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Caetano nasceu no ano de 1480 em Vicência, cidade da então República de Veneza, na Itália. Era um dos três filhos do Conde de Tiene, um católico exemplar. Foi consagrado a Nossa Senhora logo após o batismo, e cresceu num ambiente nobre e profundamente religioso.
Estudou Direito e Teologia na Universidade de Pádua, onde ficou conhecido pela modéstia e temperança, evitando as companhias libertinas. Doutorou-se com 24 anos, e entre 1504-1505 recebeu a tonsura eclesiástica, mas não o sacerdócio, por se achar indigno; neste ínterim, fundou uma igreja dedicada a Santa Maria Madalena (existente até hoje) numa propriedade da família em Rampazzo.
Em 1506, em Roma, trabalhou como secretário particular do Papa Júlio II, sendo também protonotário (título para um oficial, não bispo, hierarquicamente superior da Cúria Romana, responsável pela elaboração de documentos). Como redator de cartas apostólicas, fez contato e conviveu com cardeais famosos. O povo o apelidara de “padre santo”.
Contudo a situação de Roma, incluindo a de boa parte do clero, em pleno período do “esplendor” renascentista, era de imoralidade e falta de santidade – “(…) tornou-se uma Babilônia”, nas palavras de Caetano. Os interesses estavam na política, na frivolidade, nos prazeres, no fausto, na corrupção, enfim, no profano, o que mereceu as críticas de Lutero (e que este usou como pretexto para, ao invés de buscar a santidade como São Caetano, propor a heresia protestante). Ao contrário, Caetano decidiu buscar a reforma de vida e costumes dentro da Igreja, mas sem dividi-la: diante das críticas, Caetano dizia: “A primeira coisa que se deve fazer para reformar a Igreja é reformar-se a si mesmo”.
Assim, junto com alguns outros, organizou uma irmandade, ainda leiga, para fomentar a vida cristã em si mesmos e na sociedade, chamada Companhia ou Oratório do Amor Divino. A proposta era “combater a influência paganizante do Renascimento” e “reacender o fogo do amor de Deus nos corações, e impedir que a heresia, a libertinagem, o amor aos prazeres e a paixão dos interesses não o banissem”, a partir do estudo e vivência prática das Escrituras. São Caetano entregou-se inteiramente ao Oratório, e o seu exemplo de vida santa começou a evidenciar aos próprios católicos como era possível – e necessário – levar uma vida nos moldes do Evangelho.
Durante uma estadia em Vicêncio, por ocasião da morte de sua mãe, Caetano ingressou também no Oratório de São Jerônimo, cujos fins eram os mesmos da Confraria do Amor Divino.
Após muito tempo de reflexão, em 1516, Caetano decidiu ordenar-se sacerdote, aos 36 anos. Seu amor e respeito pela Santa Missa o levaram a se preparar durante três meses para celebrá-la pela primeira vez, na basílica de Santa Maria Maior. A partir de então, celebrava o Santo Sacrifício diariamente, o que não era feito pela maior parte do clero na época. São Caetano estabeleceu a bênção com o Santíssimo Sacramento e promoveu a Comunhão frequente: “Não estarei satisfeito até que veja os cristãos se aproximarem do banquete celestial com simplicidade de crianças famintas e alegres, e não cheios de medo e falsa vergonha”.
No Natal de 1517, rezando junto à relíquia do Presépio venerada na basílica de Santa Maria Maior, Nossa Senhora, acompanhada de São José e São Jerônimo, apareceu-lhe com o Menino Jesus recém-nascido nos braços e O colocou nos braços de Caetano, fato que se repetiu nas festas da Circuncisão e da Epifania, como ele mesmo escreve numa carta de 1528. Por isso São Caetano é sempre representado com o Menino Jesus nos braços.
Em 1520 Caetano foi para Veneza, onde colaborou na fundação do Hospital dos Incuráveis. Voltando para Roma, fundou em 1524 a Ordem dos Clérigos Regulares (Teatinos), junto com companheiros do Oratório, Bonifácio Colli, Paulo Consiglieri e João Pedro Carafa, bispo de Chiete (e depois Papa Paulo IV). A ideia era uma continuação dos objetivos do próprio Oratório, mas agora também no âmbito clerical, isto é, a reforma do clero para combater os efeitos paganizantes do renascentismo: com modelo nos Apóstolos, renovar a vida espiritual e a pregação da Doutrina, pois “(…) o nó do problema estava no clero, contagiado em grandes setores pela cobiça, a frivolidade e a imoralidade do Renascimento”. Essa foi a primeira ordem religiosa da Reforma Católica em resposta à crise religiosa da Europa no século XVI.
