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São Bernardo de Claraval

Bernardo nasceu em 1090 no Castelo de Fontaine, próximo a Dijon na região de Borgonha, França. Seu pai era um nobre e sua mãe, Aleth de Monthbard, é venerada como Bem-Aventurada. Terceiro de sete irmãos, destacou-se pela inteligência, frequentado a escola canônica desde os nove anos, onde sobressaiu particularmente na área de Literatura.

Em 1112 entrou para a abadia de Cister, fundada por São Roberto de Molesme na Borgonha, com 22 anos. Sua decisão levou mais de 30 homens, incluindo irmãos, tios e vários amigos a também se consagrarem no mesmo mosteiro, sob o abade Santo Estevão Harding. A esposa do irmão primogênito também se fez monja. Dedicava-se à oração e à catequese, possuindo o dom da oratória, e sua influência era tanta que as mães e esposas procuravam afastar dele os filhos e maridos.

Com o aumento das vocações, foi necessária a fundação de novos mosteiros. Bernardo seguiu em 1115 com 12 irmãos para erguer no vale de Iangres a abadia de Claraval (“Vale Claro”) e se tornar o seu primeiro abade, com apenas 25 anos. A regra beneditina era adotada com todo o rigor, amor e integridade, oração e trabalho sob a obediência absoluta ao abade, e por seus méritos de santidade o mosteiro se tornou conhecido na França e posteriormente na Europa pela humildade, caridade e profunda cultura. O mosteiro chegou a ter 700 monges, entre os quais o irmão do Rei Luís Vll Henrique de França, mais tarde bispo e arcebispo de Reims. Outros 78 mosteiros foram fundados por Bernardo na França e na Europa, ao longo do tempo.

Participou do Concílio de Troyes (1129, quando obteve o reconhecimento da Ordem do Templo, os Templários, cujos estatutos ele mesmo escreveu), do Segundo Concílio de Latrão (1139) e do Concílio de Reims (1148), sempre a pedido do Papa, e também a seu pedido pregou em prol da realização da Segunda Cruzada (1147-1149).

A eleição do legítimo Papa Inocêncio II (1130-1143) necessitou do auxílio de São Bernardo, pelas orações e argumentações, contra as pretensões do antipapa Anacleto II, bispo da Gasconha, apoiado por um nobre influente. Apesar dos seus esforços, o cisma ainda durou oito anos. Por fim, admoestado por Bernardo, o nobre se arrependeu e se converteu, vindo a ser religioso, mas o bispo cismático morreu orgulhosamente no erro, sozinho, sem confissão e sem o Viático (Eucaristia para os que estão moribundos).

Famoso ficou o debate entre Bernardo e Abelardo. Este, um importante filósofo, teólogo e lógico francês, defendeu ideias por demais racionalistas, e seu tratado sobre a Santíssima Trindade foi considerado herético em 1121, pois reduzia a Fé a uma mera opinião, à parte da Verdade Revelada. Além disso, insistia no subjetivismo da intenção pessoal como critério único para determinar a bondade ou malícia de um ato moral, descartando o significado objetivo do valor moral das ações. Bernardo o encontrou em 1141, e por fim Abelardo morreu em comunhão com a Igreja, arrependendo-se dos seus erros.

Bernardo também teve que combater a heresia de Pedro de Bruys e de seu seguidor Henrique de Lausanne, que negava o batismo das crianças e a existência do Pecado Original, entre outros aspectos da doutrina Católica. Em 1145 foi ao sul da França, onde sua atuação praticamente acabou de vez com os hereges henriquianos e pedrobrusianos (ali também pregou contra os cátaros ou albigenses). Em 1146 Bernardo, por carta, exortava aos fiéis da região para que se extinguisse definitivamente a heresia.

Reconhecido pela santidade e sabedoria, Bernardo foi respeitado em todo o continente europeu e convidado a opinar sobre assuntos públicos, aconselhando Papas e reis, e defendendo os direitos da Igreja contra o abuso dos nobres. Ficou conhecido como Pai dos fiéis, Coluna da Igreja, Apoio da Santa Sé, Anjo Tutelar do Povo de Deus.

Era extremamente devoto de Nossa Senhora. Suas palavras na catedral de Spira, Alemanha, ajoelhado diante da Sua imagem, foram fixadas no final da oração da Salve Rainha: “Ó Clemente, ó Piedosa, ó Doce Virgem Maria!”. Seu pensamento mariológico tinham por temas centrais a explicação da Virgindade Perpétua de Maria, Sua função como Medianeira de todos os dons e graças da Salvação, e como os fiéis deviam invocá-La.

