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Afonso Maria Antônio João Francisco Cosme Damião Miguel Ângelo Gaspar de Ligório nasceu em 1696, na aldeia de Marianella, cidade de Nápoles, Itália. Destes 11 nomes, Afonso era uma homenagem ao avô e ao trisavô; Antônio, João, Francisco e Gaspar homenageavam outros antepassados paternos; Cosme e Damião e Miguel Ângelo em função dos santos celebrados na proximidade de seu nascimento; e Maria por causa de Nossa Senhora, no sábado (dia tradicional da Santíssima Virgem) do seu batismo, dois dias após o seu nascimento.
Primogênito de família cristã, rica, nobre e numerosa, teve do pai o empenho na sua formação acadêmica e científica – ciências humanas, línguas clássicas e modernas, pintura, música – e da mãe a educação na Fé. Quando ainda criança, o futuro São Francisco Jerônimo, ao abençoá-lo, profetizou: “Este menino viverá muito, muito; não morrerá antes dos 90 anos; será bispo e fará grandes coisas por Jesus Cristo”.
Participou desde pequeno de confrarias, grupos pastorais voltados para o crescimento espiritual. Aos 12 anos inicia a faculdade de direito, doutorando-se aos 17 em Direito Civil e Canônico. Neste mesmo dia, 21 de janeiro de 1713, fez o voto público de defender a verdade da Imaculada da Conceição de Maria: ““Eu, Afonso Maria de Ligório, humilde servo de Maria Sempre Virgem, Mãe de Deus, prostrado aos pés da Divina Majestade (…) proclamo firmemente com a boca que Vós (...) fostes objeto por parte do Todo Poderoso Deus, de um privilégio absolutamente único: Vós fostes inteiramente preservada da mancha do Pecado Original, desde o primeiro instante de Vossa concepção, ou seja, a partir do momento da união do Vosso corpo com a Vossa alma (…)”.
Trabalhou como advogado no Fórum de Nápoles, onde atendia a todos, mas dava preferência àqueles que não tinham como pagar. Em dez anos, desenvolveu uma carreira brilhante, sem perder uma única causa. Porém num caso de grande repercussão social, por motivo de um juiz corrupto sob influência política, foi injustiçado e perdeu a causa, o que o levou, desiludido, a abandonar a advocacia: "Ó mundo falaz, agora eu te conheço! Adeus tribunais!"
Decidiu-se então pela vida religiosa, apesar da inicial oposição do pai, que contudo, ao ver a alegria com que ele renunciou à herança e aos títulos de nobreza, aceitou sua vontade. Estudou Teologia e foi ordenado em 1726, aos 30 anos de idade. Dedicou-se à pregação e à orientação dos fiéis, especialmente no confessionário, e ao cuidado dos mais necessitados. Fundou as “Capelas da Tarde”, centros dirigidos por leigos para a oração, proclamação da Palavra de Deus, atividades sociais, educação e vida comunitária.
Por volta de 1729, num período de necessário descanso, viaja para Scala, uma região montanhosa, aonde conhece a realidade da pobreza material e espiritual da população do interior. Conheceu também a futura beata irmã Maria Celeste Crostarosa, ajudando-a na fundação de uma nova congregação de irmãs contemplativas, a Ordem do Santíssimo Redentor, em 1731. E ela mesma lhe diz que o “Senhor queria que ele deixasse Nápoles e viesse para Scala para fundar a congregação dos homens para a evangelização”.
De fato, ele se muda para lá, e sob a inspiração divina (a Virgem Santíssima lhe apareceu muitas vezes, orientando-o), fundou em 1732 a Congregação do Santíssimo Redentor, ou dos Padres Redentoristas, destinada, exclusivamente, à pregação aos pobres, às regiões de população abandonada, sob a forma de missões e retiros. Passou a viajar por quase toda a região sul da Itália pregando a Palavra de Deus e a devoção a Maria e escrevendo sobre temas ascéticos e teológicos. As casas da Congregação foram construídas em locais que permitissem o fácil acesso do povo, bem como o dos padres à população.
Seus primeiros congregados, em desacordo, o abondaram, mas posteriormente outras vocações surgiram, incluindo por exemplo São Geraldo e o Beato Sarnelli.
Três são as particularidades da atividade de Santo Afonso. Em primeiro lugar, a sua devoção à Imaculada Conceição, que desde o século IV era refletido e rezado: 140 anos antes da proclamação deste Dogma Mariano pela Igreja (em 1854), ele o defendeu e divulgou, inclusive através do voto pessoal citado acima. Também a sua produção literária, destacando-se suas contribuições para a Teologia Moral.
