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Vaik nasceu por volta de 969 na região da Panônia, oeste da atual Hungria, filho primogênito do duque Geza, cuja esposa era uma princesa cristã; por isso seus filhos tiveram a permissão de serem educados na Fé católica. Com dez anos Vaik foi batizado ao mesmo tempo que o pai, que se convertera, e recebeu o nome de Estêvão.
Tornou-se rei em 997, propondo-se a seguir o projeto do falecido pai de unir seu povo numa única nação cristã; uma tarefa nada simples, dadas as origens e características dos húngaros.
No século V, Átila, rei dos hunos e autodenominado “Flagelo de Deus”, invadiu da Ásia o Império Romano com inaudito furor, com o processo de arruinar totalmente qualquer cidade por onde passava. Foi derrotado finalmente pelos reis da Alemanha e da França, mas sua ferocidade foi herdada pelos habitantes da Panônia, conhecidos como magiares, e ainda no século IX os cristãos das terras vizinhas rezavam: “A sagittis hungarorum, libera nos Domine – Das flechas dos húngaros, livrai-nos, Senhor”. Nos fins do século X, com a conversão de Geza, mais de cinco mil súditos lhe seguiram o exemplo, abrindo um grande campo de evangelização, mas as raízes pagãs dos magiares confundiam-se com as igualmente arraigadas tradições da família real, e o duque não se empenhou o suficiente para uma mudança maior.
Estêvão, ao contrário, dispôs-se a alcançar este objetivo. No dia da sua coroação, foi realizada a cerimônia magiar na qual ele brandiu a espada para os quatro lados, comprometendo-se a defender o país em toda a sua extensão; também o Sinal da Cruz aponta para quatro lados...
Casou-se com a princesa Gisela, culta e piedosa, irmã de Henrique da Baviera, o futuro imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Ambos seriam também canonizados. Junto à esposa, Estêvão praticou inúmeras obras de caridade, tanto materiais quanto espirituais. Fundou creches, asilos e hospitais, voltados principalmente para a população pobre.
A muitos deles fazia questão de tratar pessoal e humildemente, tendo adquirido o dom da cura. Promoveu a construção de mosteiros por todo o país, sabendo ser este o melhor meio para divulgar e estabelecer a Fé: o exemplo e as orações monacais atraem as graças divinas. Para isto teve a ajuda de Santo Adalberto, bispo de Praga e seu orientador espiritual e conselheiro (o qual antes havia batizado e orientado seu pai Geza), que chamou os beneditinos do mosteiro de Cluny na Fança, famoso por sua santidade, para esta missão. Mas Estêvão também viajava pelo país, com uma cruz na mão, ele mesmo pregando o Evangelho.
Outra medida foi a elaboração de leis e constituições do Estado, baseadas nos Dez Mandamentos: ele sabia que não há lei mais perfeita que a Deus, e que sob ela devem viver os homens e as nações. Ficaram assim claramente estabelecidos os direitos e deveres do clero e da nobreza, à qual não podiam pertencer os que recusassem o Catolicismo. Havia punições originais para a violação dos preceitos divinos; por exemplo, quem trabalhasse no domingo, o dia do Senhor, lavrando a terra, teria seus bois confiscados, abatidos e distribuída sua carne entre os habitantes da aldeia.
Estêvão foi igualmente enérgico com a espada, quando necessário. Um parente revoltoso, Koppány, pretendendo ter direito ao trono, lhe declarou guerra, e o jovem rei o combateu com seu exército. Foi sagrado cavaleiro no acampamento diante do inimigo, contra o qual avançou sob as invocações de “Por Deus, pela Fé!”. Duas horas durou a batalha até a morte de Koppány e a vitória, sendo concedido um generoso perdão a todos os revoltosos que aceitassem o Batismo.
Porém as principais conquistas de Estêvão foram através da diplomacia. Sábio estadista, conseguiu unificar as 39 tribos magiares originais, hostis também entre si, formando o povo húngaro. Do mesmo modo, consolidou boas relações com os países vizinhos, assegurando as fronteiras, e conseguiu manter um bom vínculo com o imperador bizantino. Como resultado, a nação húngara prosperou e se tornou fervorosamente católica.
Mas Estêvão desejava que a Hungria fosse incluída oficialmente na lista das monarquias europeias, e para isso pediu a ajuda do seu cunhado Santo Henrique, de modo a organizar uma embaixada ao Papa Silvestre II solicitando este privilégio. A resposta pontifícia foi: “Graças sejam dadas a Deus Pai e a Jesus Cristo Nosso Senhor, que em nossos dias encontrou um novo Davi, o filho de Geza, homem segundo Seu coração. (...)nós vos concedemos de bom grado tudo o que nos pedistes (…)”. (carta de 27 de março do ano 1000).
Como presentes, o papa enviou uma cruz e a Santa Coroa, doravante sempre venerada no país, e Estêvão e Gisela foram coroados em Esztergom no Natal do ano 1000. Receberam o título de Suas Majestades Apostólicas, significando que a obra evangelizadora desses governantes é comparável ao empenho dos Apóstolos.
O monge Astric, enviado na embaixada à Roma, foi sagrado bispo para poder então consagrar outros bispos húngaros, surgindo uma hierarquia eclesiástica autônoma para o país. Desta forma foi possível a criação de dez dioceses e a fundação de muitas abadias, segundo o plano de sedimentar a fé católica na Hungria.