Os Teatinos deveriam ter tal confiança na Divina Providência, que não poderiam nem mesmo pedir esmolas, mas esperar que elas fossem dadas espontaneamente. O papa Clemente VII aprovou a congregação, e imediatamente Caetano renunciou a todos os seus bens para dedicar-se única e exclusivamente à vida comum. O mesmo ocorreu com o bispo Carafa, o primeiro superior geral, que abdicou também da sua vida e privilégios episcopais. Em pouco tempo, o número de congregados aumentou significativamente.
Os Teatinos não são monges, pois têm vida ativa e não contemplativa, mas obedecem a uma regra de vida comum como os religiosos, e renunciam a todos os seus bens terrenos, devendo viver de seu trabalho apostólico e de ofertas espontâneas dadas pelos fiéis (nunca de rendas fixas ou mendicância). Os alimentos recebidos e não consumidos no mesmo dia eram doados aos pobres, pois Deus supriria o necessário para o dia seguinte. Repartindo todos os seus bens entre os mais pobres, muitas vezes ficavam sem ter comida. Certa ocasião São Caetano, batendo na porta do Sacrário, disse confiante ao Senhor: “Jesus amado, lembro-Te que hoje não temos nada para comer”. Logo após, alguns homens, que não quiseram dizer de onde vinham, chegaram com mantimentos.
Em 1527 o Condestável de Bourbon, com um exército de 30 mil soldados composto por luteranos e assalariados sem princípios, saqueou a cidade de Roma. Caetano foi preso e torturado, mas sobreviveu. Os Teatinos, depois de muitos sofrimentos, tiveram que ir para Veneza, onde, além de obras de misericórdia, efetuaram a reforma do Missal e do Breviário romanos que o Papa lhes havia encomendado. São Caetano promoveu com extraordinário zelo a magnificência do culto litúrgico, a santidade e o decoro dos templos.
Ele nunca deixou de combater a heresia protestante, que se infiltrava também entre a aristocracia e intelectualidade de Nápoles, aonde esteve: denunciou ao Santo Ofício três pregadores que se tornaram luteranos; fundou ou reformou vários mosteiros locais; e estabeleceu para os operários dessa cidade um Monte de Piedade, que se tornou o atual Banco de Nápoles. Enfim, por onde esteve Caetano pregou e viveu a máxima evangélica que se tornou o lema da sua Ordem: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33).
Em 1547 o vice-rei de Nápoles, D. Pedro de Toledo, decidiu estabelecer ali o Tribunal da Inquisição nos moldes do espanhol. Isto gerou uma revolta da nobreza e do povo e consequente guerra civil. Caetano inutilmente buscou a conciliação, e desgostoso com as ofensas a Deus nos tumultos populares e a rejeição ao Concílio de Trento (1545-1563), adoeceu. Os médicos aconselharam que colocasse um colchão sobre as tábuas onde dormia, mas ele respondeu: “Meu salvador morreu na cruz; deixe-me pois morrer também sobre um madeiro”. Faleceu em 7 de agosto de 1547. Sua bula de canonização diz que neste mesmo dia cessaram todas as revoltas populares, segundo se crê por sua intercessão.
Por causa disso São Caetano é conhecido como pacificador dos tumultos populares, bem como “caçador das almas” pelo seu zelo evangélico, e também invocado como Pai de Providência, por sua eficaz intercessão aos dons da Providência Divina. Foi verdadeiro Apóstolo da autêntica Reforma Católica.
No Brasil, São Caetano de Tiene já foi muito popular, com várias cidades, igrejas, capelas e ruas nomeadas em sua honra por todo o território nacional.
