A Congregação do Santíssimo Redentor celebra 130 anos de presença em Aparecida. A data, que vai contar com celebrações especiais, recorda a chegada dos primeiros Missionários Redentoristas à Terra da Padroeira do Brasil.
“Deus confiou esta missão a nós Redentoristas e chegamos até aqui graças à Mãe Aparecida”, comemora o Superior Geral da Congregação do Santíssimo Redentor, padre Rogério Gomes. “É tempo de renovar a esperança, olhar para o passado, olhar a nossa história, mas também projetar o futuro e buscar novas forças, novas energias e pedir para o Senhor luzes para que nós possamos continuar com este trabalho missionário aí no Santuário e também em toda a Província”.
“É um momento importante de render graças a Deus por tudo aquilo que foi realizado e perceber muita doação, muito sacrifício, muita entrega”, declara o Superior da Província Nossa Senhora Aparecida, padre Marlos Aurélio.
A comemoração celebra uma história que começa por volta de 1785, com a expansão da Congregação do Santíssimo Redentor realizada por São Clemente Maria Hofbauer. O santo saiu da Itália para evangelizar outras regiões da Europa, cuidando de pobres e órfãos, que logo se tornaram seus alunos.
“Os ex alunos de São Clemente foram os fundadores do grupo redentorista da Baviera que foi trabalhar no Santuário de Altötting”, conta o Irmão José Mauro Maciel, historiador e arquivista da Congregação em Juiz de Fora.
Neste templo, localizado no sul da Alemanha, o grupo se desenvolveu e pôde enviar padres e irmãos a Aparecida, atendendo a solicitação do bispo coadjutor de São Paulo, Dom Joaquim Arcoverde. “O bispo fez o pedido com lágrimas nos olhos e o (Superior) Geral interpretou que era a vontade de Deus”, afirma Irmão Maciel.
Após um período de organização, iniciaram a jornada. “Eles viajaram da Alemanha até a Antuérpia, na Bélgica, e depois prosseguiram viagem para o Brasil”, aclara o historiador.
O desembarque no porto do Rio de Janeiro aconteceu em 20 de outubro de 1894. Os padres e irmãos chegaram de trem na estação de Aparecida, em 28 de outubro de 1894, às 23h.
“A acolhida foi festiva porque tinha uma grande esperança de que estes Missionários Redentoristas pudessem ajudar o Santuário de Aparecida a evoluir, a crescer”, explica Irmão Maciel.
Logo a presença dos romeiros começou a aumentar, atraídos pela pregação dos novos Missionários. “Desde o momento em que os Redentoristas chegaram aí, eles assumiram esse trabalho de cuidar da Casa da Mãe e nunca mais deixamos de anunciar o Evangelho”, assinala o Superior Geral.
Também os aparecidenses logo se encantaram com o testemunho dado por eles.
“Eu morava na casa ao lado da Estação e meu pai era o que cuidava das encomendas. E os seminaristas iam lá, então eu tive contato com eles na Estação da Estrada de Ferro (…) Era o contato com algo especial, porque nós conversávamos a respeito da vocação de Deus, do chamado”, relembra o bispo emérito de Rubiataba (GO), Dom José Carlos de Oliveira — Dom Carlinhos, redentorista que há 80 anos dedica sua vida ao anúncio da Copiosa Redenção.
O religioso foi ordenado sacerdote em 1957. Exerceu diversos cargos na Congregação, sendo depois ordenado bispo, sem nunca esquecer suas raízes missionárias.
“Beleza da minha vida, fiquei 15 anos nas Missões”, afirma o bispo. “Uma alegria muito grande do povo e nossa também. Porque, afinal de contas, quando há experiência de Deus num lugar, não só o povo fica feliz, mas nós também ficamos felizes com aquilo que estava acontecendo na Comunidade”.
A pregação das Santas Missões também é uma herança deixada pelos bávaros. Em 1897 eles realizaram a primeira delas em Areias (SP). Em 1902, a imagem de Nossa Senhora Aparecida também passou a fazer parte do momento.
“Ao mesmo tempo em que eles estavam no Santuário eles partiam, saíam também para fazer Missões, pregar as Santas Missões e com isso, obviamente, levavam toda a devoção a Nossa Senhora Aparecida”, destaca o Superior Provincial.