Poucos dias após a coroação, Estêvão consagrou o país à Nossa Senhora, Grande Senhora da Hungria. Antecedia assim em séculos a ideia de São Luís Maria Grignion de Montfort, de tudo colocar sob o domínio e a proteção da Virgem.
Outra iluminada providência de Estêvão foi a preparação do seu herdeiro, Emeric, para dar continuidade à fidelidade à Igreja. Escreveu para ele várias orientações, como as dez colunas de um reino perfeito: a solidez da fé, o esplendor da Igreja, a pureza e sabedoria dos eclesiásticos, a fidelidade e fortaleza dos barões e cavaleiros, a generosidade com os estrangeiros, a reta administração da justiça, a lúcida organização do Conselho, o respeito às tradições, o auxílio da oração e a piedade e misericórdia. Igualmente lhe recomendava um amor de mãe para com os súditos:
“Sê paciente com todos, não apenas com os poderosos, mas também com os pequeninos. Sê, enfim, forte para que a prosperidade não te ensoberbeça ou a adversidade não te abata. Sê também humilde para que Deus te eleve agora e no futuro. Sê, ainda, modesto, e a ninguém castigues ou condenes em excesso. Sê manso para não faltares à justiça. Sê fidalgo, de modo a jamais infligir deliberadamente um ultraje a alguém. Sê casto, para evitares, como aguilhão da morte, todo o mau cheiro da luxúria. Todas estas coisas ditas acima, reunidas, tecem a coroa real, porque sem ela ninguém consegue reinar aqui nem chegar ao Reino Eterno”.
Emeric correspondeu admiravelmente, tendo sido formado pelo santo exemplo dos pais. Aos sete anos fizera o voto de virgindade, e já nessa época manifestava o dom de discernimento do grau de fé e virtude das outras pessoas. Porém, o herdeiro, poucos dias antes de ser associado ao trono do pai, morreu subitamente, com 23 anos, um duríssimo golpe para Estêvão, que o recebeu com resignação e confiança na Providência. O santo rei sabia, contudo, que Emeric muito mais poderia fazer pelo seu povo do Céu do que governando o país durante alguns anos.
Após consolidar o Catolicismo como a única religião da Hungria e lhe assegurar as fronteiras e o bom governo, Estêvão I faleceu, em 1038, no dia da Assunção de Nossa Senhora, 15 de agosto. Seu túmulo passou a ser local de intensa peregrinação, para o pedido ou agradecimento de milagres.
Reflexão:
Santo Estêvão é um exemplo da missão inerente a todas as pessoas que têm poder, autoridade e riquezas. Sua influência é dom de Deus e deve ser orientada sempre para o bem, incluindo todos os esforços de apostolado. O santo zelo (e sabedoria) de Estevão o levou ainda a divulgar a mais importante devoção cristã, depois das relativas diretamente a Deus (ou talvez com a mesma importância…): à Maria Santíssima. Cunhou moedas com a Sua imagem, presente também nos seus estandartes reais. Antes da sua morte – nascimento para a vida celeste, no dia da Assunção de Nossa Senhora – rezou com estas palavras: “Grande Senhora, Rainha do Céu, é a Vós que eu dirijo minha última oração e confio os cuidados de minha alma. Tomai sob Vossa proteção maternal a Igreja magiar, meu país e meu querido povo!” E consagrou o país à Virgem Maria. Também o Brasil a tem por Padroeira, peçamos a Ela que nos conceda dirigentes tão santos quanto ele… A inspiração para as leis e organização administrativa de qualquer país deve ter sua base moral nos ensinamentos de Deus e da Igreja, e com extraordinária lucidez e bom senso assim determinou Estevão, estabelecendo seu reino sobre rocha firme. Realmente, não há aspecto da vida humana que não possa e deva ser submetido às orientações divinas: política, economia, educação, lazer, segurança, justiça… certamente não nos moldes de confusão da lei religiosa com a lei civil, como por exemplo no Estado Islâmico, mas sim nos subsídios de Verdade, Ordem e Bondade que só Deus pode oferecer aos homens, e que são compatíveis com qualquer sistema político-administrativo que não seja ateu: monarquia, presidencialismo, parlamentarismo, etc., de acordo com a cultura própria de cada nação. O resultado foi a união, segurança, paz e progresso, espiritual e material, da Hungria. A guerra justa existe, e é preciso combatê-la quando necessário. Estevão não se furtou a ela, mas lutou “por Deus e pela Fé” na defesa da pátria, sem estendê-la ou perseguir os opositores. Ao contrário, procurou sempre o entendimento pela diplomacia e perdoando aos bem dispostos. Unindo seu cuidado pelo país, pela Fé, pela educação e pela família, orientou sábia e santamente o seu sucessor, ainda que para ele Deus tivesse outros planos, e seus conselhos ao príncipe Emeric (que sugiro ao leitor reler com atenção, acima) são de fato os pilares de uma santa administração de Estado. Santo Estêvão foi um homem de valor excepcional, e certamente um dos melhores exemplos de um governante católico.
Oração:
Deus Pai, que a tudo governais com perfeição, concedei-nos por intercessão de Santo Estêvão da Hungria a graça de assegurarmos as fronteiras das nossas almas nas virtudes dos Vossos Mandamentos, e evangelizarmos assim o nosso meio pelo entalhe da devoção à Maria nos corações; que Ela trace sobre o nosso país o sinal protetor da Vossa Santa Cruz, o seu nome original, para que este sinal se estenda nas quatro direções e cubra todo o orbe. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e a mesma Nossa Senhora, Medianeira de todas as graças. Amém.
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