São 123 obras traduzidas em pelo menos 72 línguas, e acessíveis à população em geral, formando na piedade não apenas as pessoas já cultas. Seus livros mais conhecidos são “Tratado sobre a Oração”, “A Prática de Amar a Jesus Cristo”, “As Glórias de Maria”, “Visitas ao Santíssimo Sacramento” e “Teologia Moral”. Por fim, músico e pintor, usou destas formas de arte na evangelização com enorme sucesso. Compôs músicas ainda tradicionais na Itália, como “Dueto da Paixão” e Tu Scendi dalle Stelle – “Tu Desces das Estrelas”, esta uma canção natalina, e numerosos hinos.
Afonso foi ordenado bispo de Santa Ágata dos Godos em 1762, aos 66 anos, por obediência, já que se entendia demasiado idoso e doente para o cargo. Mas por 13 anos dedicou-se à renovação dos sacerdotes e do seminário, das paróquias e do povo. Dizia que o dinheiro da diocese era para os pobres, sendo o bispo um administrador; chegou a dar auxílios mensais para moças, de modo a que não se prostituíssem por causa da pobreza. Numa situação de falta de alimentos, empenhou os bens da diocese para comprá-los e distribuí-los à população. Já como bispo, renovou sua consagração à Imaculada Conceição: “Minha Imaculada Senhora (…) juro defender este grande privilégio de Vossa Imaculada Conceição, e juro dar, se for preciso, a minha vida também”.
Em 1775, sofrendo muito com artrite degenerativa deformante, já paralítico e quase cego, teve a permissão de deixar o bispado, e foi residir no convento redentorista de Nocera dei Pagani em Salerno, onde ainda completou sua obra literária. Faleceu ali em 1 de agosto de 1787, com 91 anos.
Nesta época, já eram 72 as “Capelas da Tarde” por ele fundadas, com mais de 10 mil participantes ativos. E atualmente são mais de 5.500 redentoristas. Santo, historiador, apologeta, pregador, poeta e grande músico, foi proclamado Doutor (Zelosíssimo) da Igreja e Patrono dos Confessores e dos Teólogos de Teologia Moral.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
“Afonso” significa “apto para a nobreza” e “pronto para a luta”. Certamente Santo Afonso Maria de Ligório vivenciou a nobreza da alma e lutou o “bom combate” (cf. 2Tm 4,7-8), mas todos nós somos “aptos” e “prontos” para fazer o mesmo, pelas graças de Deus e pelo Batismo e demais Sacramentos. É da natureza humana, feita à imagem e semelhança de Deus, a prontidão para assumirmos a nossa nobreza espiritual e assim estarmos aptos para a luta pela santidade. Devemos porém desejar e escolher o que já temos na nossa própria constituição pessoal. Para isso, muitas vezes será preciso tirarmos um “período de necessário descanso” das agitações do mundo, buscando no silêncio, na oração e sobretudo junto a Nossa Senhora a compreensão do que Deus deseja que seja a nossa obra, a nossa “fundação” dentro da ordem que ele estabeleceu. Que não sejamos como os congregados, os chamados pelo Senhor – e estes somos todo nós – que, “em desacordo, O abondaram”, o que é sempre negarmos também a nós mesmos, ao que verdadeiramente somos e para Quem (não “o quê”) existimos. Como bispo, Santo Afonso tinha evidente a noção correta de que o clero está a serviço dos homens, seguindo o exemplo e o carisma que o próprio Cristo lhes deu: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Eu vos dei um exemplo, para que vós também façais como Eu fiz” (Jo 13, 14-15). Em contrapartida, assim como ao Cristo, devemos amar aqueles que o Pai nos deu como o Seu Filho, mestres e servidores na mesma pessoa, cumprindo assim a nossa parte de lhes lavarmos também os pés. Atualmente, em dias de crise, rezemos e façamos penitência para que todos os consagrados, em especial os ministros dos Sacramentos e autoridades eclesiásticas, usem da verdadeira arte da evangelização, na fidelidade a Jesus, para levar a redenção, a salvação, como verdadeiros redentoristas, aos mais necessitados, nós os pecadores.
Oração:
Senhor Deus, que nos destes o Vosso Primogênito da rica, nobre e numerosa família cristã que fundastes, concedei-nos pela intercessão de Santo Afonso Maria de Ligório advogar, como ele, pelos Vossos interesses, e não para a corrupção do mundo que leva a perder a causa da nossa existência, de modo a que possamos igualmente cantar com ele as glórias Vossas e de Maria no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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