Logo eles passaram a ser reconhecidos como mensageiros da Palavra de Deus. Mesmo com as barreiras culturais e linguísticas, os Redentoristas alemães buscavam auxiliar o povo, ainda que isso gerasse momentos curiosos.
“Certa vez uma menina se desentendeu com sua colega de classe na frente da Basílica (...) e aí disse que deu uma banana para a outra. Nós brasileiros sabemos o que é dar uma banana no sentido assim, pejorativo de afronta. (…) Elas encontraram o padre Gebardo na sacristia e ela falou: ‘É verdade, padre, que dar banana para os outros é pecado?’. Gebardo não teve dúvida, né?! Como bom alemão que gosta muito de banana perguntou assim: ‘A banana estava verde ou madura?’”, exemplifica Irmão Maciel.
“Creio que ao longo destes 130 anos nós jamais deixamos, jamais renunciamos a este legado que recebemos de acolher, atender, evangelizar bem o povo que vai a Aparecida. E hoje a gente pode dizer (sobre) aqueles que são atingidos desde Aparecida pelos meios de comunicação e tantas outras expressões evangelizadoras que nós temos”, complementa o Provincial.
Foi pelos meios de comunicação que o seminarista Erik Paolo, que está se preparando para professar como Irmão Redentorista, se sentiu chamado para gastar seus dias no anúncio da Copiosa Redenção.
“Eu não participava muito da Igreja e eu não tinha sido batizado. Depois de um período, eu mesmo, quando criança, passei a participar da Família dos Devotos e receber a Revista de Aparecida”, recorda o hoje seminarista. “Eu fui conhecendo os Missionários Redentoristas mais profundamente (...) e aí comecei então essa minha caminhada vocacional”.
A relação dos familiares de Erik com os Redentoristas, entretanto, é mais antiga. “Tem relatos de meus familiares (...) ouvindo o padre Vítor Coelho de Almeida através da Rádio Aparecida”, rememora Paolo. “A minha vocação, a minha vida até mesmo, seria diferente se não tivesse Nossa Senhora e seria mais diferente ainda se não tivesse os Missionários Redentoristas em Aparecida, administrando e cuidando do Santuário Nacional”.
Este cuidado marca também a vida da Congregação. “A presença missionária redentorista em Aparecida reforça a identidade missionária da Congregação, reforça o seu compromisso missionário com a propagação do Evangelho e a opção pelos mais pobres e pela difusão da espiritualidade e da devoção mariana”, define padre Rogério.
O trabalho de evangelização acontece não apenas no altar ou pelos meios de comunicação, mas também na administração dos sacramentos, como o da penitência. “O confessionário é um lugar que exige muito a presença e a dedicação dos confrades. E é isso que os romeiros que vão a Aparecida constatam, encontram e às vezes nem sempre nas suas paróquias, nas suas comunidades, têm essa chance”, comenta padre Marlos.
Para realizar a acolhida aos romeiros, atualmente cerca de 70 padres e irmãos redentoristas vivem em Aparecida. Os religiosos atuam em diversas áreas.
“A missão realizada em Aparecida só chegou aonde chegou porque os Missionários Redentoristas realizam a missão em comunidade. A comunidade é muito importante”, afirma padre Rogério.
Como missionários da esperança, os religiosos querem continuar seu trabalho em Aparecida seguindo os passos do Redentor. “A história abre um novo capítulo e o Espírito Santo está conduzindo esta história. Ele está conduzindo juntamente com a Mãe Aparecida. Ele constitui esta história juntamente com tudo aquilo que foi feito e vai dando também caminhos novos para que a gente continue a Congregação”, auspicia padre Rogério.
As comemorações dos 130 anos da presença redentorista em Aparecida acontecem em diversos espaços da cidade. No dia 29 de outubro, às 17h30, uma procissão sairá da antiga Estação Ferroviária de Aparecida rumo à Basílica Histórica, onde será celebrada uma missa às 18h. Já no dia 30, às 18h, uma missa no Santuário Nacional celebra os 130 anos da dedicação dos Missionários à Senhora Aparecida e seus romeiros.
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