Reflexão:
A busca da santidade e o combate aos enganos do mundo são o trabalho normal e permanente dos católicos, individualmente e como Igreja. Assim será até o final dos tempos, mas sem dúvida há momentos melhores e piores neste combate, ao longo da História. Neste processo, há também, em termos gerais, uma proporção entre a gravidade dos erros e o entendimento e conhecimento de Jesus e da Sua Doutrina; porém, de forma absoluta, a gravidade do pecado é cada vez maior, na medida mesma em que o ensinamento do Senhor fica cada vez mais claro. As desculpas de ignorância e dificuldade de comunicação para divulgar a Boa Nova tornam-se cada vez menos consistentes; e portanto as medidas para desfigurar a mensagem de Cristo ou tentar suprimi-la ficam cada vez mais maliciosas, com mais culpa. De fato, se os cismas e heresias como as de Lutero e outros prejudicaram imensamente as almas, ao propor uma “nova igreja” externa ao Corpo Místico de Jesus, a tendência atual é ainda pior, a de apresentar pelo mesmo nome de Católica uma Igreja “nova” criada pelo homem à sua própria imagem e semelhança, deturpando com inteligência infernal o sentido das Sagradas Escrituras, da Tradição e do Magistério, e buscando um pretenso “paraíso terrestre” de cunho material. O caso mais grave é o da chamada “teologia da libertação”, impregnada da ideologia política marxista e ateia. É o grande desafio da verdadeira Fé nos nossos tempos, tão grave que Nossa Senhora pessoalmente a denunciou em Fátima, Portugal, em 1917, com toda a clareza. O exemplo de São Caetano também é muito claro. Ele dizia que "Cristo espera e ninguém se mexe", e por isso demonstrou na prática que a reforma da sociedade deve ser iniciada em cada indivíduo, particularmente, e não a partir de “reformadores não-reformados”, lobos em pele de cordeiro denunciados por Jesus (cf. Mt 7,15-20). Por isso dedicou-se a uma vida santa, centrada no amor a Deus, através da oração e estudo, cujos frutos se manifestaram por exemplo no seu cuidado com a Eucaristia, a Santa Missa, a Liturgia: comunhão frequente, Missa diária, zelo imenso pelo culto litúrgico, respeito e decoro nas e das igrejas. Realidades bem diferentes dos frutos com ênfase no político, no profano, no sincretismo ofensivo a Deus, que O tenta rebaixar à paridade com falsos deuses, por “respeito humano”. Infelizmente, também hoje, como disse São Caetano, “o nó do problema está no clero”, muito infiltrado de erros. Mas sem dúvida a reforma dos fiéis deve começar pela reforma do clero: se Cristo não fosse santo, como o seriam os Apóstolos? Se os Apóstolos não fossem santos, como o seriam os discípulos? O exemplo de santidade, na ordem natural, tem que vir de cima para baixo; as exceções são a resposta de Deus, pelo menos em parte, aos erros e mediocridade humanos. Estas duras realidades não implicam – jamais! – no julgamento da alma alheia, e na acusação indiscriminada do clero, cujo tem o direito, por vontade do próprio Cristo, de ser honrado, respeitado e obedecido, e foco do amor e incessantes orações dos fiéis. A necessidade está em ter sempre na alma, de forma absolutamente sincera e honesta, e com o maior conhecimento de causa possível com a ajuda da graça de Deus, a orientação de São Pedro: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5,29). O exemplo virtuoso de São Caetano é justamente a humildade de observar muito bem antes de reprovar o mal alheio (e portanto suas reprovações tiveram todo o crédito). A consequência prática desta sua diretiva foi a confiança total em Deus, inclusive para a subsistência, e seu conselho numa carta: “esqueça-se completamente de si e busque no próximo somente a face de Jesus Crucificado”. Este caminho, de estar a braços com o Menino Jesus, só o percorremos com Maria, do colo de Quem recebemos o Salvador...
Oração:
Senhor Deus, eternamente providente e caridoso, que querei antes a conversão que a morte do pecador, concedei-nos pela intercessão e exemplo de São Caetano de Tiene a honesta busca pela Verdade, que sois Vós mesmo, sem nunca desanimar na reforma das nossas próprias almas, em e com Maria “buscando em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, de modo a que tudo o mais nos seja dado por acréscimo”. E especialmente, tende misericórdia da Vossa Igreja, sobretudo o clero, atualmente tão atacados pela malícia do demônio, para que Vos seja fiel, pelo bem de todas as almas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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