Busque por:
Camilo nasceu na vila Bucchianico, em Chieti, região de Abruzos, geograficamente no centro da Itália, no ano de 1550. Sua família era nobre e tradicional, e seus pais já muito idosos, por isso seu parto foi difícil, mas bem sucedido.
O pai, militar, passava muito tempo fora de casa, mas sua mãe, dedicada e de fé, o educou nos princípios católicos e nos bons costumes. Camilo tinha 13 anos quando ela faleceu, sendo obrigado a morar com o pai. Este não era propriamente má pessoa, mas tinha o vício do jogo, o que, além das frequentes mudanças da vida militar, tornavam a vida instável. Camilo tornou-se rebelde e passou a detestar os estudos.
Apesar das suas fraquezas, seu pai o amava e procurou ajudá-lo colocando-o como soldado no exército. O filho, com 14 anos e mal sabendo ler, fazia serviços braçais, favorecido ao menos pelo corpo atlético. Perdeu o pai aos 19 anos, tendo como herança apenas sua espada e seu punhal, e o vício do jogo; jovem, forte, violento e jogador, desenvolveu má fama, levando vida mundana e com dificuldades financeiras. Estas se agravaram quando lhe surgiu uma úlcera no pé.
Em 1570, conheceu um jovem frade franciscano que, sem medo dele como outros, dispôs-se a aproximar-se e conversar, desenvolvendo uma amizade e descobrindo até para ele mesmo os sofrimentos e bondade que havia no seu coração. Esta maravilhosa experiência o motivou a procurar também a vida franciscana, mas não foi aceito no convento por causa da grave úlcera podal. Os religiosos o encaminharam para ser atendido no hospital de São Tiago, em Roma, onde descobriu-se que o tumor não tinha cura. Para receber os possíveis cuidados paliativos, ofereceu-se como servente, pagando o tratamento com o trabalho. Mas por causa do vício no jogo, gerando dívidas e confusões, acabou despedido.
Viu-se assim sem casa, trabalho e dinheiro, com uma chaga incurável. Buscou então o emprego de servente de pedreiro junto a frades capuchinhos que começavam a construção de um convento. O contato diário com os religiosos começou a mudar seu coração. E indo para a construção Deus um dia lhe concedeu a graça de uma visão, nunca revelada a ninguém, que mudou completa e definitivamente a sua vida aos 25 anos, convertendo-o e fazendo com que abandonasse o jogo. Procurou novamente a admissão nos franciscanos, sem sucesso, mas de novo os frades conseguiram que voltasse ao hospital de São Tiago para ser cuidado.
Desta vez, não apenas empenhou-se no tratamento, mas pediu para trabalhar voluntariamente como auxiliar de enfermeiro e assistir também aos outros doentes, que entendeu deveria servir como ao Cristo chagado. Antes já havia, como soldado, testemunhado a situação de enfermos agonizantes e terminais, e na realidade do hospital procurou cuidar dos casos mais repugnantes, usualmente abandonados pelos funcionários regulares da casa. Passou a amar os enfermos como a Jesus, com dedicação total, e muitos reconheceram o seu amor cristão. Vários deles, por intermédio de Camilo, aproximaram-se do arrependimento e da Confissão, morrendo em estado de graça.
Surgiram então outros jovens que, motivados pelo seu exemplo, se dispunham ao cuidado gratuito e amoroso dos doentes. A amizade com o futuro São Filipe Néri levou a que retornasse aos estudos, com 32 anos, e à sua ordenação sacerdotal aos 34, bem como à fundação por ambos, em 1582, da Companhia dos Servidores dos Enfermos, ou Congregação dos Ministros Camilianos.
Os Camilianos, como eram simplesmente conhecidos, era inicialmente apenas uma irmandade de voluntários para assistir aos doentes pobres, miseráveis, terminais e rejeitados. Em 1591, com aprovação do Papa, a Congregação se tornou uma Ordem religiosa, a Ordem dos Padres Enfermeiros, ou Ordem dos Ministros dos Enfermos, sendo Camilo eleito superior e como tal atuando por 20 anos. Além dos votos de pobreza, castidade e obediência, havia também o da dedicação aos doentes, ainda que com risco da própria vida.