A sua grande e profunda obra escrita inclui estes temas marianos e muitos outros, sobre Teologia, Doutrina, biografia. Os títulos mais conhecidos são, talvez, “Tratado Sobre o Amor de Deus”, “Opúsculo Sobre o Livre-Arbítrio”, “Sermões Sobre o Cântico dos Cânticos”, “Tratado da Consciência ou do Conhecimento de Si” e “As Heresias de Pedro Abelardo”. Para Maria Santíssima, compôs a letra e a música do hino Ave Maris Stella.

São Bernardo faleceu no dia 20 de agosto de 1153, aos 63 anos de idade. Aos monges que rezavam por sua vida, disse, um pouco antes: “Por que desejais reter aqui um homem tão miserável? Usai da misericórdia para comigo e deixai-me ir para Deus”.

São Bernardo foi eminente pregador, prior, abade, polemista, diplomata, polemista, teólogo, pacificador, escritor, conselheiro de Papas, bispos e reis. É considerado o segundo fundador da Ordem Cisterciense (ordem beneditina reformada por São Roberto de Molesme em 1098), pelo zelo na sua vivência e fundação de muitos mosteiros; atualmente, os cistercienses estão nos cinco continentes, havendo no Brasil inclusive uma cidade chamada Claraval, surgida a partir de um mosteiro, no Estado de Minas Gerais. Também parece certa a sua influência na independência de Portugal, que traria a Fé para o Brasil: por sua mediação direta, ou da sua abadia, o Papa Alexandre III teria enviado um legado à Península Ibérica reconhecendo, ao menos, o título de duque a dom Afonso Henriques e a submissão do novo país à Santa Sé em 1179.

 É Doutor da Igreja por suas pregações e escritos: "Doctor Mellifluus" (Doutor com voz de Mel), e considerado pelo Papa Pio XII como “o último dos Padres da Igreja, e não o menor” (Os “Padres da Igreja”, ou Santos Padres, Pais Apostólicos, Pais da Igreja, são os grandes católicos dos oito primeiros séculos depois de Cristo, na maioria bispos, cujos trabalhos servem de base doutrinária pela lucidez e correção dos seus ensinamentos).

Colaboração: José Duarte de Barros Filho



Reflexão:

Bernard, ad quid veniste? (“Bernardo, a que vieste?”), perguntava-se um jovem Bernardo na francesa Borgonha do século XI. Qual o sentido da nossa existência? Os católicos o sabem, porque Jesus no-lo ensinou. Não há espaço para o ressurgente subjetivismo proposto por Abelardo, naquele século, e que tanta tristeza causa às pessoas. A cultura do relativismo ético já foi substituído, há muito, pela Verdade serena da Salvação, na qual temos a paz, e na qual, felizmente, morreu reconciliado Abelardo. Mas, para alcançar esta paz, vale o antigo ditado romano: Si vis pacem, para bellum, “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Na eficaz devoção a Nossa Senhora, encontraremos como São Bernardo os necessários elementos de Fé, Esperança e Caridade que ele tão brilhantemente desenvolveu por escrito e pregou convincentemente, para vencer cismas, heresias e perseguições abusivas de muitos que se acham “nobres” o suficiente para querer “mudar” a Igreja de Cristo, Quem, como Deus, é imutável no Seu ser e nas Suas obras, perfeitas… Fomos chamados a esta vida pelo Senhor, para sermos felizes, embora a felicidade plena nos esteja reservada somente no Céu; saboreemos então no caminho para lá o mel da Santa Doutrina que São Bernardo nos transmitiu, no aconchego da nossa clemente, piedosa e doce Sempre Virgem Maria, Porta do Céu, e de mãos dadas com Ela estaremos seguros e não erraremos a direção.

Oração:

Senhor, que nos fizestes para Vós e para a alegria infinita, concedei-nos por intercessão de São Bernardo de Claraval ouvir e viver os ensinamentos da Vossa Igreja, fazendo das nossas almas como que vales clareados pela graça e pela proximidade de Maria Santíssima, e assim podermos efetivamente contribuir com as atuais e necessárias cruzadas pela Fé, no desejo firme de ir para Deus. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

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