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José Maria Desa nasceu em 1603, no vilarejo de Cupertino, província de Lecce, reino de Nápoles, na atual Itália. A família, muito piedosa, vivia em situação miserável, pois o pai havia sido envolvido na falência de um conhecido a quem emprestara dinheiro. Às vésperas de seu nascimento, a família perdeu até os poucos móveis que possuía e foi despejada da casa, e assim ele nasceu, de modo semelhante a Jesus, numa estrebaria.
Nesta situação, desde criança teve que trabalhar para auxiliar no sustento familiar. Chegou a iniciar a escola, mas uma úlcera gangrenosa o afastou dos estudos por cinco anos. De toda a forma, sua saúde foi muito fraca na infância e adolescência, várias vezes com risco de vida, e não possuía boa coordenação motora nem muita inteligência.
Sua mãe procurou dar-lhe uma formação básica, a partir das histórias da vida dos santos, como São Francisco. Surgiu nele, então, o desejo de ser religioso, e sacerdote. Aos 16 anos, pediu admissão na Ordem dos Frades Franciscanos Conventuais, no convento de “Grottella”. Mas sua falta de instrução não o permitiu ficar, e voltou a trabalhar.
Ele insistiu, procurando os Franciscanos Reformados, sendo novamente rejeitado pela formação deficiente, e, depois, os Capuchinhos de Martina Franca; ali, os frades tentaram dar-lhe diversos trabalhos, mas, além da pouca instrução e capacidade de aprendizado, seus primeiros êxtases místicos faziam com que deixasse cair no chão o que tivesse em mãos, quebrando frequentemente louças e objetos do convento, a um ponto que se tornou oneroso. Os capuchinhos o dispensaram, e ele teve que retirar o hábito franciscano, o que, comentou posteriormente, foi como se lhe tivessem arrancado a pele.
Com o passar do tempo, José chegara à maioridade, e o Supremo Tribunal de Nápoles decidiu que ele deveria então trabalhar sem remuneração, para pagar a dívida do pai, já falecido. Na prática, isto era uma sentença de escravidão, e José pediu auxílio aos frades da “Grottella”, que não lhe recusaram a ajuda. Foi-lhe dado o trabalho de cuidar de uma mula. Com o tempo, os frades observaram, em meio às suas limitações, uma verdadeira piedade e vida de oração, santidade, austeridade, total obediência e dons sobrenaturais, e o admitiram no convento.
Esforçou-se por estudar com o auxílio da comunidade e, após imensas dificuldades e gigantesca força de vontade, fez o exame para o diaconato. Recomendou-se inteiramente à Nossa Senhora, por Quem tinha enorme devoção, sabendo perfeitamente que não possuía condições naturais de ser aprovado. O bispo que o arguiu pediu-lhe para comentar uma passagem do Evangelho — na Providência Divina, a única que ele conhecia bem e sobre a qual podia falar com profundidade…
Três anos depois, em 1628, no exame para o sacerdócio, novamente recorreu a Nossa Senhora. O bispo interrogou vários candidatos, descobrindo-os particularmente bem preparados, e, sem arguir os demais, entre os quais José, aprovou-os a todos. A Providência colocou o analfabeto José no presbiterato, como era da Sua vontade.
A ordenação não modificou a extraordinária humildade de José, que sabiamente reconhecia suas limitações e se autodenominava de “irmão burro”. Fazia os serviços mais simples, limpando o chão, lavando a louça, tratando dos animais, e se dedicava ao cuidado dos pobres. E recebeu o dom da ciência infusa, ou seja, por inspiração divina, falava com profunda sabedoria a respeito de qualquer tópico da Teologia. Ensinava que devíamos preparar o coração “para oferecer a Cristo a inteligência, a memória e a vontade”.
Além disso, outros dons se manifestaram: curas milagrosas de diversas doenças, predições, levitação simplesmente ao pronunciar os nomes de Jesus e Maria e êxtases nos momentos de oração, particularmente quando celebrava a Missa (numa ocasião, em levitação, suas mãos ficaram por cima do fogo de duas tochas, mas passado o momento, não havia sinal de queimaduras); percebia o que se passava nas almas das pessoas e as orientava. Logo a sua santidade e conhecimentos extraordinários atraíram multidões, e mesmo nobres e graduados religiosos o procuravam para consulta.
Mas os milagres motivaram o início de um exagerado e inconveniente fanatismo popular, e por fim surgiram até calúnias de que suas ações eram de origem diabólica. Por isso foi denunciado ao Tribunal da Santa Inquisição, que o convocou para investigação. No mosteiro de São Gregório Armênio, diante dos juízes, José levitou, provando sua inocência. Por sábia prudência, contudo, o Santo Ofício determinou o seu isolamento, de modo a não assustar ou confundir os fiéis, evitando assim interpretações erradas e poupando o convento do assédio que perturbava a paz dos frades.
Assim, José foi enviado em 1653 de Assis para conventos em Petra Rúbia, depois para Fossombrone, locais cada vez mais retirados, e finalmente para Ósimo, em 1656. Aí devia ficar afastado mesmo da comunidade, que, porém, recorreu ao Papa para tê-lo de volta a Assis. Mas o pontífice Alexandre VII lhes respondeu: “Não, basta-lhes um São Francisco em Assis”.
José tudo aceitou com humildade e obediência, sem revolta ou murmuração. Ali continuou sua vida humilde e de serviço aos pobres, e de modo especial culminou sua vida religiosa com a celebração da Sagrada Eucaristia. Faleceu em 18 de setembro de 1663, com 60 anos, e imediatamente começaram as peregrinações ao seu túmulo, com milhares de graças alcançadas por sua intercessão. Em Cupertino, sobre a estrebaria onde nasceu, foi construído um santuário a ele dedicado.
É o padroeiro dos estudantes em dificuldades, e, por suas levitações, padroeiro também dos paraquedistas e aviadores.
Reflexão:
São José de Cupertino, assim como São João Maria Vianney, ou Santa Joana d’Arc, mostram que Deus age livremente e capacita, como quer, aqueles para os quais dá Suas missões. Desta forma fica evidenciado que as boas obras são fruto das Suas graças divinas, e não dos méritos dos seres humanos. Estes têm por único mérito fazer o que Nossa Senhora, São José de Cupertino e todos os outros santos fizeram — aceitar com humildade, alegria e pronta obediência tudo o que Deus dispuser para cada um em particular. São José de Cupertino aceitou a miséria, a doença, os limites pessoais e as humilhações, dedicando-se ao essencial do que a Igreja ensina como necessário para uma vida católica coerente: oração constante, profunda e viva devoção à Nossa Senhora e à Eucaristia, e o serviço amoroso aos pobres. Certamente que todo empenho deve ser colocado (como procurou fazer São José de Cupertino!), também no melhor conhecimento possível da Doutrina, mas como o conhecimento por si só não traduz uma vida de Fé verdadeira, precisa ser acompanhado de profunda humildade; São José de Cupertino já a possuía em abundância, assim a sabedoria lhe foi infusa… de acordo com as capacidades e possibilidades pessoais, seguindo estes passos sempre estaremos no caminho que leva seguramente a Deus. Não por acaso, são exatamente as grandes deficiências de comportamento e escolha na atormentada vida dos nossos tempos, e devem ser os objetivos concretos de todos os que sinceramente buscam a Deus.
Oração:
Deus Pai de bondade e sabedoria, que tudo provê para a salvação de cada alma, concedei-nos por intercessão de São José de Cupertino a sua grandiosa humildade e completa obediência, na total confiança da Vossa Providência em nossas vidas, de modo que, sem nos abalarmos com as dificuldades e provações, façamos perseverantemente com amor e simplicidade o bem ao próximo, para podermos ser elevados ao êxtase infinito da plena Comunhão Convosco. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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