Pouco depois os camilianos serviram como a primeira unidade médica de campo, na guerra ocorrida na Hungria.
Camilo, apesar das dores no pé, ia visitar os doentes em casa, e quando preciso, dando graças a Deus pelo seu físico, os carregava nas costas para o hospital. Recebeu o dom da cura pela oração, e por isso era muito procurado. Trabalhou duramente, até não ter mais forças. Nos seus últimos sete anos de vida, já não como superior, dedicou-se a ensinar aos irmãos como cuidar e conviver com os enfermos.
Faleceu em Roma aos 14 de julho de 1614, com 64 anos, recomendando aos seus religiosos a dedicação ao apostolado dos enfermos. A úlcera no seu pé desapareceu no instante da sua morte.
Atualmente, no Brasil, a Ordem dos Camilianos está presente em muitos Estados, e no de São Paulo, na cidade de Santo André, está localizada a Paróquia São Camilo de Léllis.
São Camilo de Léllis é padroeiro dos enfermeiros, dos doentes e dos hospitais católicos, juntamente a São João de Deus, e protetor contra o vício do jogo.
Reflexão:
Do princípio da vida de São Camilo, fica a evidência de que não se deve jogar com os vícios. Um leva a outro, e o aparecimento de chagas é inevitável. E se é verdade que Deus pode tudo curar, há uma doença para a qual, nesta vida, não há operação definitiva: o nosso orgulho, para o qual temos que tomar, a vida toda, o remédio da humildade, na Eucaristia. Numa segunda fase, destaca-se a importância da atuação dos religiosos na conversão das pessoas. Particularmente a eles foi dada a unção de buscar as ovelhas desgarradas, e seu exemplo e ensinamentos são um padrão natural de comportamento humano, constantemente observado e avaliado. Mesmo por quem não é da Igreja. Sim, por serem abertamente comprometidos com uma vida de perfeição, muito se espera dos religiosos, nada menos que a santidade, e por isso devemos rezar continuamente por eles, agradecendo sua vocação e pedindo ao dono da messe que envie mais trabalhadores (cf.Lc 10,2). Mas, sem esquecer que todo ser humano é falho, é preciso o empenho sincero dos vocacionados na própria santificação, pois “A quem muito foi dado, muito será pedido. A quem muito foi confiado, dele muito será exigido” (Lc 12, 48). E a cobrança virá de Deus. Vivemos em tempos, previstos por Nossa Senhora em Fátima, Portugal, 1917, de séria crise no testemunho do clero e dos consagrados da Igreja Católica. Aumentemos nossas orações, pelo bem de todos, fiquemos atentos à Verdade, e “...quem pensa estar de pé cuide para não cair” (Lc 10,12). Numa última etapa da sua vida, a dedicação de São Camilo aos doentes fala por si mesma. São suas palavras: “Os doentes nos revelam o rosto de Deus”; “Todos peçam a Deus que lhes dê um amor de mãe para com o próximo”; “Deixe tudo nas mãos de Deus e recorra a Nossa Senhora”. Esta última citação destaca a sua preocupação também com as enfermidades da alma. De fato, no seu leito de morte, recomendou aos seus religiosos a dedicação ao apostolado dos enfermos. Um modo de entender o desaparecimento da úlcera no seu pé, até então incurável, é que, no Céu, só a perfeição entra. Antes, Camilo precisava da chaga para lembrá-lo da sua pobre condição humana, e lhe trazer méritos por suportá-la com amor. Aproveitemos este sinal visível para pensar – também, aqui, no sentido de cuidar – nas nossas feridas de alma ainda abertas, dentre as quais há de haver algumas que possam e devam ser curadas ainda nesta vida.
Oração:
Senhor Deus, Médico dos Médicos, que pelas chagas de Vosso Filho curastes as nossas, concedei-nos, pela intercessão e pelo exemplo de São Camilo de Léllis, a sua mesma caridade para com os adoentados de corpo e alma, seguindo a recomendação de continuamente preservar a dignidade humana, para alcançarmos a realização do significado plena destas suas palavras: “Tudo passa, o bem permanece”. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
Boleto
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página: