escravo de seus semelhantes, isso precisa acabar ali, naquele primeiro ano e em seu primeiro mês! Acumular para amanhã pode vir do tirar de outros o que lhes é devido, necessário para hoje. Pode vir do fechar os olhos e coração às necessidades alheias. Pode vir da cobiça, “que é uma idolatria” (Cl 3,5). Tudo isso tem que ser arrancado do coração de todos, tem que morrer ali no Egito para não contaminar a terra prometida!

No 14º dia desse mês, “ao cair da tarde, toda a comunidade de Israel o imolará” (v.6) e com o sangue marcará a porta das casas onde o comerem (v.7). É o alimento-força para romperem a escravidão e construírem seu sonho de liberdade. “Assim o comereis: com os rins cingidos, os pés calçados e o cajado na mão. Comereis às pressas, pois é a Páscoa de Javé” (v.11).

Sim, “nessa noite, eu passarei pela terra do Egito e matarei todos os primogênitos da terra do Egito, tanto das pessoas como dos animais, e executarei minha sentença contra todos os deuses do Egito: eu, Javé” (v.12). Era crença: cada deus nacional garantia a vida segura de seu país. E Javé, intervindo tão fortemente no Egito, mostrava a inexistência e consequente inatividade das divindades egípcias.

E vendo o sangue nas portas, Javé faria essa Páscoa, passaria adiante, pularia a casa dos hebreus; para eles não existiria aquele mortal flagelo.

A Igreja reconhece oficialmente que o Antigo Testamento contem “coisas imperfeitas e transitórias” (DV 15), e nos dá a confortadora certeza de que Cristo “é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação” (nº 2), plenitude de tudo o que o Pai nos quer revelar. Assim, Jesus nos diz: “Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. “Mas eu vos digo: ‘Não deveis resistir aos maus’” (Mt 5,38-39a). Matando os primogênitos sobretudo humanos no Egito, Deus enfrentou os maus com o mal. E isso é “coisa imperfeita e transitória”, não vale mais nem pode valer à luz da plenitude da revelação, que é Jesus, Suas atitudes, Sua palavra de amor até para com os inimigos (Mt 5,43-48).

Bem, aquele dia da Páscoa não pode ser esquecido, é a morte do povo para a escravidão, é seu nascimento para a vida, a liberdade! Assim, “esse dia será para vós um memorial e o celebrareis como uma festa em honra de Javé, de geração em geração, como instituição perpétua” (v.14).

Recordar é voltar ao passado. Mas, se fazemos memorial, voltamos sim ao fato recordado, mas também e principalmente o atualizamos, vivemo-lo de novo hoje. “Em cada geração, cada qual deve considerar-se como tendo ele mesmo saído do Egito” (ritual judaico da Páscoa). Jamais esquecer para nunca repetir ou copiar o Egito, a experiência da escravidão, do acúmulo de bens às custas da exploração dos irmãos!

Para refletir:

1. Há diferenças entre a Páscoa do povo no Egito e a Páscoa cristã?

2. O que é, para você, cada ano celebrar a Páscoa do Senhor?